Acadêmicos do departamento de Comunicação e Letras da Unimontes promovem exposição com réplicas da obra da artista plástica brasileira, cuja polêmica deu origem à Semana de Arte Moderna de 1922
Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
O modernismo da artista plástica Anita Malfatti, que tanto instigou polêmica e contestação no início do século 20, está em exposição no campus universitário da Unimontes, em Montes Claros.
Realizada pelos acadêmicos do sétimo período do Curso de Letras/Português da Unimontes, sob a coordenação do compositor montes-clarense e professor do Departamento de Comunicação e Letras da Unimontes, Élcio Lucas, com o tema Arte transgressora de Anita Malfatti, a exposição exibe réplicas expostas pela artista em São Paulo, no ano de 1917, e que, por ter sido duramente criticada pelo escritor Monteiro Lobato, deu origem a uma polêmica que resultou na Semana de Arte Moderna de 1922, uma das maiores referências da arte no Brasil.
De acordo com o professor Élcio Lucas, o objetivo da exposição é montar uma réplica reduzida da exposição produzida pela artista.
- A obra de Anita Malfatti provocou um grande incômodo no meio intelectual paulista, em 1917, e, ainda hoje, é tida por muitos críticos como o marco inicial do modernismo brasileiro. Fazer uma releitura desse fato é uma forma de aprendizado muito enriquecedora para os alunos, que têm a oportunidade não só de apreciar o trabalho da artista, mas, também, conhecer um pouco mais da história da arte brasileira – explica o professor.
A exposição traz 12 reproduções das telas de Anita Mafaltti, em cópia colorida em papel formato A3, emoldurados e dispostos em painéis no saguão do Centro de Ciências Humanas da Unimontes, onde permanecem no período de 4 a 12 de outubro.
- Além das réplicas dos quadros, a mostra é acompanhada de textos de apresentação, biografia da artista, e aspectos da polêmica que se instaurou e de suas conseqüências para a manifestação modernista no Brasil nas primeiras décadas do século XX – completa Élcio Lucas.
ANITA MAFALTTI
Ainda bem jovem, Anita Malfatti estudou em Berlim e nos Estados Unidos, desenvolvendo uma nova concepção da arte, voltada para o Expressionismo. Ao retornar ao Brasil, incentivada pelos amigos Nestor Rangel Pestana e Di Cavalcanti, resolveu montar sua primeira exposição, no Mappin Stores, na rua Líbero Badaró, centro de São Paulo, em 12 de dezembro de 1917.
Depois de muitas visitas, algumas obras vendidas, sempre provocando o estranhamento, a exposição recebe a visita do escritor pré-modernista Monteiro Lobato, que faz duras críticas no jornal O Estado de São Paulo, chamando a obra de Malfatti de extremo mau gosto e aberração de entressafra.
- (...) Há duas espécies de artistas.Uma composta dos que vêem normalmente as coisas (...) outra formada pelos que vêem anormalmente a natureza e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva.(...) Embora eles se dêem como novos, precursores de uma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológico: nasceu com a paranóia e com a mistificação (...) Essas considerações são provocadas pela exposição da senhora Malfatti onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia - (trecho da crítica de Monteiro Lobato).
A crítica de Lobato deixou a jovem Anita abalada, mas também deflagrou a ação do grupo modernista que, em 1922, promoveria a famosa Semana de Arte Moderna.
Segundo o professor Élcio Lucas, a exposição faz parte da programação do 21º Salão Nacional de Poesias Psiu Poético e está aberta a visitação pública até o dia 12 de outubro, de 8h às 21h, no hall do Centro de Ciências Humanas - prédio II do campus universitário Professor Darcy Ribeiro. As visitas são gratuitas.