Em cena, Folias de João Pinheiro

Maria Célia Gonçalves, doutora em Sociologia, fala sobre a importância da audiência pública no Dia de Minas Gerais

Adriana Queiroz
Montes Claros
13/07/2018 às 09:12.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:23
 (CLÁUDIO BASÍLIO/DIVULGAÇÃO)

(CLÁUDIO BASÍLIO/DIVULGAÇÃO)

Uma das atrações no plenário da Câmara dos Deputados durante o “Dia de Minas Gerais”, celebrado na última quarta-feira, foi a Folia de Reis de João Pinheiro, segunda maior manifestação dessa natureza do Brasil. 

Uma das convidadas para a audiência pública em homenagem ao Estado foi Maria Célia da Silva Gonçalves, mestre em História e Doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília, Pós-doutora em História pela Universidade de Sannio (Itália), pesquisadora do Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora (CIDEHUS), de Portugal.
 
Como foi o convite para participar da audiência e a importância desse encontro?
A deputada Raquel Muniz, em visita ao município de João Pinheiro, nos encontrou trabalhando com os alunos dos cursos de História, Geografia e Pedagogia da Faculdade FINOM. Era uma oficina sobre cultura e patrimônio. Ela se encantou com a abordagem e o envolvimento do grupo de graduandos com a temática. Aí explicamos como era feita a educação patrimonial e as demais políticas municipais de registros, tombamentos, enfim, de salvaguarda do patrimônio material e imaterial do município. Na época, dei a ela de presente o meu livro sobre as Folias de Reis do município. Contamos a ela que João Pinheiro está entre as maiores manifestações em Folias de Minas Gerias e do Brasil, possuindo hoje em plena atuação 34 ternos de folia. Então ela nos convidou para participar da audiência.
 
Como você vê, nos dias atuais, essas manifestações? Você acha que continuam como antigamente, ou vêm perdendo força?
 A primeira coisa que temos que pensar é que a cultura é viva e dinâmica, está em constante transformação para se adaptar ao mundo globalizado. Mas como todo ser vivo, exige cuidados básicos para continuar existindo. O mundo rápido, dos fast foods e do tempo contado nos cronômetros certamente são dificultadores para a existência de cultuaras tradicionais, daí a importância das políticas públicas de salvaguardas. É necessário medidas de registros, tombamentos, estudos, tudo o que puder ser feito para estimular os artistas populares a continuarem com as suas manifestações religiosas/artísticas/culturais.
 
Em cada local, há particularidades, como as encenações dos reis magos, os desfiles, as danças, os repertórios, os instrumentos utilizados e as roupas. No caso da Folia de Reis de João Pinheiro, o que mais lhe chama a atenção?
Em João Pinheiro há 34 grupos de Folia de Reis em plena atuação, cada um tem letra de música e performance diferente do outro. Alguns têm presença do palhaço. Mas a grande peculiaridade é a existência de festas e peregrinações o ano inteiro. É muito fácil encontrar festas praticamente quase todos os fins de semana. Sem sombra de dúvidas é o santo mais cultuado no município. E por se tratar do maior município do Estado ainda concentra grande parte da população na zona rural, tornando esse um dos lócus principais das folias de reis.
 
Qual a importância de transformar a Folia em patrimônio imaterial?
Penso que o registro das Folias de Reis como patrimônio imaterial do Brasil irá favorecer o reconhecimento como manifestação genuinamente brasileira e importante para a construção da identidade do povo. Consequentemente, trará mais cientistas para estudos e debate. E isso são fatores primordiais para o reconhecimento nacional e até internacional, o que pode trazer algum retorno econômico em forma de turistas para cidades que possuem grande contingente dessa manifestação. Sem falar nas garantias de que gerações futuras poderão conhecer o que é celebrado hoje nesse “Brasil profundo”.

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