Logotipo O Norte
Terça-Feira,26 de Novembro

Chita do Pandeiro fez da rua um palco de gala

Adriana Queiroz
O NORTE
10/11/2020 às 00:30.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:59

(ZXDCS\C)

Quem em Montes Claros não conheceu Chita do Pandeiro? Ou quem nunca ouviu falar desse artista autodidata que estava sempre pronto para fazer a sua melhor performance nas ruas, rodeado por muita gente? Irreverente, brincalhão, talento a toda prova, chegou a se apresentar no programa Domingão do Faustão no quadro “Se vira nos 30”, pela Rede Globo, e faturar um bom prêmio. Elevou o nome de Montes Claros. Ficou ainda mais famoso, mas nem por isso perdia a simplicidade e suas origens.

“Meu pai foi abandonado pela mãe ainda muito criança. Ela nunca mais voltou. De família em família, achou nos amigos e conhecidos uma família e, nas ruas, um palco”, diz o professor de História em Uberlândia, Flávio Muniz, que veio acompanhar o funeral.

Para Flávio, o pai morreu do jeito que queria, fazendo o que amava: música para alegrar o coração das pessoas.

“Pobre, porém, respeitado e querido na cidade de Montes Claros. Deu vida e voz a um pandeiro. Pandeiro que virou seu sobrenome, Chita do Pandeiro. Caiu para o alcoolismo, para as drogas, mas como uma Fênix renasceu muitas vezes. Papai foi também discriminado, mas acreditava muito em si”, conta. 
 
HOMENAGENS
No funeral do artista, no domingo, lá estavam donas de casa, empresários, políticos, moradores de rua e jovens. O violeiro Téo Azevedo, pesquisador de cultura popular, produtor musical, cantor e vencedor do Grammy Latino de 2013, fez questão de tocar em memória de Chita. Ao lado de Teo estava o sanfoneiro Zé Lu e, juntos, entoaram “Ternos pingos de saudade”, letra de Cândido Canela e música de Teo Azevedo.

“Fiquei muito comovido com o carinho da dupla e descobri que família para ele eram todos aqueles a quem chamou de amigo. Nosso Chita do Pandeiro estava muito doente e os médicos já o haviam alertado. Mas jamais quis demonstrar estar doente e fraco. Ele era um pássaro que não gostava de gaiolas. Agora ele voou. E partiu fazendo o que mais amava, música”, diz Flávio.
 
LEMBRANÇAS 
Nas redes sociais, o professor Everaldo Ramos recordou momentos ao lado do artista que também era um exímio motorista. 

“Eu ainda era criança e me lembro dele, ao volante do ônibus coletivo da antiga Alprino, com bom humor raro, além de conduzir o coletivo, atendia a todos com sorriso fácil e costumeiro. Em todo evento da cidade, lá estava Chita, tocando seu pandeiro e fascinando a todos com sua arte. Montes Claros perde um filho ilustre, figura folclórica, gente do povo que como povo viveu e escreveu sua história”.

O juiz de direito Isaias Caldeira também comentou num grupo de WhatsApp que Chita do Pandeiro estava todo prosa.

“Conseguiu aposentar-se. Sapatos novos, camisa e calça também. Rindo mais alto que o repique de seu pandeiro, feliz. Disse-me, lá na garagem de Zé Antônio, em agosto, que já estava namorando. Então aconteceu. A morte veio de repente e calou sua voz e seu pandeiro, para sempre. Sem seu pandeiro, sua alma boa deve achar um instrumento celeste para divertir os anjos, porque um artista verdadeiro não morre nunca e leva sua arte consigo, eternamente. Boas festas aí no céu, Chita”.

Para Flávio Muniz, o pai morreu do jeito que queria, fazendo o que amava: música para alegrar o coração das pessoas
Compartilhar
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por