Durante seminário em Montes Claros, o cantor Carlos Farias e o Coral de Lavadeiras do Vale do Jequinhonha falam sobre a experiência de levar a música das lavadeiras do Bairro São Pedro, de Almenara, para o mundo
Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
No período de 17 a 23 de setembro, artistas de Montes Claros vivem um momento de intensa atividade, com a realização das oficinas e seminários do projeto Conexão Telemig Celular, que visita a cidade pelo sétimo ano consecutivo.
Com temas que abordam o canto, expressão corporal, iluminação de palco, mercado fonográfico, até a fabricação de instrumentos a partir de sucatas. As oficinas reúnem um time de profissionais que, durante sete dias, promovem uma interação entre músicos, atores e diversos profissionais que atuam no cenário artístico e, principalmente, musical da região.
(foto: arquivo)
Para o secretário municipal de Cultura, João Rodrigues, esta é mais uma oportunidade que a população de Montes Claros tem de entrar em contato com o fazer artístico que está sendo desenvolvido em capitais como Belo Horizonte.
- Todas as oficinas significam um passo importante para quem já está na área e, também, para quem tem talento e quer desenvolvê-lo, pois estão abertas a profissionais principiantes - ressalta João Rodrigues.
Um dos importantes momentos do projeto é a conversa com Carlos Farias e o Coral de Lavadeiras, que promove um momento de interação entre culturas, mostrando como é possível globalizar a cultura da aldeia, sem que esta perca sua originalidade, memória e a doçura da arte produzida por um povo de alma simples e nobre.
Formado em 1991 por um grupo de lavadeiras do Vale do Jequitinhonha, nordeste do estado de Minas Gerais, o Coral de Lavadeiras vem se conquistando o público de todo país, com antigas canções e modinhas que vinham se perdendo na memória do tempo.
A idéia de criar o grupo surgiu a partir do trabalho do cantor, psicólogo e pesquisador cultural Carlos Farias, quando presidia a Casa de Cultura de Almenara, entre 1992-93.
Junto com outras pessoas da comunidade, o cantor incentivou um grupo de lavadeiras que trabalhavam numa lavanderia comunitária no bairro São Pedro, em Almenara, e que cantavam durante o trabalho. Elas criaram a Associação Comunitária das Lavadeiras de Almenara, formaram um grupo de mais de 50 lavadeiras entre 50 e 80 anos de idade, e passaram a cantar na região. A iniciativa deu certo e, então, selecionaram um repertório de canções de domínio público, com batuques, cirandas, cantigas de roda, folias, modinhas, e passaram a se apresentar em toda região. Carlos Farias acrescentou várias canções que havia resgatado do folclore do Vale e, em 2001, gravou o primeiro Cd, Batukim Brasileiro - o Canto das Lavadeiras. O Cd foi gravado em Belo Horizonte, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, com o apoio do Grupo Mod-Line, da prefeitura de Almenara e de outros incentivadores.
O trabalho resgata dez músicas recolhidas do cancioneiro popular do norte/nordeste mineiro, de domínio público, e duas composições de Carlos Farias (Fruto do Norte e Pé de Rosa, esta em parceria com o poeta Gonzaga Medeiros). O Cd mistura a influência portuguesa, indígena e africana, em ritmos como batuque, maracatu, toada, baião, beira-mar, afoxé, roda, semba e chorinho, com arranjos primorosos.
Mineiro de Machacalis, Carlos Farias sempre participou ativamente dos movimentos culturais do Vale do Jequinhonha e, junto com o Coral de Lavadeiras, vem disseminando a beleza e a riqueza cultural do Vale pelo mundo afora, no Brasil e no exterior.
Em Montes Claros, o cantor e as lavadeiras falam ao público sobre a experiência que vêm vivendo desde 1991 e as possibilidades de tornar um trabalho singelo e simples em uma obra que transcenda os limites impostos pelo capitalismo e que seja porta voz cultura e da história de um lugar e de um povo...