Ao ver nos jornais a divulgação do vestibular da Unimontes, momentos cruciais onde se mesclam ansiedade, expectativa, emoção e às vezes decepção, vieram-me algumas lembranças do passado, quando eu também prestei vestibular.
Em 1973, eu trabalhava na Superintendência da Fazenda e tinha um mísero salário vindo do concurso em que havia passado. Acabara de chegar de São Francisco, com quatro filhos pequenos e meu marido “desempregado”, pois deixara a Prefeitura e havia perdido os clientes que tinha antes. Coloquei os meninos em escola pública e o que tínhamos era apenas para pagar o aluguel e as despesas essenciais. Fiquei sabendo que para conseguir-se qualquer cargo em comissão ou alguma promoção e consequentemente, um salário melhor, era necessário ter o curso superior em Direito ou Economia. Eu tinha o Curso de Enfermagem e não servia. Conversando com meu marido, ele me disse: “- Então, faça o Curso de Direito”. E eu, perplexa: - “Mas como? Com quatro filhos pequenos e trabalhando em dois expedientes?” Mas ele me animou, dizendo que tomaria conta dos meninos para eu estudar. O vestibular da FADIR estava perto e havia muitos anos que eu não estudava. Peguei o programa e fiz um planejamento. Não fiz qualquer cursinho porque não tin
ha tempo e não podia pagar. Estudava dia e noite em todos os intervalos e à noite até muito tarde.
Fiz o vestibular e passei em segundo lugar. Não fosse o incentivo do meu saudoso marido, não teria conseguido. Foram cinco anos de luta, pois trabalhava o dia todo, saía do serviço às 18h, corria à minha casa para ver os meninos e às 19h começavam as aulas da Faculdade, no casarão no fundo da Matriz, hoje Corredor Cultural. Saía da Faculdade bem tarde da noite e ia à pé para casa, na Avenida Ovídio de Abreu. Consegui um cargo em comissão depois, pois já tinha o maior requisito.
Lembro-me bem, que ao falar com uma pessoa que tinha passado no vestibular de Direito, ela irônica me falou: “Direito todo mundo passa.” E eu respondi: “Muitos não passaram”.
Depois enfrentei outro vestibular, o de Psicologia, no primeiro curso em Montes Claros nas Faculdades Pitágoras. Mas aí é outra história.