Eduardo Brasil
Repórter
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Cresce entre os brasileiros, sobretudo com idade acima dos quarenta anos a sensação de que a Copa do Mundo, na Alemanha, neste ano, repetirá no Brasil a mesma amnésia coletiva que causou na sua edição de 1970 - do tri nos gramados mexicanos, quando o povo ficou eufórico com o título e até esqueceu que o país do futebol arte era o mesmo que lhe privava de preceitos constitucionais.
Era época da ditadura militar, do regime de exceção, que foi cruel, sangrento e que perseguia, prendia, torturava e desaparecia com as pessoas. Mas o povo esqueceu de tudo isso e foi para as ruas, como se vivesse no país das maravilhas.
Ildeu Maia: - Infelizmente o ditado parece ter sentido: o povo, na sua maioria, tem memória curta (Foto: Fábio Marçal)
Ildeu Maia - PP, presidente da câmara municipal de Montes Claros, que por várias vezes lamentou da tribuna o mau exemplo que o atual congresso nacional dá aos legislativos municipais acredita também que o evento futebolístico vai mesmo contribuir, de novo, para que o País esqueça, desta vez não o arbítrio dos coturnos, mas a bandalheira dos políticos corruptos de Brasília, e, pior, que este contingente sem memória marche às urnas de outubro próximo elegendo pessoas erradas, mais uma vez.
- Daqui pra frente, aos poucos o mensalão, os escândalos que a imprensa nacional informa, os roubos do dinheiro público serão esquecidos. Tem sentido, portanto, a máxima de que o povo possui memória curta. A Copa do Mundo pode levar tudo ao esquecimento - diz ele.
CONCHAVOS
Para o dirigente parlamentar, os políticos corruptos têm, em oportunidades como essa, já que a história comprova, chances de ouro de se verem livres de um julgamento que seja sério no congresso nacional.
- Quando as atenções se desviarem de Brasília e se voltarem para a competição internacional o congresso, sem a fiscalização do povo, do acompanhamento sistemático da imprensa, já que a própria mídia estará, sem nenhuma dúvida, voltada quase que exclusivamente para a Copa do Mundo, fará manobras, acordos, e acabará isentando os culpados de punição. Tudo ficará em segundo plano com a Copa do Mundo e quem perde com isso somos nós, políticos e cidadãos honestos.
Ildeu Maia também não acredita que apurações mais rigorosas das falcatruas milionárias retornem à pauta do dia do congresso nacional após a Copa do Mundo, independentemente dos resultados que a seleção brasileira conseguir.
- Se formos campeões, então... A não ser que sejam revelados novos fatos, que exijam do congresso novas apurações, e isso é até possível. Afinal, a cada dia somos surpreendidos com mais bandalheiras lá em Brasília que devem ser apuradas.
PIZZA
O presidente da câmara municipal acrescenta que pelo que acompanha através da imprensa nacional, as CPIs do congresso nacional já demonstraram fragilidade na apuração das falcatruas e que poucos, entre os parlamentares que se serviram da corrupção serão punidos de fato. Ele lamenta que alguns deputados usem colegas em situação de fragilidade como bodes expiatórios, poupando assim quem cometeu crimes maiores, muitas vezes acobertando seus próprios delitos.
Um exemplo, segundo Ildeu Maia, teria sido Severino Cavalcanti (do seu partido, PP, ex-presidente da câmara dos deputados e que renunciou para não ser cassado no episódio que ficou conhecido como mensalinho).
- Se ele cometeu crime, outros cometeram crime maior e nem por isso foram ou parece que serão punidos. Alguns deputados agem com dois pesos e duas medidas no julgamento de corruptos e corruptores. E vão se aproveitar da Copa do Mundo para exercerem esta prática com mais desenvoltura. Quem perde com isso é a imagem do legislativo brasileiro - encerra o dirigente parlamentar.