Risos e Lágrimas

03/08/2017 às 00:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:53

Todo romance deve ser obra de ficção. A poesia nem tanto, pois ela retrata o estado de espírito de quem a escreve. A prosa nos oferece o sentimento poético com estilo e beleza, enquanto isso a poesia é o próprio sentimento da beleza das palavras. Com versos coloridos e carregados de sentimentos o poeta sabe como burilar vocábulos, como formar versos e construir estrofes. Assim nasce a poesia que em momento algum é uma obra fictícia. Em João Chaves há o esboço de um poeta lírico. Nota-se que não é o simples lirismo melancólico à maneira de Casimiro de Abreu, mas o lírico-real da poesia de Castro Alves e Olavo Bilac. O livro de poemas, Risos e Lágrimas, de João Chaves, trouxe, também, às nossas letras a beleza do amor-romântico e a melancolia de Musset. E assim por diante, paradoxal ou truísta, à obra de João Chaves não se pode ser negado o valor, imensurável, para a literatura montes-clarense. 

Para publicar o livro Risos e Lágrimas, o poeta entendeu que era preciso uma explicação convincente para os seus leitores. Não que ele estaria tentando escapar de alguma armadilha do coração, mas para iluminar, com propósito ardente, os caminhos percorridos pela pena de sua caneta. Disse-nos ele que: “Faço publicar este modesto livro de versos, de pouca ou quase nenhuma valia, somente para atender as sugestões e insistentes pedidos de amigos e parentes. Fica-se sabendo, portanto, que não anima nenhuma vaidade”. Na sequência deste prólogo, era necessário também esclarecer outros pontos nebulosos, os que certamente causariam confusão no entendimento dos menos informados. Portanto “preciso esclarecer, a fim de evitar equívocos, que todos os meus versos que exprimem paixão amorosa e constante deste livro foram por mim escritos há muitos anos, quando ainda era solteiro”. Finalizando essas considerações do autor, é solicitado um julgamento benévolo ou, pelo menos, sem severidade para o conceito deste seu livro.

Como já afirmamos em parágrafo anterior, os versos de Risos e Lágrimas têm a magia da musicalidade de Musset. Amo-te Muito é, sem dúvida alguma, a mais bela composição de João Chaves. Aliás, muitas são as composições do autor que os Grupos de Serestas cantam por esse mundo de meu Deus. Curiosamente, cada melodia tem a sua razão de ser. Entretanto, muito nos impressionou a história de O Bardo, música que nasceu com o nome Adeus, para homenagear o amigo Manoel Silva Reis, que no dia 16 de julho de 1908 foi sepultado em Montes Claros. O grupo de seresta, sob o comando de João Chaves, foi ao cemitério para cantar essa melodia no sétimo dia da morte do companheiro. “Na campa solitária, escura e triste/ pra onde todos nós um dia iremos/ aceita esta canção como lembrança/ dos dias mais felizes que vivemos”. 

Disse Newton Prates que João Chaves foi “intérprete de notável valor, que sabia tocar como mestre todos os instrumentos de uma banda de música, tornando-se depois um dos melhores flautistas do seu tempo, compositor de páginas que nunca serão esquecidas, poeta de reconhecido merecimento. Jornalista combativo e de mérito, cronista leve, orador vibrante, foi, sobretudo, na advocacia que adquiriu renome. Os seus trabalhos jurídicos transpuseram as fronteiras de Montes Claros, sua cidade natal, onde nasceu em 1885, tendo falecido em 1970. Risos e Lágrimas, um livro para ficar presente em todas as bibliotecas de Montes Claros e de Minas Gerais.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por