Eduardo Brasil
Repórter
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Os vereadores Lipa Xavier - PCdoB e Rosemberg Medeiros - PFL criticaram o posicionamento da Somai Nordeste na audiência pública de quinta-feira, da câmara municipal, que discutiu o problema das moscas que infestam a região onde a empresa de criação de aves e produção de ovos está instalada, às margens da BR-365, direção de Pirapora, a 18 km do centro de Montes Claros.
Lipa, autor da proposição para os debates enfatizou que a empresa tentou mascarar o problema ao utilizar a sessão especial apenas para fazer marketing de sua importância sócio-econômica para o município, esquivando-se de comentar os danos que as moscas provocam à saúde dos moradores que vivem no entorno da companhia.
- A empresa fez um auto-elogio de seu desempenho econômico e não se preocupou em abordar o assunto das moscas, motivo dessa sessão. Esperávamos que apresentasse soluções para um problema histórico e de alta gravidade - disse Lipa, para a diretora da empresa, Maria Luiza Pimenta, que anteriormente enfatizou por um tempo prolongado os investimentos que a Somai empreendeu nas últimas três décadas.
- De que adiantaria a empresa gerar os 550 empregos que a senhora informa que gera, e arcar com uma folha de pagamento de 4,6 milhões de reais enquanto o povo que mora perto dela fica doente? Quantas crianças estão com pereba pelo corpo? Quantas já morreram por causa das moscas da Somai? – indagou Rosemberg Medeiros.
Para o vereador, a empresa seria incompetente no combate às moscas, que voltaram a proliferar por toda a região do seu entorno após um período de presença reduzida e dentro de níveis toleráveis.
COMENDO MOSCA
Maria Luiz Pimenta admitiu que o número de moscas realmente aumentou pelo fato de que o combate foi insuficiente há cerca de dois meses, quando durante apenas uma semana não foi aplicado cal, produto que ajuda a inibir a proliferação dos insetos. Segundo ela, bastou esse procedimento para que o aumento se verificasse. Mas, acentuou, a empresa investe de forma substancial no combate às moscas, a partir da higiene que pode ser verificada nas suas instalações.
- Como muitos dos vereadores puderam perceber, ao visitarem a empresa, o nível de moscas, lá, está dentro dos padrões exigidos - acrescentou, frisando que os gastos anuais chegam, com esses serviços de combate, a 420 mil reais.
- Por que, então, as moscas proliferam no entorno da Somai? Qual é o mistério que se esconde por trás dessa migração? O que estaria, estrategicamente, causando essa migração? - insistiu Lipa, estranhando que o número de moscas esteja nos padrões, dentro da empresa, enquanto que fora dela, nas comunidades de Abóboras, Monte Sião e, principalmente, Santa Maria ocorre o contrário.
- Gostaria de entender este fenômeno - questionou, como se duvidasse da presença de algum produto que poderia estar sendo usado para forçar as moscas a migrarem da companhia para as residências vizinhas.
- Estamos até engolindo moscas que se misturam nas comidas e na água - disse um dos moradores da comunidade rural de Santa Maria.
IGNORÂNCIA
A diretora da Somai negou que soubesse que no entorno da empresa a situação dos moradores fosse tão calamitosa - demonstrada através de imagens de reportagens produzidas pela Inter TV e que foram exibidas na sessão. Afirmou que a partir dessa informação buscará soluções para o problema.
- Antes a Somai era uma empresa fechada. Hoje, temos outra forma de agir junto à comunidade. A empresa está mais aberta. E será com essa interação que combateremos o problema de forma definitiva - disse ela, apontando, pelo menos, quatro ações necessárias para a preservação ambiental: limpeza de toda a área, dentro e fora da empresa, combate biológico e de lança chamas - que não mata as moscas, mas as larvas, e o combate às moscas adultas através de iscas.
- Outro recurso que estamos estudando é impedir a migração das moscas, da empresa para o entorno, com a mudança de árvores, como o eucalipto, por espécies repelentes - concluiu Maria Luiza Pimenta.
Em fevereiro de 2006 a Somai Nordeste precisará renovar sua licença ambiental para continuar operando em Moc. Para Renan Milo, da secretaria municipal de Meio Ambiente, será uma oportunidade de se cobrar da empresa o cumprimento de normas mais eficientes para combater o problema das moscas.
Participaram da audiência pública, além dos vereadores e da diretora da Somai representantes da Emater, Copam, Codema, Ibama, polícia militar de Meio-Ambiente, prefeitura e moradores vizinhos da empresa.