Documentários consagrados abordam a opressão e o preconceito

Jornal O Norte
Publicado em 05/11/2010 às 10:50.Atualizado em 15/11/2021 às 06:43.

O Cinema Comentado Cineclube e o CineSesc começam a programação do mês exibindo dois documentários que revelam, sem hesitações, as relações de poder, preconceito e opressão da sociedade brasileira. São obras consagradas e que permitem uma reflexão consistente sobre a nossa realidade.



Neste sábado, 06, tem a sessão de O Prisioneiro da Grade de Ferro (2004), documentário produzido a partir de oficinas de vídeo realizadas pelo diretor Paulo Sacramento com os presidiários e funcionários da casa de detenção de São Paulo, o Carandiru. Feito com a reunião de fragmentos captados pelos próprios presidiários, o filme escapa da mera denúncia e do didatismo para favorecer a experiência e o ponto de vista dos que vivem no cárcere.



Sacramento e sua equipe chegam ao Carandiru sem uma verdade pronta e tampouco pretendendo encontrá-la. Não há, também, nenhuma intenção de se desenhar um painel que junte as várias verdades dos presidiários. É mais uma experiência coletiva, sob a coordenação do cineasta e sua equipe, tanto que foi ele, mais a montadora Idê Lacreta, que editaram o material de 170 horas.



Neste reality show, são os presos que se expressam libertos do típico determinismo dos noticiários. O filme descobre semelhanças entre o mundo do Carandiru e o que está para além de suas muralhas: as desigualdades entre as celas coletivas e os cárceres enfeitados com televisão. As atividades corriqueiras, como lavar o chão, jogar futebol, fazer compras, passar pelo médico, sonhar pela grade do xilindró com a alegria de fogos de artifício que estouram no horizonte. Por meio da imagem, O prisioneiro da grade de ferro estrutura auto-retratos e recupera a memória do espaço e das pessoas que habitaram o Carandiru. A classificação indicativa é 16 anos.



No domingo, o CineSesc e o Cinema Comentado Cineclube apresentam Santiago (2007), de João Moreira Salles. Em 1992, o diretor planejou um filme baseado na vida do mordomo da casa de sua família. Devido à incapacidade do cineasta em editar as cenas, o longa-metragem nunca foi concluído. Em 2005, Salles voltou a trabalhar sobre o material gravado buscando compreender a razão de seu insucesso anterior. Santiago é um lento processo de desvelamento; um filme sobre identidade, a memória e a própria natureza do documentário.



Obra que mistura fantasia e realidade, a narrativa conta a história do mordomo Santiago Badariotti Merlo, que dedicou sua vida a servir a aristocracia, apesar de ser viajado, poliglota e dono de uma cultura extraordinária, mesmo vindo de origem humilde. Mais que didático, o documentário é especialmente sensível, mostrando um homem que preencheu a vida solitária com fartas doses de alta cultura. Com fotografia em preto e branco de Walter Carvalho e um belo trabalho de edição, o documentário é um mergulho nas memórias e subjetividade de seu criador (Salles) e seu objeto de estudo (Santiago).

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