Índice de violência contra a mulher cresce mais de 30%

Jornal O Norte
11/10/2005 às 09:58.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:53

Gissele Niza


Repórter

O Brasil é o país que mais sofre com a violência doméstica. Segundo dados da Sociedade mundial de vitimologia 23% das mulheres brasileiras sofrem com este tipo de violência. Cerca de 70% dos incidentes acontecem dentro de casa, sendo que o agressor é o próprio marido ou companheiro.

Mais de 40% das violências resultam em lesões corporais graves decorrentes de socos, tapas, chutes, amarramentos, queimaduras, espancamentos e estrangulamentos.

Em Montes Claros, a violência doméstica tem assumido proporções assustadoras. A delegada Maria de Lourdes Narciso Durães Azevedo, da delegacia de Repressão aos crimes contra mulher de Montes Claros informa que o número de registros de violência contra mulher tem crescido constantemente - e aponta os principais fatores que levam os agressores a cometerem os crimes.

- Neste ano o número de registros cresceu em mais de 30% em relação a 2004, sendo que, por mês, chegam à delegacia mais de 150 registros de violência contra mulher. Mas acredito que este número deve se multiplicar, pois muitas mulheres têm medo ou vergonha de denunciar a agressão - observa a delegada.

Maria de Lourdes informou ainda que em mais de 90% dos casos de violência contra a mulher, o agressor e a vítima são amasiados e na maioria não tem religião.

- As famílias devem preservar seus valores e buscar a Deus, para que fatos tristes como os de violência doméstica não aconteçam em seus lares. Observo que quase 100% dos casos registrados são entre amasios, que não têm base familiar, ou seja, não conhecem a pessoa e as levam para morar dentro da sua própria casa. São raros os casos de violência contra a mulher que acontecem em famílias que construíram o alicerce de suas vidas conjugais - ressaltou Maria de Lourdes.

EMBRIAGUÊS E CIÚME

A delegada lembrou que o principal motivo que leva o companheiro a agredir sua mulher seria a embriagues.

- Em seguida vem o ciúme doentio e depois o fator econômico da família - acrescenta.

- Os casos de violência contra a mulher acontecem diariamente em vários lares da nossa cidade. Aparentemente estes crimes são mais comuns nas classes baixas, mas também acontecem nas classes média e alta. O problema é que a maioria dos casos não são registrados. As campanhas para não violência contra a mulher devem continuar existindo e sendo dirigidas para a conscientização dos homens que precisam de ajuda - finalizou a delegada.

VÍTIMAS DO MEDO

Em entrevista a O Norte, A.C.S., 35 anos, professora e M.P.G., 52 anos, auxiliar de serviços gerais, que tiveram suas identidades preservadas, relatou o sofrimento e a dor de serem constantemente agredidas e humilhadas por seus companheiros.

Casada por 12 anos, A.C.S, sofreu com a violência do seu esposo que muitas vezes chegava em casa embriagado e a espancava sem nenhum motivo.

- Vivo com medo de tudo. Não consigo sair na esquina da minha casa sem ter alguém para me acompanhar. Tenho medo de morrer. Há dois anos estou separada do meu ex-marido, mas ele continua me perseguindo e até já me agrediu no mês passado. Ele me ameaça e afirma que se eu chamar a polícia acaba com a minha vida. Escondi de minha família o que passava por mais de 7 anos, mas chegou uma hora que não deu mais. Ele chegou bêbado e começou a me bater, me obrigou a ficar com ele e até pegou uma faca para me matar - relata a professora.

VIOLENTADA

A auxiliar de serviços gerais, M.P.G., amasiada há dois anos, emocionada conta que é violentada quase que diariamente pelo seu companheiro - e sofre não só pela dor física, mas pelos seus filhos que acompanham tudo, calados.

- Nos conhecemos no final de 2002 e passamos a morar na mesma casa. No início era tudo muito bonito, ele amava meus filhos (do primeiro casamento). Não passaram dois meses e ele começou a mudar. Eu quis me separar, mas ele afirma que prefere me ver morta. Já o perdoei muitas vezes e meus vizinhos e parentes já tentaram me ajudar. Mas ele é doente e pode fazer qualquer coisa comigo - disse M.P.G.

CONSEQÜÊNCIAS

A psicóloga Patrícia Silva explica que a omissão das mulheres que sofrem com a violência doméstica traz conseqüências emocionais devastadoras e muitas vezes irreparáveis.

- Além dos impactos graves na saúde mental e sexual na vida dessas mulheres que sofrem com a violência domésticas, outros fatores podem ser irreversíveis. As mulheres violentadas devem procurar ajuda e se valorizarem mais - observou Silva.

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