Para quem não sabe, Montes Claros possui uma história de carnaval muito rica, com personagens que marcaram época e precisam ser lembrados. São histórias que ultrapassam o brilho das fantasias. Nos anos 70, quem acompanhou o carnaval de rua, sabe bem do que estamos falando.

O cabeleireiro e maquiador Emerson Cardoso, que reside atualmente em Belo Horizonte, teve participação na saudosa Vanguarda Imperial do Samba, que fez milhares de montes-clarenses irem às ruas, graças ao sonho de seu pai, o alfaiate Waldelírio Moreira, conhecido como Vavá.

- Meu pai era baiano, um apaixonado pelo carnaval. Revezávamos sempre na casa de algum integrante. Daí nasceu a Vanguarda do Samba. Depois chegou Geraldino Coelho e resolveu então colaborar conosco. Na época, minha tia Iza tinha feito uma pesquisa familiar e chegou à conclusão de que éramos descendentes da família imperial. Aí virou Vanguarda Imperial do Samba. Eu tinha 15 anos e me lembro da minha mãe, dona Lourdes Cardoso, costurando as fantasias - revela.

Daí para frente, foram muitas as viagens da família Cardoso Moreira para o Rio de Janeiro. Emerson conta que conheceram o carnavalesco Joãozinho Trinta e passaram a se interessar pela arte. Desenhavam e confeccionavam as próprias fantasias, e assim, todo ano, o carnaval no Norte de Minas tinha mais brilho.

- Comprávamos fantasias usadas das grandes escolas do Rio de Janeiro, transformávamos tudo. A escola crescia, ficava mais profissional. Trazíamos shows do Rio, as mulatas e cantores. Foi aí que mudamos para o Alto São João, uma casa com quadra e bilheteria que virou fábrica. Não posso me esquecer de dona Luluta, uma grande pessoa. Foi nessa época que me tornei estilista. Fiz muitas decorações para os bailes no Carnaval do Automóvel Clube. Também empregamos muitas pessoas - lembra.

Em 1975, Emerson Cardoso foi convidado para ir ao Rio de Janeiro, por nada mais, nada menos que Abelardo Barbosa de Medeiros, mais conhecido como Chacrinha, comunicador de rádio e televisão do Brasil, apresentador de programas de auditório de enorme sucesso das décadas de 1950 a 1980. Desfilou também na Império Serrano como destaque e sempre estava presente no carnaval de Montes Claros, na Vanguarda Imperial, com a luxuosa colaboração de Geraldino Coelho.

OUSADIA E ALEGRIA
Geraldino Coelho foi um importante nome da história do carnaval de Montes Claros. Ele faleceu em 2011 e sua filha, Valdeli Coelho, professora universitária, conta que ele era um homem muito além do seu tempo, de sonhos grandiosos para Montes Claros, embora tenha nascido em Sete lagoas e adotou Montes Claros por causa de sua esposa, Vanda Cardoso.

- Como todas as coisas que meu pai esteve à frente aqui, como diretor do CDL, no Rotary e outros que não me recordo agora, ele sempre teve ideias inovadoras. As decorações natalinas nas ruas e praças do centro eram lindas e avançadas para aquela década.  Como as ideias irreverentes daqueles tempos, veio também a ideia de atrair o turismo para Montes Claros, e daí ele decidiu criar um carnaval que lembrasse o carnaval carioca em sua pompa e sofisticação. Ele estava presente na criação da escola de samba Vanguarda Imperial, com as cores verde e branco, e, com isso, incentivou os blocos escolas já existentes na cidade, fazendo com que todas elas, de certa forma, melhorassem o visual e se tornassem mais profissionais - conta.

Valdeli foi muitas vezes ao Rio com seu pai, nos morros da Mangueira e do Salgueiro.

- Meu pai sempre foi um grande sonhador e apresentava para as pessoas um carnaval rico e luxuoso. Ele seguiu por muitos anos fazendoo Carnaval de Montes Claros com o dinheiro do seu próprio bolso. Mas em meados dos anos 80, a economia do país entrou em recessão e papai não tinha como aplicar dinheiro dos negócios para bancar o carnaval. Assim, ele se viu frustrado em suas ideias e sonhos e acabou com a escola. Com o fim, aquela competição existente na época entre os blocos e escolas, a festa foi se esvaindo até que não existiu mais carnaval de rua – lamenta.

Para Valdeli, o saldo positivo de tudo isso é que até hoje, depois de tantos anos, muita gente lembra com nostalgia daquela época de ouro.

MEMÓRIAS
Nos últimos dias, quem passou pelo Centro Cultural Hermes de Paula acompanhou a 3ª Exposição Memória da História do carnaval montes-clarense, na galeria Godofredo Guedes. Fatos e fotos da festa que iniciou nos anos 1970, quando o folclórico Leonel Beirão de Jesus fundou a primeira escola de Samba da cidade, a Estrela do Mar.

A exposição também relembra as escolas Unidos do Bonfim, Mocidade Alegria do Roxo Verde, Academia da Vila e Vanguarda Imperial, além dos blocos carnavalescos.

NOVOS TEMPOS
Depois de anos de silêncio, os tambores voltam a soar no carnaval, em Montes Claros. O diretor do Centro Cultural Hermes de Paula, João Jorge Dias Soares, diz que mesmo em crise, a criatividade não vai faltar, e os blocos estarão criativos e irreverentes.

- O bloco Império do Novo Horizonte, que tem características de escola de samba, desfilará com o enredo ‘Adão e Eva no Paraíso’. Na última ala, o bloco abordará o maior dos pecados, a corrupção – revela.

Segundo o diretor, a festa terá um forte esquema de segurança.

- Como em todos os eventos da administração municipal, a segurança está em primeiro plano- ressalta.

Além dos desfiles dos blocos carnavalescos, a festa também tem uma programação especial com bandas de marchinhas e de axé.

- Não é fácil fazer carnaval, é preciso muito amor, e certamente o resultado do Carnaval 2016 em Montes Claros vai refletir todo o cuidado e amor que a equipe da Secretaria de Cultura está investindo na preparação dessa festa, que representa um resgate histórico da cultura popular da cidade.