Cordel nas telonas: poesia de Teo Azevedo “U ômi qui casô cua mula” ganha vida no cinema

Adriana Queiroz
O NORTE
08/10/2021 às 00:01.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:01
 (Eduardo Brasil e Alik Popof/divulgação)

(Eduardo Brasil e Alik Popof/divulgação)

O desejo do violeiro Téo Azevedo de transformar a poesia de cordel “U ômi qui casô cua mula”, de sua autoria, em filme o levou a procurar o ator e jornalista montes-clarense Eduardo Brasil para adaptar a obra em um curta-metragem.

A proposta era que Brasil escrevesse o roteiro e dirigisse o filme. Proposta aceita sem titubear, em agosto do ano passado. Dias depois, o roteiro estava concluído.

“Téo leu, gostou e sugeriu que o enviássemos imediatamente para o ator Jackson Antunes, que já sabia da ideia e havia aceitado – na verdade, exigido – participar do filme. Jackson também gostou da adaptação e entendeu que ela deveria se transformar em um longa-metragem”, diz Brasil.

E assim aconteceu. As locações foram feitas em Alto Belo e Guaraciama e as gravações estavam previstas para outubro de 2020. No entanto, as coisas desandaram. Um dia antes do início das gravações, o principal ator do filme, Bira Moreira, que faz o noivo da mula, foi levado ao hospital, internado e submetido a cirurgia. 

“A pandemia do coronavírus, que ganhou dimensões macabras, acabou por arquivar definitivamente o projeto por um ano. Mas foi um tempo necessário para que o filme retornasse aos nossos propósitos, Bira se recuperasse e as gravações finalmente fossem realizadas”, lembra Eduardo Brasil.

A narrativa tem a cara do matuto norte-mineiro. “Contar essa história é trazer para o cinema um pouco de nossas lendas e crenças, os ‘causos’ que habitam o imaginário de nossa gente. É o cinema catrumano. É nossa gente na tela, divertida como numa poesia de cordel”, revela o diretor.
 
DESAFIOS
No entanto, levar essa poesia de cordel para as telas de cinema não foi tarefa fácil. Foi uma verdadeira façanha, nas palavras de Brasil.

A equipe enfrentou consideráveis obstáculos, como calor, seca e o curto espaço de apenas cinco dias para rodar todo o filme, face ao orçamento insuficiente para um tempo mais prolongado das gravações. 

“Como foi possível? Para esta pergunta três palavras respondem: vontade, determinação e agilidade de todos os envolvidos – atores, técnicos e produção”, diz.

Para Brasil, o Norte de Minas é um cenário cinematográfico, ainda que marcado pela seca assustadora. Em Alto Belo e Guaraciama, a equipe encontrou centenas de sets de gravação com as cores e formas agressivas do sertão esturricado, mas também alguns oásis que a resistência da natureza tenta manter.

“Lugares lindos, de mata verde. Tudo no filme é natural. Gravamos 90% das cenas com luz natural, sons naturais. Isso torna o filme ainda mais original na questão ambiental. A fotografia deste agreste sem dúvidas é um elemento importante no contexto da narrativa”, revela.

Caricatura norte-mineira

O filme, em síntese, narra a fabulosa história de um matuto norte-mineiro, gente de bom coração, mas que não tem sucesso com as mulheres. Por isso, vive recluso em sua casa, na roça, até que um dia resolve sair e procurar uma esposa.

É quando acaba se deparando com uma mula, por quem se apaixona desesperadamente. O resto é um amontoado de situações muito engraçadas, com a participação especial dos moradores de Alto Belo.

No elenco estão Bira Moreira, no papel de Zé do Jegue; Celso Figueiredo, que vive o beato Santilino; Alik Popof, o carroceiro; Diógenes Câmara, o padre Tobias; João De Nucha, o contador de história; e Eduardo Brasil, que interpreta Seo Filó, um dono de boteco.

Brasil diz que acertou ao escolher o elenco, ainda que todos os atores, como ele, fizessem cinema pela primeira vez. Alguns com pouca experiência ou até nenhuma em arte cênica. “Trata-se de uma adaptação de uma poesia de cordel, com seus absurdos hilários. É uma comédia”.

O diretor ressalta ainda uma outra parte não menos importante do elenco. “Temos o elenco animal, com o jegue Sarapião e a mula Princesa Epona, além de vários figurantes como burros, cavalos e galinhas. É tudo muito engraçado. A música raiz, de Téo Azevedo e Rodrigo Azevedo, cuja memória homenageamos com o filme, é outro destaque, naturalmente”, revela.
 
MÚSICA
O filme tem sua parte musical com a presença de vários músicos da região, cantando e tocando ao vivo, como Valdo e Vael, Kadu da Viola, Sanfoneiro Mestre Nilo, Tone Agreste, Fernanda, Tércio e Ana Azevedo. O próprio Téo aparece cantando um calango. 

“Temos ainda a participação especial de um grupo de dança lundu. Ou seja, aquilo que faz parte da cultura regional nós procuramos inserir no filme. Queremos mostrar a cara de nossa gente de uma maneira divertida, caricata, como disse, mas sem qualquer intenção pejorativa”, ressalta Brasil.

A expectativa é a de que o filme comece a ser exibido em janeiro de 2022. Em Montes Claros, a ideia é exibi-lo até em praças públicas. E a equipe garante que fará o que for preciso para divulgá-lo.

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