(Márcia Vieira)
Principal pronto atendimento do Norte de Minas, a Santa Casa de Montes Claros poderá fechar as portas novamente para a população, sem aviso prévio, caso a situação de superlotação ocorrida na última sexta-feira se repita. A informação foi dada pelo Diretor de Negócios da instituição, Hugo Soares, ao ser abordado ontem na porta do hospital pela reportagem de O NORTE.
Ontem o setor de urgência estava com 36 pessoas internadas, bem menos que as 58 da manhã de sexta-feira, o que teria motivado o acionamento do Plano de Contingência e a suspensão do atendimento.
“Não tínhamos leitos para atender a todos. Se ultrapassarmos novamente o número (36), vamos acionar o plano para que as autoridades responsáveis tomem providência”, afirmou Soares.
Segundo a assessoria de imprensa da Santa Casa, no domingo vários pacientes foram transferidos para outras unidades hospitalares da região a fim de desocupar o espaço e permitir a retomada do serviço.
“Tivemos nove transferências para os Hospitais Universitário, Dílson Godinho e Aroldo Tourinho, 13 altas e estamos com 36 pacientes”, informou a assessoria.
O alívio momentâneo, no entanto, não significou melhora no atendimento. Várias pessoas que procuraram o ambulatório da instituição ontem enfrentaram problemas.
A estudante Bruna Alves da Silva, de Brasília de Minas, buscou atendimento para o sobrinho, de três anos, que engoliu uma moeda. Chegou ao hospital por volta das 3h da madrugada e até às 14h ainda aguardava por uma vaga. “Ele está sem comer e sem beber água desde ontem. Por ser criança, disseram que é preciso sala especial e temos ainda que esperar surgir uma vaga no bloco cirúrgico”, lamentou.
Fidelcino Santos veio de Porteirinha para acompanhar o tio, que sofreu uma queda. O paciente foi colocado numa maca no corredor, onde permaneceu por três dias, segundo ele, e só ontem recebeu o diagnóstico. “Falaram que ele tem que usar um colete, mas a moça ligou para Porteirinha e lá não tem. É preciso tirar medida e mandar fazer. Até agora não falaram comigo o que vai acontecer”.
Luana de Jesus, moradora do Bairro Cidade Industrial, procurou a Santa Casa com suspeita de pedra nos rins. Conta que foi levada até uma sala e lá permaneceu por mais de 40 minutos aguardando atendimento. “O médico me deixou sentada lá, gritando, e só me atendeu porque chegou alguém da diretoria e me perguntou o que eu tinha. Ele só apertou minha barriga, passou um monte de exames, e agora vou ter que ir ao PSF do meu bairro pra tentar marcar um exame que não sai com menos de seis ou oito meses. O remédio que ele me deu eu poderia ter tomado em casa mesmo”, reclamou.
COBRANÇA
Durante o fim de semana, o fechamento do pronto socorro da Santa Casa foi o assunto mais comentado nas redes sociais entre os moradores da cidade. A população cobrou solução da diretoria do hospital e do prefeito Humberto Souto, que está de férias.
A assessoria de comunicação da prefeitura emitiu apenas uma nota dizendo que “sobrou mais uma vez para a prefeitura a responsabilidade de atender à população”, e informou que algumas unidades de saúde e o Hospital Alpheu de Quadros estariam de prontidão.
SAIBA MAIS
Santa Casa de polêmicas
Problemas nas gestões do provedor Eli Penido e do superintendente Maurício Sérgio de Souza
Junho de 2015 – Máfia das Próteses – Médicos e integrantes da diretoria da Santa Casa são suspeitos de participar de um esquema que indicava a compra de próteses pelo SUS, mas que eram usadas em clínicas particulares. A prática foi alvo da Polícia Federal em uma operação em 2015. Vários médicos e funcionários de empresas que forneciam as próteses foram presos, mas ainda não houve julgamento da ação
Junho de 2016 – Suspensão de Planos de Saúde – A Agência Nacional de Saúde Suplementar suspendeu a comercialização de novos planos do Saúde Santa Casa Família, por causa de irregularidades e reclamações feitas por clientes quanto ao descumprimento dos prazos máximos para realização de consultas, exames e cirurgias ou negativa de cobertura assistencial.
Janeiro de 2017 – Exclusividade no trabalho dos médicos – Parecer do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais considerou inconstitucional medida da Santa Casa de Montes Claros, de obrigar os médicos admitidos no corpo clínico a assinar contrato de exclusividade. Para o CRM-MG, medida era “incompatível com o exercício da profissão”.