Cinema Comentado homenageia 80 anos do cineclubismo no Brasil

Jornal O Norte
05/12/2008 às 11:14.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:52

Samuel Fagundes


Repórter

O Cinema Comentado Cineclube exibe em dezembro, uma mostra de filmes em homenagem aos 80 anos de cineclubismo no Brasil. De acordo com Elpídio Rocha Neto, coordenador do Cinema Comentado, o Conselho Nacional de Cineclubes fez um levantamento e atualmente são 800 cineclubes associados. O coordenador revela que esses dados são recentes, a 27ª Jornada Nacional dos Cineclubes aconteceu em Belo Horizonte entre os dias 17 e 21 de novembro. Foi nessa jornada que se discutiram as ações que os Cineclubes vão fazer no próximo ano, e discussões específicas sobre Cineclubismo e memória, educação, difusão, mídia e etc.

Segundo Elpídio, os filmes foram escolhidos baseados na idéia que foi discutida dentro da jornada, que é destacar durante um ano, ou então agora no final do ano, aqueles filmes que tiveram uma representatividade muito grande através da exibição em cineclubes.

- Os filmes Vidas Secas e O homem que virou suco, por exemplo, são filmes que tiveram uma sobrevida e uma importância e divulgação maior no país inteiro através dos cineclubes que existiram na época em que os filmes foram lançados. No caso de Estamira e Moacir arte bruta são filmes que não têm a perspectiva de atingir o circuito oficial de distribuição, aquele circuito de shopping center, de entretenimento, e sobrevivem através dos circuitos alternativos, as salas alternativas como Espaço Liberdade, Belas Artes, Savassi Cineclube e os cineclubes como o Cinema Comentado. A escolha desses filmes foi feita primeiro porque são brasileiros, então reforça a perspectiva de se valorizar a identidade e a cultura nacional, e também porque são filmes que dificilmente conseguem furar o bloqueio do circuitão de exibição de entretenimento ou de filmes prioritariamente do cinema americano – diz o coordenador.

Elpídio explica que o objetivo da mostra, além de reforçar essas características do cinema brasileiro em si, é também começar a informar o público sobre o que é o movimento cineclubista, para que disso possam surgir outros cineclubes que podem crescer com o tempo.

CINECLUBES

O movimento dos cineclubes segundo Elpídio, tem uma longa tradição histórica, começou praticamente por volta de 1920 na França, quando as pessoas começaram a encarar o cinema como uma manifestação artística, o coordenador conta que foi aí inclusive que se cunhou a expressão 7ª arte para se referir as produções cinematográficas.

- Percebeu-se que os filmes tinham um caráter ideológico, uma mensagem que era passada e principalmente na década de 20, surgiu aquela concepção de uma abordagem artística de cinema. Por exemplo, o cinema surrealista do Luis Buñuel, as experiências dadaístas que vão acontecer na França e que na realidade não está ligada só ao cinema, está ligada a concepção artística geral que acontece na passagem do século 19 para o século 20. Na própria França, surge a idéia de se criar espaços específicos para preservar os filmes, que são as chamadas cinematecas. Esse grupo de pessoas que se reúne, para falar sobre cinema, entender cinema e talvez futuramente até fazer filmes, vão dar origem ao clube de cinema, e daí vem a expressão Cineclubismo – explica Elpidio.

BRASIL

Elpídio diz que no Brasil, essas manifestações também começam muito cedo, o movimento cineclubista veio a surgir no final da década de 20, início da década de 30 e posteriormente teve um peso muito importante, principalmente dentro dos momentos de maior mobilização política no país, os anos 50 e 60 pós golpe militar, onde segundo Elpídio, se tem uma abordagem do cinema como algo além de um simples entretenimento. Além de uma simples mídia de massa, como algo que realmente tem uma concepção de transmitir informações, discutir idéias e trabalhar, de certa forma, aquela influência que o áudio visual tem sobre o comportamento das pessoas. De acordo com o coordenador do Cinema Comentado, Montes Claros também sempre teve uma ligação com o cinema.

- Em Montes Claros, sempre houve uma ligação muito grande com o cinema, o próprio Mauricio Gomes Leite, o Carlos Alberto Prates Correia, que começaram a ter toda uma perspectiva de cinema no início dos anos 60. E segundo algumas pessoas que já nos procuram e comentaram com a gente quando iniciamos o projetado do cinema comentado, sempre houve uma idéia de exibir e discutir filmes, me parece que o Aroldo Pereira e o Sued em um determinado momento tentaram estabelecer um projeto sobre isso, que infelizmente não teve seqüência, mas que plantou esse espaço para futuramente desenvolvermos um projeto como o Cinema Comentado. É preciso lembrar que Montes Claros já teve um dos maiores circuitos de exibição de filmes de Minas Gerais, um circuito que incluía o Cine Montes Claros, O Cine Fátima e uma série de outros pequenos cinemas nas cidades próximas aqui de Montes Claros, e foi um circuito de peso muito grande dentro do Estado - conta Elpidio.

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