Adriana Queiroz
Repórter
Enquanto conversávamos com Iraceníria Fernandes da Silva, diretora do Celf - Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandes, era constante o movimento de professores que entravam e saíam de sua sala. Também pudera. Precisa estar tudo pronto para a semana das comemorações dos 50 anos do Celf.
A programação é intensa e inclui descerramento do busto em homenagem a Marina Helena Fernândez Silva, fundadora do Celf; jantar dançante, apresentação do grupo instrumental Antonieta Silva Silvério, show da Big Band Dionízica e baile.
Na estante da sala, chamam atenção uma orquestra de colheres e vários catopês confeccionados pela turma do curso de decoração, lembranças que ela foi ganhando ao longo do tempo.
Orquestra de colheres
Iraceníria é montes-clarense, filha de Maria Fernandes e Geraldo Pereira da Silva, que era conhecido como Geraldo Paulista. O nome Paulista é porque o professor foi morar uns tempos em São Paulo, e não tendo adaptado à terra da garoa, voltou para Montes Claros com um radinho colado no ouvido, sempre atento aos jogos de futebol e, ainda por cima, com sotaque paulistano. Gerado Paulista também chegou a morar com a família do colunista social Lazinho Pimenta.
Iraceníria Fernandes traz no sangue a musicalidade herdada do pai, Geraldo Paulista
- Nasci dentro da música, meu pai foi marujo, catopê e eu o acompanhava desde os sete anos. Tocava alguns acordes. Me lembro da minha mãe preparando um bolo de fubá, às vezes um biscoito frito. Enquanto isso, meu pai estava lá tocando. Eu também ia junto com ele ao Celf. Ele chamava suas alunas de minhas meninas.
Entre as músicas preferidas de Geraldo Paulista, Iraceníria conta que não podia faltar em suas apresentações Saudade da Bahia, Poeira Vermelha e Pedacinho do Céu, de Waldir Azevedo.
Iraceníria é mãe de Anna Graziella e Anne Gabrielle, que já ingressaram na música, e avó das crianças Marianne e Artur Felipe.
Ela conta que é gratificante trabalhar no Celf, que conta atualmente com 4.500 alunos, divididos em Montes Claros e Bocaiúva, matriculados nos cursos de Musicalização, Instrumento, Canto e Decoração.
- Cresci aqui dentro, tenho orgulho, fiz a escolha certa. É uma escola bem-sucedida. Conseguimos a reforma do acervo e, com apoio do governo, conseguimos aumentar a área de sopro, teclado, bateria e violão - comemora.
AMPLIAÇÃO
Iraceníria cita também a contribuição de outras diretoras, como Marina Sarmento, responsável pela busca do terreno, e Raquel Ulhôa, que conseguiu parte da verba para a construção.
- O conservatório nasceu pequeno, já construímos mais seis salas. Outra meta é ampliar ainda mais a informatização. Quero adquirir um data-show para cada sala de aula - diz.
Para a diretora, contar com o apoio da imprensa foi fundamental, além da secretaria de Educação do estado e de alguns políticos.
- Eu sempre digo aos alunos que em qualquer profissão que optarem que eles tenham um momento para a arte. A arte ameniza qualquer dor. Para serem persistentes. Não digo que é fácil, principalmente para aqueles que não têm dom. Ele pode não ser um Beethoven, mas pode ser alguém que toca.
Sei que sobreviver da arte é difícil, mas é gratificante. Ninguém fica rico com arte. Eu não sou rica, mas sou feliz - realizada.
Iraceníria conta que enfrentou momentos bem difíceis no início, logo que iniciou no Celf como aluna.
- Eu e papai éramos os pobres. Minha sandália era de plástico, meu cabelo ruim, eu sonhava em dançar no grupo folclórico Banzé, mas não tinha cabelo grande, era uma época elitizada. Lá pelos anos 80, eu já era professora de violino. E hoje, a maioria dos alunos é de classe média-baixa - conta.
LEMBRANÇAS
Entre as melhores lembranças está uma viagem que fez ao Rio de Janeiro para participar do Concurso Nacional de Corais, em que o Coral Lorenzo Fernandez empatou com Curitiba.
- Tivemos que repetir, foi emocionante. Tinha corais de todo o Brasil. Fomos também a Natal. Na França, não tive coragem de ir em 2005. Mas o coral foi representando - lembra.
Sobre um sonho não realizado, ela diz que quando deixar a direção do Celf pretende ir ao Sul do Brasil, com toda a família. E quando não está trabalhando gosta de ficar em casa escutando música italiana e não dispensa um churrasquinho.
- Gosto de ouvir Tanto Cara, Roberta, Champanhe, Sapore Di Sale. Afinal, ninguém aguenta tanta música clássica - brinca.
Para a festança dos cinquenta anos do Celf foram expedidos convites para todos os ex-alunos, entre eles, os professores Talitha Peres, que reside no Rio de Janeiro, Luiz Ricardo, que hoje atua na Paraíba, e Walmir Oliveira, que está no Rio de Janeiro.
- Dona Marina Lorenzo Fernandez confirmou presença e ela participará do descerramento do busto. É uma homenagem que ela recebe em vida - diz.
Para os pais dos alunos que este ano ingressaram no Celf ela dá um conselho:
- Insistam na arte. Se seu filho não gosta de tocar ou cantar, que ele vá pintar. A arte é transformadora, socializa. Isso é fato - incentiva.