45 anos de arte e cultura: vice-diretora e coordenadora do departamento cultural do Lorenzo Fernândez Sandra Borborema fala ao O Norte

Jornal O Norte
15/02/2007 às 12:32.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:58

Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net

A arte e a cultura do montes-clarense, tão decantadas em rimas, prosas e versos, embalaram a imaginação e os sonhos da carioca Marina Helena Lorenzo Fernândez Silva, que chegou a Montes Claros nos idos de 1947, onde decidiu fixar mais que residência: foi o palco que deu vida a seu sonho de criar uma escola onde toda a potencialidade artística natural do povo norte-baianeiro pudesse ser aperfeiçoada e estimulada.




Os grupos Tribo do Jazz, Olho de Gato, Big Band Dionízica,  Zabelê, e os músicos Yuri Poppof e Marcelo Andrade são alguns dos expoentes que estudaram ou foram formados no Celf

Era uma época onde a arte de um modo geral era considerada coisa de gente à toa, mas Dona Marina não se olvidou de sua determinação e nem se importou em, literalmente, mendigar auxílio para sedimentar seu propósito. Em 14 de março de 1961 recebeu de Simeão Ribeiro Pires, então prefeito da cidade e grande entusiasta da arte, a chave de uma casa à Rua Dr. Veloso, 486, para que fosse instalado o conservatório municipal de Montes Claros.

Apesar de ter conseguido o espaço, ainda faltava muito para que a escola funcionasse. Os primeiros instrumentos, mesas, carteiras e até um filtro de água foram doados ou emprestados pela comunidade. Os professores não recebiam vencimentos e alunos que podiam contribuíam com pequena quantia para despesas.

Em março de 1962, por determinação do então governador Magalhães Pinto e do secretário da Educação, professor Oscar Dias Corrêa, o Conservatório foi assumido pelo Estado e se mudou para uma casa na Avenida Coronel Prates. Nesse endereço promoveu concertos, audições, exposições de pintura e artesanato, apresentação de danças, teatro e corais. Os destaques eram o Coral Lorenzo Fernandez e o grupo folclórico Banzé, que se tornaram conhecidos no Brasil e exterior. Durante anos, mesmo depois de estadualizado, os professores doavam 20% de seus vencimentos, que eram empregados na compra de instrumentos, reformas e para trazer professores especializados para ministrar cursos extras. Até que se mudou para a sede própria, na Rua Dr. Veloso, 432, endereço onde funcionou até o final de 2006.

Depois de se aposentar, Dona Marina voltou para o Rio, para administrar o Conservatório Brasileiro de Música, fundado pelo seu pai, Oscar Lorenzo Fernândez e indicou a professora Lygia dos Anjos Braga para continuar seu trabalho em Montes Claros. Pelo cargo também passaram as professoras Marina Sarmento Velloso, cuja gestão se destaca, entre outras conquistas, pelo recebimento da doação do terreno para nova sede do Conservatório; Rachel Tupinambá Ulhôa, que fez o lançamento da pedra fundamental do novo prédio; Helenice Romualdo Lommez, e, atualmente, Iraceníria Fernandes da Silva, que inaugurou a nova sede do conservatório.

O sonho de Dona Marina se tornou realidade e foi batizado de Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernândez, em homenagem a seu pai, e hoje comemora 45 anos com cerca de 4500 alunos matriculados, e ex-alunos que se projetaram no cenário artístico mundo afora.

Em entrevista exclusiva, a vice-diretora e coordenadora do departamento cultural do Lorenzo Fernândez Sandra Borborema fala ao O Norte sobre o atual panorama do Celf e das conquistas e dificuldades para se manter como o maior conservatório estadual da América Latina  e pólo irradiador de cultura da região.

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· Por que o Conservatório foi batizado de Lorenzo Fernândez?

É uma homenagem ao compositor brasileiro Oscar Lorenzo Fernândez, pai da nossa fundadora, a musicista Marina Lorenzo Fernândez que, recém chegada do Rio de Janeiro, em 1947, ficou empolgada com a musicalidade do povo montes-clarense.

Com idealismo e dinamismo tornou realidade o Conservatório, que foi inaugurado em 14 de março de 1961 e assumido pelo estado em 1962, com o apoio do então prefeito de Montes Claros, Simeão Ribeiro Pires, simpático à causa musical regional.

·  Como era o trabalho do Celf nos primeiros anos?

O Celf rapidamente se firmou no cenário artístico-cultural da cidade e região e, desde que foi criado, vem promovendo um intercâmbio entre escola e comunidade com realização concertos, audições, exposições de pintura e artesanato e apresentações de teatro, danças e corais. Atualmente é dirigido pela professora Iraceníria Fernandes da Silva e a linha de trabalho é a mesma de sua origem.

·  Quais os cursos oferecidos?

São vários cursos em nível de Educação Musical e Técnicos. Na Educação Musical temos aulas de Musicalização, Canto e Instrumentos (Bateria, Clarinete, Flauta Doce, Flauta Transversa, Piano, Saxofone, Teclado, Trompete, Violão, Violino e Violoncelo); e nos cursos Técnicos temos Decoração, Canto e Instrumento (Clarinete, Flauta Doce, Flauta Transversa, Piano, Saxofone, Teclado, Trompete, Violão, Violino e Violoncelo).

·  Qual a graduação que os cursos atingem?

Os Cursos da Educação Musical são em nível de Ensino Fundamental e os Técnicos são profissionalizantes.

· Quem são os alunos que procuram pelos cursos?

Nossa clientela é diversificada, atingindo todas as camadas sociais. Mas, com certeza em número bem maior é o da classe média.

· Como é a procura pelos cursos?

É muito grande e se dá durante todo ano. Pessoas interessadas em fazer nossos cursos ligam ou vão ao Celf para se informar sobre o processo de seleção, que acontece anualmente nos meses de outubro e novembro.

· Qual o curso mais procurado?

Todos têm procura expressiva, porém, pode se dizer que os cursos de Violão e Musicalização batem o recorde.

· Quantos alunos estão matriculados atualmente?

Aproximadamente 4.500 alunos entre novatos e veteranos em Montes Claros e no anexo de Bocaiúva. E é considerado o maior conservatório estadual da América Latina, sendo um pólo irradiador de cultura para toda a região.

· O Celf atende à demanda?

Infelizmente não, pois temos um número pré-estabelecido de cargos, o que implica em atender a um determinado número de alunos, e isso nos impossibilita aumentar as vagas para atender à enorme demanda que vem não só de Montes Claros, mas de toda região.

· Quantos alunos já passaram pelo Celf desde sua fundação?

Não temos dados computados no momento, mas posso afirmar, com certeza, que foram milhares.

· As novas instalações ajudaram a suprir essa carência?

O prédio novo foi criado em virtude de não termos sede própria adequada para atender nossos alunos, uma vez em que as instalações antigas eram pequenas e uma delas alugada. Os recursos para a construção foram viabilizados pelo governo estadual e, apesar de ser grande, ter uma estrutura muito ampla e espaçosa, a estrutura não é suficiente para acomodar a todos da forma devida. Temos feito uns ajustes para não deixar que isso interfira no andamento das aulas.

· A nova sede mudou a rotina do Celf?

Com a nova podemos oferecer melhores condições aos alunos nas questões de espaço, área verde, conforto e comodidade. Porém, o que tem dificultado é o fato de estamos em um local mais distante, aliado à falta de segurança.

· Apesar das novas instalações, houve tumulto nas matrículas deste ano. Por que isso aconteceu?

O tumulto em questão não se deu por causa do prédio nem por causa das matrículas, e sim, devido à grande demanda e o número escasso de vagas para os candidatos da lista de espera.

· Como estão sendo utilizadas as antigas instalações?

As instalações do prédio da Rua Dr. Veloso estão sendo utilizadas para aulas, ensaios dos grupos: Orquestra Sinfônica de Montes Claros, Grupo Teatral Olho de Gato, Big Band Dionízica, Grupo Lírico Bezzi, Coral Lorenzo Fernândez, Grupo Folclórico Zabelê, Grupo de Flautas Sol Maior, Grupo de Percussão Batuko, Grupo de Seresta Cordas Vocais, Quarteto Alfa, Grupo de Cordas, Grupo de Samba Choro Geraldo Paulista, Coral Júnia Melo Franco, Coral Clarice Sarmento, Grupo de Flautas Capela Montes-clarense,  Grupo Tribo do Jazz, Grupo Instrumental Marina Silva. Também temos Galeria do Núcleo de Artes onde mantemos exposição permanente, além de servir de espaço para reuniões e execução dos trabalhos. O prédio também abriga a Fundação Cultural Marina Silva e o Museu da Educação.

· Poderia citar alguns profissionais formados pelo conservatório que ganharam projeção nacional?

Foram muitos, mas podemos destacar Thalita Peres, Joaquim de Paula, Walmir de Oliveira, Yuri Poppof, Antonieta Fernândez Silva e Silvério, Marta Ulhôa, Luiz Ricardo, Jean Joubert e Rachel Tupinambá de Ulhôa.

· Quais os projetos do Celf para 2007?

Além da realização dos eventos anuais, como Semana da Cultura, recitais de formatura, exposições, mostras, audições, apresentações e exercícios práticos envolvendo professores e alunos, teremos também a execução do projeto BNB de Cultura aprovado na área de literatura, com o projeto Modernização da Biblioteca Hermes de Paula, e a captação e execução do projeto Entrada Franca - A Escola vai ao Teatro, do Grupo Teatral Olho de Gato, aprovado pela Lei Rouanet de Incentivo à Cultura Federal. 

O Conservatório trabalha, também, com projetos que se estendem aos alunos das escolas da rede pública municipal e estadual de Montes Claros e Bocaiúva, e funcionários da limpeza pública municipal, tais como o Conservatório na Rua e o Trilhando as Artes Plásticas, que atendem em torno de 500 alunos.

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