Pacientes do Norte de Minas abandonam tratamento contra HIV

Preconceito e questões religiosas afastam portadores de HIV da terapia adequada

Christine Antonini
Montes Claros
18/08/2017 às 00:03.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:08
 (Arquivo Pessoal)

(Arquivo Pessoal)

As unidades de saúde de Montes Claros recebem centenas de pacientes em busca de tratamento contra doenças sexualmente transmissíveis, incluindo Aids. O que preocupa é o fato de muitos soropositivos desistirem do atendimento, deixando para trás medicamentos fundamentais para garantir qualidade de vida.

No Centro Ambulatorial de Especialidades Tancredo Neves (Caetan) estão cadastradas cerca de 400 pessoas, a maioria do sexo masculino. Desses, 155 já abandonaram o tratamento, quase 38,75% do total.

Os pacientes são de Montes Claros e outros municípios do Norte de Minas. Assim que diagnosticado como portador do vírus HIV o paciente deve começar a tomar o chamado “coquetel” de remédios para fortalecer o sistema imunológico, seguindo o protocolo de tratamento, muitas vezes ignorado por quem precisa.

As justificativas para interromper o tratamento variam, diz a coordenadora do Caetan, Maria da Salette Mendonça. “Quando o paciente não procura o Centro por mais de três meses, vamos até a residência saber o que está acontecendo. São vários motivos que eles alegam, como religião. Há também o processo de não aceitação da doença, o preconceito, que ainda é muito grande, e a não adesão aos medicamentos devido aos efeitos colaterais”.
 
IMPORTÂNCIA
A médica infectologista Cláudia Biscotto destaca que o tratamento contra o HIV, o vírus transmissor da Aids, deve ser constante e ininterrupto e que toda medicação é entregue gratuitamente pelo Ministério da Saúde.

“Estes medicamentos, quando utilizados de maneira adequada, promovem o controle adequado da infecção, impedindo a evolução da doença, melhorando de maneira significativa a qualidade de vida do paciente e aumentando sobremaneira a expectativa de vida. Entretanto, são medicamentos que devem ser utilizados continuamente, pelo resto da vida, pois ainda não existe cura da infecção, apenas o controle da mesma”, explica a especialista.

CONFUSÃO
A especialista faz questão de esclarecer uma confusão que muitas pessoas ainda fazem sobre um indivíduo portador do vírus HIV e um que tem Aids. “O vírus HIV invade as células responsáveis pela defesa do organismo contra infecções, comprometendo todo o sistema imunológico. Nem todo indivíduo com HIV tem Aids. O vírus pode ficar encubado durante dez anos, sem manifestar sintomas da doença”.

Cláudia Biscotto ainda explica que a Aids é o quadro de enfermidades ocasionadas pela perda das células de defesa. “O indivíduo fica debilitado e, se não for medicado corretamente, torna-se vulnerável a outras doenças, como gripes”, finaliza a especialista.
 
EXEMPLO
Donizete Pereira Gomes tem 57 anos. Viveu por muitos anos sem saber que possuia o HIV, casou-se e teve um filho. Esposa e filho não são soropositivos. Donizete relata as dificuldades, principalmente no início do tratamento, quando ainda existiam poucas informações sobre a doença.

“Contraí o vírus na década de 80, assim que a doença ‘chegou’ no Brasil. Ninguém sabia o que era. Sofri muito sem a medicação certa. Depois que fui diagnosticado corretamente e medicado, minha vida mudou. Hoje trabalho, faço trabalhos sociais, levo uma vida normal. Quem realmente ama a família não desiste de viver”, observa Donizete.

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