Vereadores afirmam que o povo não saberá votar no referendo

Jornal O Norte
14/10/2005 às 11:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:53

Eduardo Brasil


Repórter


eduardo@onorte.net

Faltando apenas nove dias para o referendo da venda de armas de fogo e munição, o povo, na sua grande maioria, não estaria devidamente conscientizado de como deve proceder diante das urnas para decidir entre o SIM e o NÃO. Esta, pelo menos, é a opinião de alguns vereadores de Montes Claros ouvidos por O Norte na tarde de ontem. Para eles, a campanha, sobretudo na televisão, tem sido insuficiente para esclarecer a questão - e a forma como vem sendo conduzida, com disputas e informações distorcidas que lembram as execráveis campanhas políticas tem contribuído ainda mais para aumentar a confusão na mente das pessoas.

- O congresso nacional é que deveria estar decidindo o assunto - ressalta Raimundo do INSS - PDT, para quem o povo foi apanhado de surpresa e não demonstra ter a mínima condição de decidir sobre um assunto tão relevante.

- A maior parte está perdida com a confusão da campanha.




Raimundo do INSS: As pessoas vão votar sem nenhuma consciência,


parte delas perdida com a confusão da campanha


(Fotos: Fábio Marçal)

VOTO DE PROTESTO

O vereador, no entanto, já tem uma posição em relação ao referendo. É pelo NÃO - defende a comercialização das armas, desde que dentro de preceitos rigorosos. Ele entende que tirar do cidadão de bem o seu direito de defesa, previsto no Código penal não resolverá o alto índice de mortes por armas de fogo que se registra no Brasil.

- E não é somente para se defender de marginais que as pessoas precisam de uma arma. Na roça, por exemplo, elas necessitam também de uma arma para se defenderem dos animais selvagens. Elas sobreviverão, sem defesa, na cidade e no campo? - questiona.

Raimundo teme que a maior parte da população, pela escassa informação que concentra sobre o tema siga para as urnas do próximo dia 23, decidida a votar pela proibição das vendas.

- Será um voto de protesto, porque todos estão apavorados, indefesos com o aumento da violência e da criminalidade e, naturalmente, se deixarão levar pela idéia de que o desarmamento é a decisão mais correta. Não é - conclui.




Júnior de Samambaia: O eleitor está despreparado.


A campanha é incompetente e deveria ter sido iniciada com antecedência

DIREITO PARA POUCOS

Júnior de Samambaia - PV discorda do colega de plenário. Adepto do SIM, ele argumenta que o comércio de armas de fogo e munição é uma prerrogativa constitucional que atinge poucos brasileiros.

- A lei é para poucos, só serve para aqueles que têm condições de manter uma arma legal - diz, ressaltando que poucos cidadãos de bem podem arcar com as despesas de uma arma regular e que desta forma a venda beneficiaria apenas uma parcela ínfima de nossa população.

- O comércio de armas nunca serviu aos cidadãos de bem, de classe baixa.

Júnior, no entanto, concorda com Raimundo de que a campanha não é suficiente para dar ao povo certeza na hora do voto. Ele também defende que o tema deveria estar sendo discutido no congresso nacional, ainda que o Estatuto do desarmamento, que já proíbe o comércio de armas de fogo e munições, vigente deste o ano passado determine, em artigo, essa responsabilidade ao povo - para que passe a valer como lei.

- Mas a campanha começou há apenas vinte dias. Deveria ter sido iniciada com mais antecedência. Ela não esclareceu o assunto como deveria e a maioria das pessoas ainda está na dúvida sobre como votar. O congresso seria uma forma de o tema merecer um debate mais sistemático.




Cori Ribeiro: A campanha trava uma guerra entre o SIM e o NÃO


querendo convencer a população na base do vapt-vupt

GUERRA

O porta-voz do executivo no legislativo municipal, Cori Ribeiro - PPS diz se sentir como um dos milhares de brasileiros tomados pela dúvida entre o SIM e o NÃO. Apesar de ter ressaltado, dias atrás, que defenderia a comercialização das armas e munições, ele já não tem a convicção de que os problemas que o país enfrenta com a criminalidade sejam resolvidos com o desarmamento do povo.

- E este povo não está preparado para votar. O referendo vai acontecer em um momento errado.

Cori também concorda que a desinformação das pessoas se deve à confusa campanha sobre o referendo. As duas partes, segundo ele, do SIM e do NÃO estariam se digladiando para convencer a opinião pública, de uma forma incompetente e às vezes desleal, aproveitando da ignorância de parte da sociedade em relação ao assunto para garantir votos no dia 23.

- As duas facções travam uma guerra entre si e querem nos convencer na base do vapt-vupt, através de informações que só fazem aumentar as dúvidas – diz ele, desconfiando que a condução do referendo, com as explicações confusas da campanha, atenda a interesses do governo federal.

- Não tenho uma idéia sobre isso, mas suspeito que haja um forte interesse do executivo federal em conseguir a proibição das vendas. A campanha do desarmamento tem sido tendenciosa nesse sentido, desde que foi iniciada no ano passado.

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