Bom para alérgicos

Vem aí uma geração de vacas aptas a dar leite que não causa reação em humanos

Patrícia Santos Dumont
Hoje em Dia - Belo Horizonte
06/01/2018 às 08:29.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:37
 (Embrapa Gado de Leite/divulgação)

(Embrapa Gado de Leite/divulgação)

A privação do consumo de leite de vaca por brasileiros alérgicos às proteínas da bebida pode estar perto do fim. Um estudo conduzido por pesquisadores da Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, está ajudando a selecionar vacas com genética positiva para produção menos alergênica. Estratégia positiva para consumidores e produtores rurais, que podem lucrar até quatro vezes mais com o leite tipo A2 em relação ao “comum”.

Pesquisador da Embrapa, João Cláudio do Carmo Panetto explica que a pesquisa consiste em genotipar as vacas do rebanho, ou seja, em identificar no material genético dos animais se são homozigotos para a produção de leite A2. “Se uma vaca tem genótipo A2A2, é garantido que irá passar para os sucessores o alelo A2. Da mesma forma, um indivíduo A1A1 passará o alelo A1”, detalha, explicando que o primeiro caso deve ser prioridade nas fazendas voltadas para o leite A2.

Nessas propriedades, a seleção genética é feita a partir da coleta de tecido biológico do animal. No laboratório, os testes apresentam o resultado ao produtor conforme o tipo de alelo encontrado: A1A1, A2A2 ou A1A2. 
 
SELEÇÃO
Na prática, a recomendação dos pesquisadores é para que os rebanhos sejam constituídos somente por animais do tipo A2A2. “A velocidade com a qual o rebanho será convertido para a produção de leite A2 dependerá da estratégia de cada propriedade no uso do sêmen de touros A2”, esclarece Panetto. 

Segundo o pesquisador, caso o criador opte pelo conjunto das ações sem reduzir drasticamente o rebanho, o tempo necessário para que todos os animais da fazenda sejam A2A2 poderá variar entre dez e 15 anos. 

Nas propriedades brasileiras que produzem leite exclusivo para alérgicos, o ganho chega a ser quatro vezes superior em relação ao leite A1.

POSITIVO
O mercado internacional vem comprovando o sucesso da estratégia. Maior exportadora de leite em pó do mundo, a Nova Zelândia, por exemplo, produz leite A2 desde 2003 e certifica as propriedades que atuam com exclusividade. 

Outro grande exportador é a Austrália, que deixou de produzir somente visando aos alérgicos à proteína do leite e está conquistando também o público “comum”. Leites tipo A2 também podem ser encontrados em lojas dos Estados Unidos e Inglaterra. 

Alergias são perigosas- Diferentemente dos intolerantes à lactose, que não produzem a lactase, enzima responsável pela digestão do açúcar do leite (lactose), alérgicos às proteínas da bebida têm mais do que desconfortos gástricos e intestinais (vômito e diarreia). Em contato com a substância alergênica, podem apresentar placas vermelhas espalhadas pelo corpo, inchaço nos lábios e nos olhos e até reações mais agudas, como anafilaxia, que pode evoluir para a morte. - Ao contrário de algumas alergias alimentares, que podem acompanhar o paciente por toda a vida, a APLV tem início na infância. Na adolescência, porém, há grande possibilidade de que o problema desapareça.

 
Bebida ajuda a reduzir doenças
Estudos mostram que além de positivo para alérgicos às beta-caseínas, o leite A2 mostrou-se benéfico também contra doenças cardiovasculares. O motivo é que o produto menos alergênico evita a síntese de BCM-7, resultante da digestão do leite comum e oxidante do colesterol ruim, que, por sua vez, desencadeia a formação de placas arteriais. 

“Há pesquisas que apontam também para benefícios ligados a doenças neurológicas como autismo e esquizofrenia. Importante lembrar, porém, que existem outras proteínas alergênicas no leite e não só a beta-caseína. Não sendo o leite A2 indicado para todos os casos”, pontua o zootecnista e pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Marcos Vinícius Barbosa da Silva.

Segundo ele, ainda existem poucas propriedades no Brasil com produção leiteira voltada especificamente para o leite A2. A expectativa, porém, é que os estudos executados em parceria com os produtores rurais possam alavancar a adesão. “Esperamos que as pesquisas possam provocar o aparecimento de um mercado diferenciado, que valorize mais esse tipo de leite tão benéfico”, avalia.

Pioneira na produção e comercialização de leite A2 no Brasil, a Estância Silvânia, em Caçapava, no interior de São Paulo, vende os derivados lácteos até quatro vezes mais caro em relação ao leite convencional. Por dia, são produzidos na propriedade cerca de 700 litros do leite selecionado, destinados à fabricação de queijos, manteiga e ricota.

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