Adeus a Eduardo Lima, o nosso Goya

Jornal O Norte
Publicado em 02/01/2013 às 21:41.Atualizado em 15/11/2021 às 16:55.

Morreu em Belo Horizonte, na tarde de ontem, 2, o jornalista, radialista, cronista e poeta, Eduardo Lima, 60 anos, dono de uma das vozes mais privilegiadas de Minas, que há décadas invadiu milhares de lares mineiros. Eduardo Lima assinou durante um período a coluna Altos e baixos em O Norte. Seu último trabalho foi como cronista do Jornal Hoje em Dia.



Foto: Divulgação


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O jornalista estava internado no Hospital Madre Teresa, recuperando-se de complicações após uma cirurgia cardíaca. Ele deixa 13 filhos. Até o fechamento desta edição, as informações de amigos mais próximos são de que o corpo seria velado na Câmara Municipal de Belo Horizonte. O local de sepultamento ainda não havia sido definido.



 



Confira a entrevista concedida ao Norte em março de 2007 ao repórter Manoel Freitas.



 



Eduardo Lima: Socorro, por favor,


salvem o planeta/image/image.jpg?f=3x2&w=300&q=0.3"text-align: justify">Com seu jeito simples, em 1988, embalado por programa de rádio líder de audiência, entrou para a história como um dos vereadores mais votados de Belo Horizonte, ocupando, pouco depois, a secretaria municipal de Esportes.



Mas foi no programa Viva a tarde, na rádio Itatiaia, que o montes-clarense conquistou ouvintes de todas as minas.



Posteriormente, no Studio HP, também na capital, gravou o CD Momentos e pensares, um banquete a todos os mineiros: solitários, apaixonados, alegres, tristes, enfim, uma obra que revela – em toda sua plenitude - a sensibilidade forjada pelo sol escaldante do Norte, retratando a fé e a esperança de nosso povo, capaz de enternecer e tornar a todos melhores, nem que seja um pouquinho.



Goya, como é conhecido, concedeu entrevista a O Norte, falando, principalmente, do prazer em escrever num veículo de comunicação que lhe concede liberdade absoluta, além do privilégio de estar ao lado de amigos de outros tempos, quando Moc era uma cidade mais gostosa de se viver.



 



O Norte – Como tem sido a experiência de escrever em O Norte?



Eduardo – É uma alegria, porque o fato de eu ter deixado o rádio me permite dedicar mais a isto. E eu já vinha fazendo isso ultimamente, porque escrever para o rádio é um exercício cotidiano, mas um exercício – muitas vezes – só crônico, ou seja, eu tenho que simplesmente relatar o cotidiano. Ao passo que escrever para o jornal permite que você divague um pouco mais, você não fica aquele cronista cáustico, aquela coisa de ter que fotografar o dia a dia. Eu posso escrever sobre coisas aleatórias, como o Riacho do Fogo, que se extinguiu; eu posso mandar recados para os amigos, posso, enfim, poetar um pouco. Creio que a crônica seja um instrumento importante para você fazer poesia. Ou seja, eu, através da crônica, ou sobretudo através deste exercício que eu venho fazendo aqui no jornal O Norte, posso permitir fazer um pouco de poesia, que talvez tenha sido – e será certamente, porque eu não sou um poeta – a minha maior frustração, porque eu gostaria de ser um poeta. Essa frustração eu guardo comigo e agora estou


podendo fazer esta catarse: na medida em que eu escrevo, vou me libertando desse desencanto que eu trago. E o jornal tem me servido muito. Eu gosto muito de escrever, e de escrever com liberdade, e O Norte me permite escrever com liberdade. E outra coisa: me trata com muito respeito e com muito cuidado. Sem contar que eu tenho, ao meu lado, pessoas que são extremamente capazes, que eu admiro muito, o Reginho, você, Manoel, o Georgino Júnior, que é meio que meu timão, assim, uma coisa importante em minha vida, um dos maiores poetas que eu já vi. E isto me estimula muito. Sem contar com Itamaury, o professor Antônio Augusto Souto, ou seja, pessoas importantes no pensar desta cidade, no pulsar desta cidade, porque são cérebros e puro coração. Então, estou no meio dessas feras aqui e isto me distingue muito



.



O Norte – Como é voltar a Montes Claros, rever amigos?



Eduardo – Não tem como classificar essa sensação. Eu vim fazer uma palestra e estou encantado com a receptividade, com o carinho das pessoas. Reencontrei amigos. Agora, a alegria de falar para um grupo de jovens, que serão brevemente os responsáveis por formatar uma opinião diferenciada, responsáveis pelo novo Brasil, é muito gratificante. Jovens que serão responsáveis pelo novo planeta, porque as pessoas envelhecidas já estão entregando o mundo, agindo de uma forma, diria, um pouco irresponsável com relação ao planeta hoje. Falam: - Eu não vou viver mesmo, então dane-se! Que venham então quem vai viver! Esses meninos é que vão viver o planeta de amanhã, e se eles não cuidarem rapidamente disso, certamente o meu netinho Eduardo, que nasceu aqui em Montes Claros, vai viver num mundo terrível. Prefiro até não pensar a respeito disso. Então, eu tenho que sair aí, como nós todos, com os profissionais de comunicação, formadores de opinião, temos que sair por aí pedindo socorro para essa geração de jovens. Socorro,


por favor, salvem o planeta que nós destruímos, por favor, programem um futuro melhor para os nossos filhos e para os nossos netos! Por favor, sejam mais responsáveis do que nós fomos!



 



O Norte – De que forma você participa atualmente do rádio?



Eduardo – Recentemente, eu deixei o rádio cotidiano. Não estou hoje em nenhum prefixo, não. Continuo fazendo meu trabalho de rádio, gravando crônicas, enviando crônicas para emissoras do interior, mas de maneira independente. Não estou mais vinculado a nenhum veículo. A partir do rádio, eu mudei meu destino inteiramente. Ganhamos recentemente a licitação para uma feira de artes em Belo Horizonte, que é seguramente a segunda maior da capital, perdendo apenas para a feira da Afonso Pena, que é a do Mineirinho. Para você ter uma idéia, temos hoje 700 expositores, com um movimento muito grande, entre oito e quinze mil pessoas. Enfim, uma feira grande. Nós estamos administrando isso e eu sou a pessoa que cuida dos shows, da comunicação da feira, ou seja, eu – de alguma maneira – permaneço na área de comunicação. Não ligado a veículo mais. Chegou a hora de eu descansar as pessoas um pouquinho... São 36 anos fazendo rádio. Rádio é escravizante, mas alguém diria: - E você não percebeu isso? Eu percebi e me dediquei i


ntegralmente ao rádio, fiz o que pude no rádio, devo tudo que tenho ao rádio, mas é chegada a hora de eu dar uma descansada. Estou falando de maneira muita específica. Eu leio as coisas que escrevo e distribuo. E agora, com a digitalização do rádio, esse é o caminho.

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