Crítica: O Pequeno Príncipe é um convite à amizade

Jornal O Norte
08/01/2008 às 10:42.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:22

Fabíola Cangussu


Repórter

Por que indicar um livro que chegou ao Brasil há mais de cinqüenta anos? Parei para me fazer essa pergunta quando estava decidindo o que apresentar aos leitores de O NORTE. Então lembrei da dedicatória que escrevi no livro que presenteei Maria Clara, minha sobrinha, no dia das crianças, de 2003. Transcrevo para que possamos falar sobre O Pequeno Príncipe, obra de Antoine de Saint-Exupéry: A história deste livro encantou tia Fá na infância, adolescência e continua encantando agora. Hoje, no dia das crianças, essa história começa a fazer parte de sua vida...

Agora já temos um bom motivo para falarmos do livro, que não pode nunca ser esquecido no canto da estante. Um livro que basicamente é um convite à amizade e uma declaração de amor e respeito à humanidade como um todo.

E por falar em amizade e respeito, peço licença ao leitor para agradecer a jornalista Jerúsia Arruda, titular da editoria de cultura. Pessoa generosa. Aceitou sem questionar minha qualificação e capacidade para usar este espaço nobre e escrever sobre cinema e literatura no período de suas férias. Hoje, esse espaço é dedicado aos que aceitam o próximo com generosidade, afeto e disposição de querer sempre o melhor a todos.  Antes de voltarmos à mágica história de Saint-Exupéry, faz-se necessário falar sobre o autor, piloto profissional, escritor e jornalista. Uma mistura excelente para criar histórias, mundos fantásticos que nos fazem questionar se era apenas fictício, ou se tinham toques de realidade a viagem pelo deserto.

O autor era um confesso opositor do nazismo. Quando escreveu O Pequeno Príncipe, estava exilado nos Estados Unidos, e a França ocupada pelo exército alemão. Portanto, a primeira edição do livro, e a única feita com Antoine ainda vivo. Foi em 1943 através da editora nova-iorquina Reynal & Hitchcock, que publicou as duas primeiras edições da obra, uma em francês e a outra em inglês.

Em 1944, o piloto/escritor, ou o homem/menino, contrariando ordens médicas, entrou em seu avião e partiu para uma grande viagem. Deixou o nosso planeta ao ser derrubado por um piloto alemão.

Bom, agora já podemos falar um pouco sobre a obra mais conhecida desse autor. O Pequeno Príncipe é a visão poética de Antoine de Saint-Exupéry sobre o mundo. Em sua viagem pelo deserto, ele dialoga com o lado menino sobre cada etapa de sua vida.  Quem nunca precisou refugiar num deserto interior para se reencontrar, se reavaliar? Às vezes a solidão se faz necessária para esse reencontro. No decorrer das páginas o leitor vai conhecendo a vida de Saint-Exupéry e ao mesmo tempo, correndo o risco de se reconhecer nela.

É possível nas primeiras páginas, notar o quanto se perde para o mundo a espontaneidade, a essência e até mesmo os sonhos.

Podemos acompanhar o quão difícil é a descoberta do amor, e deixá-lo ir, por pura imaturidade, por não saber valorizar e entender as diferenças entre os parceiros. Perceber que o amor exige aceitação de todas as formas é questão de aprendizagem.

No abandono de lar, o autor passar a reconhecer em cada planeta as faces humanas, como razão, vaidade, o desejo de não encarar a vida e seus problemas, buscando refúgio no álcool, o vício pelo trabalho, que impede de perceber outras necessidades, a renúncia dos questionamentos, tornando-se mecânico e não enxergando as maravilhas que podem surgir de seu esforço, e o planeta que valoriza a coragem do explorador de possibilidades.

O sétimo planeta é a terra. Conciliar os conhecimentos obtidos através das viagens aos outros planetas com a realidade da terra é o grande desafio. O deserto na África é o local de chegada do príncipe. Não por acaso, pois Antoine trabalhava na linha aérea que ligava a África ao continente Sul Americano, e Natal era uma das escala do autor.

Durante a estada na terra, o autor fala sobre a morte, sobre a beleza individual de cada ser, sobre a importância da amizade e do compromisso que temos diante desse amor que escolhemos para nossas vidas, e a possibilidade de retornar ao começo com outra lente.

Sei que neste momento muitos leitores estão querendo saber por que esse livro é considerado infantil, e a resposta estar na dedicatória do autor ao melhor amigo, que apesar de adulto, essa pessoa grande é capaz de compreender todas as coisas, até mesmo os livros de criança.

Portanto, a dica de leitura é a para todas as crianças, pois têm visão privilegiada do mundo e para os adultos que compreendem o valor da generosidade, da aceitação, do amor, do respeito total do ser tanto no trabalho, no estudo e no convívio familiar.

Uma pausa para reflexão

(...) - Por favor, cativa-me! Disse ela.

- Bem quisera disse o príncipe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.

- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. O homem não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga cativa-me! Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa.

E continuou:

- Mas tu não deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativa (...)s.

Fonte: O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry, editora Agir

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