As fofocas e os preconceitos: Espetáculo teatral promove reflexão sobre os melindres de um tema que faz parte do dia a dia de milhares de brasileiros e dos danos decorrentes das discriminações e estigmas que os afetam

Jornal O Norte
24/07/2007 às 17:24.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:10

Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net

O grupo de teatro Vida Sem Preconceito apresenta no próximo dia 27, dentro da 6ª Mostra de Teatro de Montes Claros, o espetáculo As Fofocas e os Preconceitos, uma crítica aos danos causados pelas discriminações impostas aos portadores do vírus HIV, bem como às pessoas que com eles se relacionam.




Formado por voluntários do Grappa, o grupo Vida sem Preconceito desenvolve um trabalho didático e artístico com objetivo de promover a conscientização quanto à prevenção da aids


(foto: Estevão Mendonça Montalvão)

Formado em 2005 por voluntários ligados ao Grappa - Grupo de apoio à prevenção e aos portadores de Aids, o Vida Sem Preconceito desenvolve um trabalho de forma didática e artística com objetivo de promover a conscientização quanto à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis - entre elas a Aids - e o debate sobre o uso de drogas, o sexo como profissão e os conflitos por eles gerados.

Segundo o diretor e assessor teatral do grupo, Rigoberto Guillermo Espinosa Pichs, o espetáculo As Fofocas e os Preconceitos faz uma abordagem tragicômica da luta dos portadores do HIV pela sobrevivência e de como estes lidam com os preconceitos que afetam seu cotidiano, na vida familiar, no trabalho e na relação com os amigos.

- Um dos maiores desafios enfrentados pelo portador do vírus é o preconceito, que dificulta o trabalho de prevenção. Hoje, o portador luta por uma vida melhor e os preconceitos e fofocas levam ao isolamento, matando essa expectativa – ressalta o diretor.

O Grappa funciona em Montes Claros há 12 anos e é a única unidade da ONG na região.

- O trabalho do grupo Vida sem Preconceito é feito por pessoas assistidas pelo Grappa, que se tornaram palestrantes e, como a doença ainda é um tema difícil de ser abordado, a linguagem teatral foi adotada para que a mensagem pudesse alcançar a todos de forma didática, lúdica e descontraída, sem gerar conflitos, e sim, esclarecimento – explica Rigoberto.

O grupo participa da Mostra pela segunda vez e, na edição desse ano, é um dos poucos grupos a apresentar mais de um espetáculo – o primeiro foi Sentimento Humano, apresentado no dia 09 de julho.

- Somos gratos à secretaria municipal de Cultura, por ter cedido o espaço por um mês inteiro para a realização da Mostra, o que sabemos ser complicado por que este é o único teatro disponível na cidade. Infelizmente, a sala Cândido Canela está muito desgastada, a iluminação precária, o que dificulta a performance dos grupos. Também a Mostra nesse ano não apresenta o mesmo esplendor da edição anterior, a organização está aquém do que requer um evento desse mote e faltam recursos para que os espetáculos sejam realizados a contento. O grupo Face Ápice, de Januária, por exemplo, não pode se apresentar no último sábado por falta de recursos para vir a Montes Claros e a ajuda de custo que secretaria de Cultura disponibiliza todos os anos não saiu por falta de programação em tempo hábil por parte da Aarted – argumenta.

Rigoberto diz que a Mostra deveria ser uma seleção dos melhores espetáculos produzidos na cidade e região durante o ano, mas, na edição desse ano, isso não aconteceu.

- Muitos espetáculos produzidos com patrocínio de empresas e pela lei de incentivo à cultura se destacaram e, no entanto, não estão na Mostra. Também não participam os grupos de teatro do conservatório Lorenzo Fernandez e da Unimontes. O que se percebe é que não houve uma mobilização da Aarted para trazer esses grupos, e um grau de amadorismo da associação que comprometeu a qualidade do evento, o que é uma pena - lamenta o diretor.

À frente do grupo desde sua fundação e participante ativo da vida artística da cidade, Rigoberto diz que Montes Claros precisa de um espaço planejado, que atenda às necessidades dos seus muitos artistas.

- Além de um teatro, que é uma necessidade antiga e urgente, seria ideal a criação de uma escola de arte livre, onde os atores pudessem se formar tecnicamente. Temos o conservatório, mas não atende à demanda e a Unimontes, que forma professores, ficando o artista que quer seguir carreira sem opção para se especializar realmente – completa.

Rigoberto ressalta, ainda, a possibilidade de se criar uma casa de cultura nos bairros mais povoados, que mantivessem uma interação constante com as escolas, de forma que os artistas pudessem ter mais espaço para atuar e, ao mesmo tempo, promover a descentralização da cultura.

- É importante que os gestores públicos tenham consciência de que a cultura é um elemento imprescindível na formação do cidadão e que é preciso investir nessa área para que a cidade tome posse de sua grandeza artística, atributo que sempre foi um diferencial de seu povo – conclui o diretor.

O espetáculo As Fofocas e os Preconceitos acontece no dia 27 de julho, às 19h e 21h, na sala Cândido Canela, do Centro Cultural Dr. Hermes de Paula. A peça aborda várias situações enfrentadas no dia a dia pelo portador do HIV, como no salão de beleza, no dentista, no trabalho e pela criança na escola, em três ambientes e com muito improviso. No elenco estão os atores Alex Fabiano (que interpreta duas personagens: o Anjo e Carol), Roberto de Moura, Lindalva Moura, Vera Lucis e Francisco Andrade. A direção é do professor de teatro, o cubano Rigoberto Espinosa. Os ingressos podem ser adquiridos antes do espetáculo ao preço de R$ 3.

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