Caos na cadeia pública de Montes Claros: em menos de 24 horas, tentativa de assassinato, homicídio e fuga

Jornal O Norte
11/11/2005 às 11:04.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:54

Gissele Niza


Repórter

A precariedade da estrutura e a falta de segurança da cadeia pública de Montes Claros estão preocupando autoridades e moradores da cidade. Em menos de 24 horas foram registradas tentativa de assassinato, homicídio e fuga de treze presos do cadeião.




Só neste ano foram registradas 12 tentativas de fuga, nas quais


38 presos conseguiram ganhar a liberdade antes da hora


(Foto: Adriano Madureira)

Na tarde de terça-feira, 08, o preso Marcos Aurélio Siqueira de Melo, 26 anos, o Cocó, foi assassinado com quinze facadas dentro da cela 2 pelo preso Jaílton Rodrigues, 31 anos, o Bicudo, da cela 8.

Jailton confessou o crime, alegando que estava jurado de morte por Cocó, que cumpria pena de seis anos por furto e duas tentativas de homicídio, uma delas contra o juiz aposentado Carlos Humberto Cruz.

Bicudo cumpre pena de 40 anos de prisão por furto e roubo. Informações extra-oficiais dão conta de que, meia hora antes de ser morto, Cocó teria telefonado para seu advogado avisando que estava sob ameaça de morte. Segundo a polícia civil, tanto a responsabilidade das fugas como o assassinato na cadeia pública já estão sendo investigados.

No mesmo dia, uma tentativa de assassinato deixou os presos Tiago Mendes e Maciel Ferreira feridos. Os presos foram levados para o hospital Aroldo Tourinho e já retornaram para a cadeia.

FUGA

Na noite de segunda-feira, trezes presos fugiram da cadeia de Moc por um túnel de 50 metros, cavado dentro do banheiro da cela 28. Um monte de terra foi retirado pelos presos sem que a guarda percebesse. Até o fechamento desta edição, apenas dois presos foram capturados.

Entre os fugitivos estão: Amauri Ribeiro Silva, Dionata Giuliano da Silva, Joaquim Rabelo dos Santos Júnior, Emerson Barbosa Moreira, Francisco Renato da Silva, Marcus Aurélio dos Santos, Maximiliano Rabelo Portela, Reginaldo Nunes dos Santos, Valtemir Pereira Lopes e Vilson Gonzaga de Jesus.

Esta foi a quarta fuga neste ano. Em março, nove presos fugiram. Em julho, um detento saiu pela porta da frente, e no final de setembro, mas seis conseguiram escapar.

Segundo informações da PM, foram registradas 12 tentativas de fuga neste ano, sendo que 38 presos conseguiram fugir.

TRATADOS COMO ANIMAIS

O delegado Saulo Nogueira disse a O Norte que a situação da cadeia pública de Moc é preocupante.

- Aquilo não é jeito de tratar gente. Os presos são enjaulados em péssimas condições, vivem em situação pior do que os animais do zoológico da cidade. Os presos são amontoados, jogados na masmorra, em uma estrutura totalmente precária. Temos vergonha do tratamento que é dado às pessoas que vivem ali – observa o delegado.

Saulo Nogueira diz que a falta de estrutura e a precariedade em que os presos vivem é que os levam a fugir, a não aceitar as regras internas.

O delegado diz ainda que é inconcebível que quatro agentes penitenciários (em cada turno) cuidem de mais de 200 presos:

- A situação está piorando porque não temos contingente suficiente para realizar buscas diárias e acompanhar a vida dos detentos.

Nogueira aponta também que a cadeia foi construída em cima de um aterro, suas estruturas são precárias e isso facilita a abertura de túneis pelos presos.

O Norte tentou contato com o diretor da cadeia pública, Jean Pierre Batista, para falar da situação atual do cadeião, mas sem êxito.



DESESPERO

A atual situação da cadeia pública de Moc preocupa também moradores e familiares dos presidiários.  A dona de casa, J., mãe de um preso do cadeião, relatou a O Norte que está desesperada e se sente inútil diante da situação.

- Sei que meu filho foi errado e que deve cumprir sua pena. Mas ninguém, nenhum ser humano, merece viver nas condições em que ele vive. Estou desesperada, com medo de, a qualquer momento, chegar a notícia de que algo pior tenha acontecido com ele. Sinto-me inútil por não poder fazer nada por ele. Peço que as autoridades responsáveis busquem soluções imediatas para controlar aquele lugar e dar condições de sobrevivência para os presos - desabafou a dona de casa.

Morador do Bairro Nossa Senhora de Fátima, próximo à cadeia, o motorista Florisvaldo Veloso critica o sistema penitenciário no país e defende leis mais rígidas para os criminosos.

- A criminalidade em todo o país está descontrolada. O governo precisa, urgentemente, tomar uma posição severa para contra os criminosos. Confesso que vivo com medo do que possa acontecer com meus familiares, com tanto bandido solto. Não temos segurança nem em casa, imagine agora com esses criminosos que fugiram. Estamos correndo risco de vida, pois os marginais não têm amor sequer à própria vida – afirma Veloso.

SUPERLOTAÇÃO

A cadeia pública de Moc tem 208 presos e capacidade para 110. A superlotação é uma das causas dos tumultos na cadeia. Em setembro, 120 presos escaparam das celas, invadiram os corredores e atearam fogo em colchões. Houve tiroteio e só depois de duas horas de tumulto a polícia transferiu os líderes da rebelião para penitenciárias do estado e outros 106 presos para o Centro de internação do menor e do adolescente, que ainda não foi inaugurado.

Nos primeiros dias no Centro do menor, os presos destruíram a estrutura e voltaram para a cadeia pública.

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