Carlos Walker é o convidado do próximo domingo da série Cultive

Adriana Queiroz
O NORTE
06/11/2020 às 00:07.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:58
 (OMAR PAIXAO DIVULGAÇÃO)

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Idealizada e apresentada pela produtora cultural montes-clarense Berenice Chaves, a série Cultive online mostra gêneros artísticos como música, dança, artes plásticas e literatura. Por lá já se apresentaram os artistas montes-clarenses Jorge Taka-hashi, Ângela Evans, Yuri Popoff, Sérgio Ferreira e outros nomes como Beto Saroldi e Fernando de Oliveira.

Neste domingo, o convidado especial é Carlos Walker. “Sou paurioca, nasci na Tijuca, no Rio, bairro que Jobim e tanta gente que admiro nasceu, mas fui criado em São Paulo”, conta.

Walker é filho de um poeta, escritor e uma pianista. Ambos baianos. Aliás, a família toda é baiana. O pai de Itabuna, terra de Jorge Amado, (eram amigos), e a mãe, de Salvador. 

“Vivi dentro de uma atmosfera de artes, belezas, saraus, me lembro que com três anos estava acordado na sala vendo e ouvindo as reuniões litero-musicais, totalmente antenado e ligadão. Meus pais ouviam tudo: Rádio Nacional, música erudita (por causa da minha mãe), música popular, jazz, os compositores nordestinos Dorival e Gonzagão, anos 50, a música latino-americana, boleros maravilhosos. E aí vieram os anos 60, a bossa-nova, os programas da TV Record e o advento da televisão transformando o Rio e São Paulo numa única cidade-cultural do Sudeste”, relembra.

O artista conta que a família saiu do Rio rumo a São Paulo e foi morar em plena avenida Paulista, no alvoroço cultural, e assistia tudo: Elizeth e Ciro Monteiro, Caetano e Gil, Chico Buarque e Nara, Simonal, e principalmente Elis Regina e Jair. 

“Esse era meu universo estético quando criança. Com 10 anos, sabia de cor e salteado as músicas dos Festivais da TV Record. Depois vieram os anos 70, a eclosão mágica: Tropicalismo, Clube da Esquina, os pós bossanovistas até desaguar nos anos 80 com a vanguarda Paulista. Sou privilegiado, uma sequência de décadas inspiradas, altamente sofisticadas em termos de música, melodia-ritmo-harmonia e da poética mais criativa e ousada. O teatro, a dança, literatura, artes plásticas, o rock europeu, a música contemporânea. Simplesmente estava mergulhando numa espécie de “Artesfera”, nunca mais o planeta vibrou em tão alta sintonia”, pontua. 
 
CARREIRA MUSICAL
Walker começou dançando. Queria ser bailarino. Com 5 anos, ainda no Rio, passeando de mãos dadas com a mãe, passou por uma loja de discos, aquelas caixas imensas tocando o rockcabile alucinante.

“Larguei num vapt vupt a mão dela e comecei a dançar alucinadamente em frente a loja de discos! Numa fração de minutos, uma multidão em volta aplaudindo e gritando entusiasticamente. Pronto, vai ser bailarino”, conta.

De lá foram para São Paulo e depois para Santos. O frio paulista começou a fragilizar a saúde do pai. E em Santos, a mãe o colocou numa escola de dança. Mas o sonho não demorou muito tempo. Foi interrompido por atropelamento aos 13 anos.

“Fiquei de molho na cama por quase 3 meses e minha mãe, para me acalmar, me deu um violão. Comecei a achar a música pelos dedos e depois as asas de sons chegaram a minha voz. Vou ser cantor! Aí começou a maratona: me inscrevi (escondido) num festival importante de Santos, eu tinha 14 anos, estava estudando, aquela coisa, os pais não queriam interrupções, e o festival era com gente universitária”, diz.

De 2 mil inscritos e 72 selecionados, Carlos Walker chegou ao 1º lugar. Levantou uma plateia de 3 mil pessoas com júri composto por Alaíde Costa, Johnny Alf, pessoal do Zimbo, Vera Brasil e outros. 

“A Elis teve curiosidade em me conhecer. Ela era grande amiga de um jornalista santista que se tornou meu maior amigo (após o Festival de Santos). A partir daí fui participando de diversos festivais em São Paulo, Rio, Estado do Rio. A família perdeu o controle do estudante. E desde então resolveu voltar para o Rio pois eu estava com nomes e endereços de lugares para bater na porta”, revela.
 
PRIMEIRO ÁLBUM  
O artista gravou o primeiro disco do Festival de Santos. E no Rio a mãe descobriu que tinham um primo, o Antônio Carlos (da dupla com Jocafi). 

Jocafi era casado com a cantora baiana Maria Creusa. Em seguida, Maria Creusa o levou na RCA Victor. O presidente o ouviu e gostou muito da sua voz e composições. 

“Fui contratado imediatamente. O Antônio, meu primo, me levou para o Daniel Filho e master baiano Dias Gomes, grande dramaturgo. A novela “O Espigão”, do Dias Gomes, ia estrear na TV Globo. Eles escutaram Alfazema e decidiram incluir na novela. A música explodiu e na sequencia vieram os programas Fantástico, Globo de Ouro, os Especiais da TV Globo e finalmente o projeto do primeiro Lp. Assim gravei o 1º álbum, “A Frauta de Pã”. Uma produção ousadíssima, com orquestra sinfônica, arranjadores do porte de Radamés Gnattali, Laércio de Freitas, Alberto Arantes e participações extraordinárias do mineiro João Bosco (que estava se lançando pela mesma RCA Victor) e inúmeros músicos instrumentistas que ficaram icônicos como Hélio Delmiro, José Roberto Bertrami, Piry Reis, Otavio Burnier, Gilson Peranzetta, entre tantos outros”, diz o artista.

O disco contém oito músicas autorais e músicas inéditas (na época) da dupla Bosco e Aldir Blanc.

Foi Carlos Walker que lançou a música “O Cavaleiro e os Moinhos”, que Elis Regina gravou no ano seguinte ao registro original. Além disso, o artista também gravou com Caetano Veloso, Eduardo Souto e Geraldo Carneiro. 

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