Michelle Tondineli
Repórter
Os trabalhos da Casa do Artesão de Montes Claros já são realizados há mais de 20 anos. Com o intuito de melhorar a qualidade e as vendas, está sendo preparada para o mês de abril a abertura de uma loja no shopping popular de Montes Claros.
De acordo com o diretor financeiro da Casa, Guilherme Peixoto, a ideia é expandir as vendas e tornar os produtos mais acessíveis para a população.
- Este tipo de loja também facilitará na divulgação da Casa e dos trabalhos artesanais, já que a nossa divulgação é no boca a boca, pelo próprio aluno e pelas universidades que fazem trabalhos de pesquisa de campo com o artesanato, uma forma de fonte de renda para a população carente de nossa comunidade - diz.
Segundo Guilherme, os cursos pretendem promover a interação e geração de renda da comunidade.
- Para realizar a inscrição na casa é muito fácil, basta trazer os documentos e pagar uma taxa mensal de R$ 10,00. Não oferecemos material para os alunos, a não ser do curso de cerâmica, que é mais difícil de ser encontrado. Os alunos podem permanecer quantos meses quiserem para fazer os cursos, muitos ate já viram professores. Quando o assunto é a produção das peças, nós dividimos metade para a casa e metade para o artesão - afirma.
O diretor financeiro diz ainda que a Casa do Artesão oferece cursos de trabalhos manuais, como bordados, crochê, corte e costura, pintura em tecido, cerâmica, produção de bonecas e outros.
- Um pouco mais para frente, vamos voltar com o curso de tecelagem, que está sem professor. A quantidade de aulas de cada curso pode variar, o curso de pintura é uma vez por semana, o de cerâmica duas vezes, trabalhos manuais de duas a três vezes. O objetivo é atender a população de um modo geral, para dar um incentivo de formação de novos artesãos. Tem gente que vem e aprende como um hobby, mas tem gente que transforma isso em profissão – conclui.
Atualmente, a Casa do Artesão tem cerca de 30 alunos inscritos nos cursos, um número baixo se comparado a outras épocas.
As inscrições estão abertas até o preenchimento das vagas, de segunda a sexta-feira, de 8h às 18h. Se não tiver vagas, existe lista de espera. Para pintura há oito vagas, trabalhos manuais 10 vagas cada e cerâmica oito vagas. Outras informações (38) 3229 - 3459.
ARTESANATO GERA RENDA
O artesanato faz parte da vida de muitas pessoas. Elas descobriram o dom e não conseguiram se desvencilhar mais. A aluna Maria de Lourdes Veloso começou a fazer aulas na Casa do Artesão para aprender a produzir tapetes com lã e barbante.
- Comecei a fazer aulas já tem uns oito anos com os tapetes. Estou com a pintura em tecido há pouco tempo. Por enquanto, estou me aperfeiçoando na pintura, mas as vendas do tapete estão a todo vapor. Gosto da aula e acredito que posso tirar uma boa renda com meus produtos. Quem sabe não monto até uma lojinha - diz.
(FOTO MICHELLE TONDINELI)
Maria de Lourdes tem o artesanato como emprego.
A professora Marcolina Ribeiro está substituindo uma colega, ela começou a estudar na Casa do Artesão há dois anos.
- Trabalho com pintura em tecido há dois anos. Acredito que as aulas são uma forma de fazer terapia, de uma renda para a família, ou para presentear os amigos. Para esse trabalho é preciso o pincel, tinta e tecido. Os moldes são tirados de revistas ou de provinhas que utilizamos. Os riscos são passados de mão em mão - afirma.
Há 32 anos, Maria Aparecida Godinho confecciona bonecas de tecido, feitas à mão. Ela diz que não pretende largar a profissão tão cedo.
– Já perdi a conta de quantas bonecas eu fiz. Preciso de tecido, lã, algodão. Uso técnicas específicas para realizar um bom trabalho, além de ter paciência. A menor é de 30 centímetros e a maior foi de sete metros. Eu trabalho com encomendas, as pessoas pedem e eu faço, sem problemas - diz.
O professor de cerâmica Gilson Aparecido Cardoso trabalha na área há oito anos. Ele faz bonecas, animais, panelas e outros.
- Para produzir preciso de argila e ferramentas próprias. Tem um jacaré que eu fiz em dois dias, mas até uma semana já demorei para fazer uma peça. E tem algumas peças que desistimos de fazer no meio do caminho. Recebemos da casa o barro bruto e usamos o desintegrador para moer, colocamos água, passamos na maromba e vai endurecendo aos poucos, não muito mole e nem dura demais. Depois que fazemos a peça, terminamos e damos o acabamento. Esperamos alguns dias para que seque e depois levamos ao forno para queimar - afirma.
Já Maria Lúcia Dias de Carvalho diz que seu tempo de produção supera o de qualquer um. Desde os oito anos ela realiza o trabalho artesanal, uma tradição familiar.
- Para mim é muito importante, é uma tradição de família e vivemos disso. Não temos uma formação diferente, na época nós buscávamos a própria areia, o barro, era tão pesado. Existe um processo na queimação, linha fina para acender o fogo e a lenha grossa para queimar, e todos trabalhávamos. Não dava muito dinheiro, mas nunca precisamos pedir e nem partíamos para outras coisas - diz.
Maria Lúcia afirma que seus filhos já têm outra formação e estão seguindo outros caminhos.
- Mas sempre estamos aqui na Casa do Artesão e pretendo me aposentar aqui. Trabalho para mim e para a Casa. Se eu fizer 20 cinzeiros, 10 são meus e 10 deles. Eu já fiz bonecas, jogo de feijoada, panelas, bichos, presépio, copos e outros - finaliza.
