Ao contrário do que o senso comum acredita o crack não causa exclusão social. Pelo contrário, segundo especialistas, o uso da droga é consequência de uma vida precária que leva à dependência e faz com que muitos sejam encontrados em situação de pobreza extrema, usando a droga nas ruas de cidades brasileiras, vulneráveis a riscos, como homicídios. A constatação é de Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz, divulgada nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro.
Depois de analisar cerca de 200 entrevistas com usuários e profissionais de saúde mental, o levantamento mostra que o uso da droga apenas piora a situação de pessoas que não têm laços familiares, moradia, trabalho e estudo - problemas que chegaram antes da dependência.
- O crack não é a causa da exclusão, é um elemento a mais, que reforça a exclusão social, processo que é anterior à droga, no entanto, é reversível - afirmou um dos autores da pesquisa, Roberto Dutra Torres, professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense, ao divulgar os resultados.
POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS
Segundo a pesquisa, reverter dependência é possível por meio de políticas públicas sociais, de saúde e de reintegração na comunidade e nas próprias famílias. Como exemplo, cita o programa da prefeitura de São Paulo, De Braços Abertos, que tirou usuários das ruas do centro, oferecendo moradia em hotéis próximos e empregos como gari, pagando salário e oferecendo tratamento.
As análises divulgadas ontem são um desdobramento da Pesquisa Nacional sobre o Crack, encomendada em 2014 pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, que traçou um perfil dos usuários da droga. O estudo identificou que compõem menos de 1% da população – bem menos do que dependentes de álcool – chamando atenção para o “pânico social” criado em torno do crack. A situação gerou estigma e afastou usuários da cidadania, diz o estudo.