Tocaia dos Bugres

06/10/2017 às 00:05.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:05

O tiroteio do dia 6 de fevereiro de 1930, em Montes Claros, envolvendo os militantes da caravana dos Conservadores contra os da Aliança Liberal, precede o movimento político que veio pôr abaixo a Primeira República ou Velha República. Era a Revolução de 1930 que se iniciava em Montes Claros. Contudo, registra-se nos anais da história, que este movimento irrompeu no dia 3 de outubro e terminou no dia 24 do mesmo mês com a deposição do Presidente Washington Luiz Pereira de Souza e a dissolução da representação popular no Congresso Nacional. Em matéria de jornal, disse o jornalista Assis Chateaubriand que a cidade de “Montes Claros fixa no momento culminante da consciência brasileira”.

Por isso podemos afirmar que a cidade de Montes Claros foi palco do primeiro episódio que antecedeu a revolução de 30. As suas ruas foram invadidas por pessoas oriundas de Granjas Reunidas e também da capital do Estado que vieram fazer frente aos inimigos políticos do vice-presidente da República, Dr. Fernando de Melo Viana. Ora, sabemos que tudo isso aconteceu durante a visita de Melo Viana quando aqui esteve para participar do Congresso de Algodão e Cereais, evento elaborado com o intuito tão somente de fazer propaganda eleitoral em favor da candidatura de Júlio Prestes para presidente da República, quebrando, assim, a tradição da Política do Café com Leite.

Nesta época a cidade de Montes Claros dividia a sua política em duas facções distintas: o Partido de Cima apoiado pela Aliança Liberal e que tinha como chefe o Dr. Honorato José Alves, e o Partido de Baixo, amparado na concentração dos Conservadores, e que era liderado pelo deputado Camilo Filinto Prates. 

Naquela noite, da Estação Ferroviária, a comitiva descia para a região baixa da cidade, quando ao passar em frente da casa do Dr. João Alves, aconteceu o que ninguém queria que acontecesse. Na escuridão da noite tiros de carabinas abafaram os gritos de “Viva a Aliança Liberal!” Na ocorrência policial esses gritos foram dados pelo menino Austílio Benjarane Tecles, que era conhecido pelo apelido de Fifi, onde estaria a causa do tiroteio. Depois do cessar-fogo foram contabilizadas as seguintes mortes: José Antônio da Conceição, poeta João Soares da Silva conhecido pela alcunha de João Gordo, Rafael Fleury da Rocha que era secretário particular do vice-presidente Melo Viana, dona Iracy de Oliveira Novaes, Moacyr Dolabela Portela e o menino, o Fifi “que era tão nosso amigo”, segundo palavras da própria dona Tiburtina Andrade Alves. 

O tiroteio em frente à casa do Dr. João Alves teve repercussão nacional. O presidente da república, Washington Luiz, preconceituosamente, deu-lhe o nome de Tocaia dos Bugres, tachando assim o povo de Montes Claros de gente semicivilizada. O castigo veio a cavalo. Washington Luiz foi deposto e Getúlio Vargas assume o poder que duraria uma década e meia.

Disse o saudoso escritor Geraldo Tito Silveira que “dona Tiburtina é hoje uma mulher lendária como dona Beija, Joaquina do Pompeu, Maria da Cruz, Chica da Silva e outras, embora tenha sido muito diferente de todas elas, pois não se aproveitava de sua posição para mandar tirar a vida alheia”. Tem razão o ilustre confrade na sua afirmação porque a fama de “mulher carniceira” não lhe foi atribuída senão por vingança ou despeito

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