Entre dribles, derrotas e vitórias, o lateral esquerdo Valdirzinho relembra seus feitos nos gramados e no jogo da vida
Foto: Adriana Queiroz
Valdirzinho atuou em grandes clubes do futebol brasileiro
Adriana Queiroz
Repórter
Ele chega à redação de O Norte numa tarde de calor escaldante, jeito tímido, fala mansa e traz nas mãos alguns banners com fotos de sua trajetória.
O montes-clarense Valdir Conceição Santos, conhecido como Valdirzinho, nunca conheceu o pai, Dário da Conceição, sabe apenas que ele foi jogador, mas não tem notícias dele há mais de 50 anos.
Foi criado pela mãe, dona Jandira, hoje com 81 anos, uma senhora dedicada, que não mediu esforços para criar seu único filho com amor e dignidade.
Na juventude, nos anos 70, no Bairro Morrinhos, Valdirzinho frequentava a casa de Dona Cheiro, no Pátio da Rede Ferroviária, e ali cresceu junto com os filhos dela, os também jogadores Dequinha (ex-Flamengo), Nonô (ex- Bangu), Geraldo (ex-Frigonorte) e Cacau (ex-América).
- Dona Cheiro preparava biscoitos e, junto com seus filhos, nas preliminares, vendíamos as guloseimas. Havia aquela ansiedade gostosa, sabíamos que iríamos jogar e éramos titulares, conta.
Aos 58 anos, o lateral esquerdo Valdirzinho, também lembra com carinho do professor Bonga, conhecido na cidade na formação de atletas.
- Bonga treinava a gente, um professor exigente, sério, mas muito amigo, dava conselhos, mas fazia a gente subir a arquibancada do Ateneu mais de trinta vezes (risos) e se faltássemos aos treinos, ele mandava escrever no caderno duzentas vezes a frase Não posso faltar aos treinos (mais risos) - conta.
Valdirzinho e os outros atletas foram bicampeões invictos, depois foram para o profissional. Disputaram o Campeonato Mineiro em Montes Claros, em 1972, no campo do Ateneu. No elenco: Felipe Gabrich, Tonho, Luís Fernando, Nego Ró e Valdirzinho, Teofilo, Nona e Milton Henrique, Zoca, Carlos Alberto e Pombo.
Em seguida, foi para o juniores do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro.
O Botafogo Futebol de Regatas do Rio veio jogar em Montes Claros e trouxe junto o cantor Agnaldo Timóteo. Chamava Botafogo Futebol Show, o time jogava e ele cantava. Na partida, eu destaquei em campo e aí o Agnaldo me convidou para ir para o Botafogo, ele era o diretor do time. Mas ele me levou mesmo foi para o Vasco porque ele não se dava com o Joel Santana, treinador do Botafogo.
-Fui para o Vasco, passei no teste e fiquei lá por dois anos, tudo bancado por eles. Fiquei pensando em minha mãe e contei a história dela, que ela não tinha uma casa. Eles acabaram alugando uma boa casa pra mamãe, toda mobiliada e aí comecei minha vida de atleta profissional, revela.
Depois desse período, Valdirzinho foi vendido para o Volta Redonda, no Rio de Janeiro, e se destacou como o melhor lateral esquerdo do campeonato carioca, atuando ao lado de Jairzinho, furacão da Copa de 70 e o saudoso Russo, ex-Corínthias. Nessa época foi convocado para a seleção carioca e jogar contra a seleção brasileira, na reinauguração do estádio Caio Martins em Niterói.
Neste ano ganhou o Troféu Revelação do campeonato de 80. O Volta ficou em terceiro lugar. Em primeiro, foi o Vasco, em segundo o Flamengo.
Do Volta Redonda, Valdirzinho foi emprestado para o Paissandu de Belém, onde disputou o campeonato paraense e o Campeonato Brasileiro.
Do Paissandu, o Papão da Curuzu, apelido do Paissandu de Belém, Valdirzinho foi para o Maranhão Atlético Clube. Pasmem/image/image.jpg?f=3x2&w=300&q=0.3"text-align: justify">Saindo do Maranhão, o atleta montes-clarense foi para o Taubaté Esporte Clube em São Paulo e atuou ao lado de Manguito (faleceu em dezembro do ano passado) campeão brasileiro pelo Flamengo em 1980. Manguito participava de um evento na Lapa, Centro do Rio, quando passou mal e sofreu um infarto fulminante. Ele havia sofrido uma isquemia meses antes e ainda estava em tratamento de recuperação.
MEMÓRIAS
Nesse tempo, Valdirzinho não se esqueceu de sua terra natal. Vinha todo ano passar férias, curtir o colo de Dona Jandira, ouvir seus conselhos preciosos, rever os amigos e participar do tradicional jogo de fim de ano no Campo do Cassimiro de Abreu.
- Sentia muita falta do convívio com os amigos do bairro Morrinhos, falta da mamãe. Ela optou em ficar aqui, não quis ir morar comigo. Mas eu tinha um sonho que era jogar no Maracanã. Imagina, um rapaz de 17 anos, jogar no Vasco, no maior estádio do mundo pela primeira vez e ainda ganhar do Flamengo por 2 x 0. Nossa, foi maravilhoso! O time de juniores do Vasco da Gama era Mazaroppi, Paulinho, Argeu, Gardel e Valdirzinho, Helinho, Zandonaide, Paulo César, Wilsinho, Té e Rogerinho. E ainda encontrar, por exemplo, meu amigo e conterrâneo, o jogador Dequinha, jogar contra ele, ele no Flamengo e eu no Vasco, foi muito emocionante.
TIMES DE MINAS
Nos anos 80, Valdirzinho foi para o Democrata de Sete Lagoas. Disputou o Campeonato Mineiro, ficou lá por um ano e depois foi para o Tupi de Juiz de Fora. Foi um período de 4 anos. Lá sagrou-se campeão do interior. De lá, seguiu para o Sport, na mesma cidade e disputou o Campeonato Mineiro. Aos 37 anos, encerrou sua carreira com uma contusão no joelho, naquela época não havia muitos recursos, como se vê hoje.
Nos anos 90, retornou a Montes Claros e montou uma escolinha de futebol no campo João Botelho, no Bairro Morrinhos, intitulada Agarrei a bola, chutei a droga. O objetivo, segundo ele, é incentivar o futebol como alternativa às drogas e tempos ociosos, estimulando à vida saudável, além de proporcionar a oportunidade à participação em eventos esportivos e culturais como torneios e campeonatos. Sem falar no combate a evasão escolar e a repetência.
Recursos
Valdirzinho conta hoje com o apoio do compadre, o cantor Agnaldo Timóteo, do ex-jogador e comentarista da rede Globo, Júnior, e do ex-jogador e presidente do Vasco, Roberto Dinamite, mas garante que não recebe dinheiro.
- Recebo material esportivo, como bolas e chuteiras. Mas precisamos muito mais. Estamos enfrentando um grande problema. Na administração passada, afunilaram o campo, fizeram uma arquibancada atrás do gol, próximo ao muro de uma escola. O engenheiro não trabalhou corretamente, tem que aterrar. Foi um gol contra! Confiamos no novo prefeito Ruy Muniz, que foi um atleta, um apaixonado pelo esporte, para nos ajudar nessa empreitada. O programa Agarrei a bola, chutei a droga não é para fazer atleta profissional, é dar entretenimento as crianças e adolescentes, tirar das ruas. Moro numa área que é propicia para isso, as mães pedem ajuda. Sou procurado e isso me motiva. Quero mesmo é o campo funcionando, coletes, meião, qualquer ajuda nesse sentido. Dei aulas no programa durante 8 anos, mas agora estou sem trabalhar, diz.
Para contribuir com Valdirzinho é só procurá-lo na Rua Dr. Tupiniquins, 586, na Vila Luiza ou pelos telefones (38) 3215-6984 ou 9981-6424.
Fotos: Arquivo Pessoal
Valdirzinho com o jogador Roberto Dinamite
Bate-bola com Valdirzinho
Seleção de Montes Claros de todos os tempos: Budega, Tonho, Dequinha, Nego Ró e Waldirzinho. Luis Fonfon, Zoca, Carlinhos. Garrinchinha, Dario e Milton Henrique.
Melhor treinador: Bonga e Orlando Fontani.
Jogo inesquecível: Em 1980. Seleção brasileira 5 X 3 Seleção carioca, gols de Zico(2), Rivelino, Tarcísio e Júnior.
Atacante mais difícil de ser marcado: Sérgio Araújo (Atlético Mineiro)
Melhor amigo no futebol: Dequinha
Quem no futebol atual lembra o futebol de Waldirzinho: Está difícil nos dias de hoje
Quem é o grande jogador de hoje: Ronaldinho Gaúcho
E o jogador do passado: Zico
Torce para qual time: Gosto do jogador arte, não tenho nenhum time preferido
Personalidade que admira: Agnaldo Timóteo, ele representou e representa muito em minha vida. Foi meu empresário durante 15 anos, em todos os times que passei, foi ele quem me levou.
Religião: Católica
Esposa e Filhos: Sou casado com Vanderleia Silva Santos, tenho três filhos, Vinicius, Victor e Miguel, de apenas 5 meses, e outro filho de um relacionamento, no Rio de Janeiro, o Waldir Conceição Santos Junior, que está com 31 anos.
Planos para 2013: Continuar com minha escolinha, ajudar nosso novo prefeito que vai tirar essa cidade do caos. O secretário Carlinhos Muniz jogou futebol e o prefeito Ruy Muniz é um apaixonado pelo esporte.
Sonho: Ter comprado a casa de minha mãe. Para os filhos, sonho com eles se dedicando aos estudos. Se quiserem ser jogadores de futebol, ótimo, mas primeiro a educação.