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Quinta-Feira,14 de Novembro
A festa das festas

Cortejos religiosos trazem alegria, cores e sabores para Montes Claros

Larissa Durães e Márcia Vieira
larissa.duraes@funorte.edu.br | marciavieirayellow@yahoo.com.br
Publicado em 16/08/2024 às 19:00.

As cores dos ternos dos Catopês estão associadas aos santos aos quais são devotados (LARISSA DURÃES)

Dando sequência aos festejos da 183ª edição das Festas de Agosto de Montes Claros, na última sexta-feira (18), aconteceu o cortejo de São Benedito. Já o cortejo do Divino Espírito Santo está marcado para este sábado (19). As celebrações se encerram no domingo (20), quando as comitivas religiosas se reunirão na Praça Dr. Chaves (Matriz) para o tradicional Encontro Mineiro de Ternos de Congado. 

A tradicional celebração continua a cativar participantes e espectadores, mantendo viva a fé e o entusiasmo pelo evento centenário. Érica Fernanda Pereira de Souza, de Montes Claros, participa como observadora há cerca de 15 anos e nunca se decepcionou. “A cada ano descubro algo novo sobre a celebração, que combina religiosidade e cultura popular, refletindo a interação entre o sagrado e o profano e a união de diferentes povos, como portugueses, africanos e indígenas”, diz. 

Ela acredita que a maioria da população de Montes Claros, bem como os turistas, não compreende a dimensão dessa festa. “Quem vive o dia a dia da festa tem uma visão muito diferente de quem acompanha apenas durante os três dias principais. O evento é amplo e complexo, com muitas particularidades”, avalia. E ressalta que mesmo para os não estudiosos do assunto, conseguem se emocionar com as cores vibrantes, os sons e a música. “Trouxe minha filha de três anos para a festa e, embora ela ainda não entenda o significado profundo, a atração sensorial estimula sua curiosidade e desejo de aprender mais”, afirma. 

Fernando Estima, professor universitário em São Paulo, chegou a Montes Claros para um congresso e, como estudioso da cultura popular, decidiu ser necessário ver “in loco” essa tradição. “Não conhecia a cidade e estou estreando nas Festas de Agosto. Fui à Praça da Matriz, ao Museu Regional e acompanharei os desfiles. É muito bonito uma cidade se preparar para um evento cultural que mantém as suas tradições”, declara. 

São Benedito, cujo cortejo ocorreu nessa sexta-feira (16), tem a atenção especial de Odete Pereira de Oliveira, de 68 anos, que começou a participar ativamente da festa há três anos, após receber uma graça de São Benedito. Montes-clarense, participava como espectadora, mas após se separar do marido, que não permitia sua participação, decidiu vivenciar a festa. “É uma oportunidade de manter viva a tradição e transmitir a cultura às novas gerações, além de ser uma celebração rica em cores e que representa a diversidade do Brasil”, ressalta. 

Já Maria Lusinete de Oliveira, de 75 anos, que tem uma ligação profunda com as Festas de Agosto, passou por todos os reinados. “Já fui rainha de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e o Divino Espírito Santo”, conta. Nascida e criada em Montes Claros, mas residindo em Belo Horizonte, ela retorna anualmente à sua cidade natal, que mexe com a sua memória e coração. “A festa tem um ambiente mais familiar e alegre durante o dia, enquanto à noite é mais voltada para os adultos, mas a essência da celebração, marcada pela fé e pela tradição, permanece inalterada”. 

Cores da fé
A combinação de elementos desperta a curiosidade dos visitantes, levando-os a explorar os significados por trás de cada detalhe da celebração. Conforme o professor e antropólogo João Batista Almeida Costa, as cores dos ternos dos Catopês estão ligadas aos santos a que são dedicados. O terno de Nossa Senhora do Rosário é azul, em alusão ao manto da santa, enquanto o de São Benedito é rosa, sua cor tradicional. Os marujos usam um terno com as cores vermelho e azul, simbolizando um motim a bordo de um navio que partiu de Portugal para o Brasil, e outro terno, em branco, caracteriza os marinheiros. Já os caboclinhos representam os indígenas com suas cores vermelhas, explica o antropólogo. 

DOCUMENTÁRIO
Nathan Souza, fotógrafo, veio da cidade de São João do Paraíso para documentar o evento. O material será utilizado em um documentário produzido por Lucaz Rod, por meio da Lei Paulo Gustavo. “O que mais me surpreende é a persistência dos Catopes, Marujos e Caboclinhos em não deixar a festa morrer. Na minha região temos Cantiga de Reis, muito parecido com isso aqui”, diz o fotógrafo que já morou uma temporada em Montes Claros e acha que a festa está mais bonita a cada ano. “Eu me emociono, me toca muito esse evento. Sou suspeito, mas o documentário vai ficar maravilhoso. Estou aprendendo muito com esse trabalho”, destaca.

Comércio itinerante 
A psicóloga Mara Lima, que desde criança é uma apaixonada pelas Festas de Agosto, diz que, ao ser convidada pelo saudoso Mestre Zanza para integrar o grupo, fez questão de confeccionar o próprio capacete. “Me apaixonei por este artesanato e comecei a fazer miniaturas para presentear. Agora é a minha terapia e, todo mês de agosto, eu volto para Montes Claros com uma produção de bolsas e miniaturas. As pessoas gostam muito”, conta a artesã de agosto, atualmente residindo em Belo Horizonte. 

Debaixo do forte sol dessa época, um dos produtos mais procurados são os picolés ou gelatos. Aproveitando a ocasião, Nelson Ned acompanha o cortejo todos os dias do evento. “Há 30 anos eu vendo picolé e nesse mês de agosto eu vendo bastante. Praticamente o dobro dos dias comuns. O sol e o calor ajudam muito. Vou todo dia, inclusive aos domingos, que todos os grupos saem juntos e tem bastante gente”, afirma. 

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