Trabalhadores do shopping popular não ficarão calados

Jornal O Norte
30/10/2006 às 10:50.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:43

Eduardo Brasil


Repórter


www.onorte.net/eduardobrasil

Depois de ficar afastada alguns meses da presidência da Associação dos camelôs e ambulantes de Montes Claros, cujo mandato expira em julho de 2007, segundo ela, primeiro, por pressões políticas do executivo municipal, que a teria como um entrave em relação às suas manobras nada éticas e morais de tornar o Shopping Popular um segmento do empresariado, e, depois, naturalmente, por conta de sua gravidez, Cássia Brito está de volta à sua aguerrida militância pela defesa dos ex-camelôs que atuam no prédio público, construído exclusivamente para tirá-los das ruas. E, como é de seu costume, sem poupar palavras duras contra a administração municipal.




Cássia Brito deve reassumir a presidência da Associação dos camelôs
para revigorar a luta contra as covardias do prefeito (foto: Wilson Medeiros)

- Devo reassumir a presidência da entidade, como eu gostaria e como gostariam os meus colegas, embora o pessoal da prefeitura esteja incumbido de evitar que isso aconteça, principalmente agora, quando o prefeito tenta dar mais um golpe covarde na nossa categoria – disse ela, compreendendo como fatal para os trabalhadores do shopping o prazo - de pouco mais de um mês, que a Receita Estadual concedeu para que regularizem a sua situação, sob pena de serem expulsos do prédio público.

COISA DE ZÉ

Cássia Brito não teria dúvidas sobre quem estaria à frente das maquinações para derrubar os ex-camelôs, em nome do prefeito.

- Isso é coisa de Zé, de Zé da Conceição, que me perseguiu covardemente no shopping, tomou meu quiosque, impediu que eu trabalhasse para sustentar a minha família, e colocou em meu lugar o próprio filho, que nunca foi camelô. Ele, agora, quer atingir todos os outros ex-camelôs – afirmou, referindo-se a José da Conceição, presidente do Prevmoc – Instituto municipal de Previdência Social que administra o prédio.

- Foi ele quem articulou a reunião com a Receita Estadual, sem a presença de nossos representantes. Ele fez tudo na maior surdina, na maior mutrêta, porque eles, Zé da Conceição, o prefeito, a administração, eles querem nos tomar o shopping de qualquer jeito. O prefeito e seus assessores agiram com covardia.

A presidente da associação afirma que os lojistas não terão como regularizar a sua situação no prazo estipulado e, tampouco, condições de arcar com o pagamento dos impostos que o cadastramento exigirá no futuro.

AVANÇO EMPRESARIAL

Cássia Brito acrescenta que o prefeito Athos Avelino – PPS joga em favor dos empresários e contra os ex-camelôs.

- Contra as pessoas pobres, indefesas. Eu fui vítima dessa política rasteira – lembra, observando que no local onde ela foi proibida de trabalhar, no primeiro pavimento do Shopping Popular, hoje, está instalado um empresário do ramo ótico.

- Além de permanecer no local, que seria proibido, mas para mim, é claro, ou para outro ex-camelô, o empresário tem ainda um segundo quiosque no terceiro pavimento. É isso que o prefeito quer: pouco a pouco transformar o Shopping Popular em um balcão de negócios envolvendo gente de grandes fortunas – acusa.

CÂMARA IGNORADA

Ela também lamenta que novamente os interesses políticos e pessoais do prefeito Athos Avelino tenham passado por cima do poder legislativo, censurando o fato de a câmara municipal ter sido ignorada, não sendo sequer consultada sobre as medidas que a administração tomaria em relação à situação dos camelôs.

- O projeto do executivo, que o legislativo aprovou, meses atrás, deixou claro que as medidas atinentes ao shopping seriam precedidas de um amplo debate, e que nenhuma delas seria tomada à revelia da câmara municipal. Nada disso está sendo cumprido. Os vereadores não estão sendo respeitados pelo prefeito. É a ditadura do prefeito Athos Avelino – desabafa. 

LUTA CONTRA O ABUSO

Indignada com a arbitrariedade do executivo, e com as metas que ele vislumbraria em detrimento dos lojistas, Cássia Brito já retomou as suas atividades na defesa da categoria. Foi vista, inclusive, nesta semana, na galeria da câmara municipal acompanhando a reunião ordinária – e amamentando a filha recém nascida, que levava ao colo.

- Não consigo ficar em casa. Não posso deixar de protestar contra os abusos de uma administração que visa prejudicar ainda mais os pobres. Vim à câmara para sensibilizar novamente os vereadores pela nossa causa. Não demora e todos nós, ex-camelôs, estaremos de volta às ruas e quero ver como a prefeitura vai lidar com este problema, que nós já conhecemos, e que é o mercado informal – disse ela.

REAÇÃO

Segundo Cássia Brito, os lojistas do Shopping Popular teriam uma série de reuniões neste fim de semana, para estabelecer posições contra as tentativas da prefeitura de retirá-los do prédio onde trabalham.

- Vamos estabelecer atividades que incluem protestos nas ruas e apelos na câmara municipal. Se for preciso, vamos fazer um barulho ainda maior, porque a população precisa saber dos verdadeiros interesses do prefeito e de sua administração em relação ao Shopping Popular, fazendo como suas maiores vítimas os trabalhadores que nele ganham honradamente o seu pão de cada dia.

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