Via carbono

Jornal O Norte
02/09/2005 às 15:44.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:50




Raphael Reys *





Eduardo de Almeida, conhecido cronista noctívago, comentou recentemente ter perdido dois amigos, adeptos da famigerada caminhada matinal e peladas de fins-de-semana. Um deles inclusive era médico. Ambos desconheciam os seus limites, ou os conhecia somente na teoria. Na prática, morreram tentando fazer o que não fizeram ao longo da vida e, agora, sem o condicionamento, se tornaram vítimas, como outros milhões que se preparam para um triste fim.





Cada corpo tem a sua própria necessidade e está estruturado conforme a mente que o codificou. Somos o resultado do que projetamos no inconsciente, ou seja, cada um tem o corpo que moldou.  Quem caminha ou corre pela manhã, ou mesmo à tardinha, faz apenas modismo, ou reage por reflexo no qual foi condicionado.                     




É um tolo a enfrentar caminhos irregulares, panaca com seu pit bull na coleira e sem focinheira. Não passam de cães obtidos por um malsinado cruzamento criado pelo tido ser pensante, verdadeiro psicopata de acostamento e com o seu código genético de predador advindo das savanas africanas, ali nos albores da humanidade.




Quem corre é tão somente um apreciador de tatuagens umbralinas, estas frutos da tribalidade global. A maioria desses apreciadores somente observa os corpos de tolos exibidores de formas físicas, panturrilhas de pastor montês. No dizer do saudoso Zé Amorim, são os autênticos músculos de lenhadores canadenses. São glúteos apetitosos, pacotes genitais, tudo revestido de moletom. 





Por ali permanecem os apreciadores de baguette, forma de vulvas femininas moldadas no tecido, a chamada via vaginal para quem as aprecia. São os tarados a seguir o movimento glúteo ondulante da mulher do vizinho, a qual eles julgam mais apetitosas do que as suas.    Muitos serão futuras vítimas de  atropelamentos, mortos e lesados pelos drogados que, a essas horas da manhã, voltam das quebradas com suas máquinas turbinadas com sons possantes, in rap compensando o que lhes falta em massa encefálica, em potência, em desejo da libido, em filosofia de vida.




Quem corre serve tão-somente para avaliar os tênis gastos do vizinho ou conhecido, que no tempo das vacas gordas custaram mil reais, agora já se apresentando com os primeiros sinais da quebradeira ante suas formas já um tanto quanto disformes.




Correndo, você vê o que não deve: os sobreviventes da noite, os ricardões que retornam das alcovas e analisam, sem querer, o lixo do vizinho. Por este se terá uma idéia exata do poder aquisitivo do morador. Vê mesmo o carro do sogro do vizinho na garagem, já que o genro está falido.




O santo é o resultado do exercício da paciência, do caminho do meio, e não da parafernália de consumo e modismos. Somos joguetes nas mãos da Mídia-Hidra, vítimas de guerra subliminar, burros com viseira.




Meu prezado, ande apenas. Solte a sua mente ao caminhar. Faça como no curso do dia, sem o modismo tolo, tudo dentro da brevidade. Você que corre, breve pagará taxa de proteção para usar as avenidas pela manhã e à tardinha, duvida? Dentro em breve, a cidade será setoriada por Big Mans, chefões e chefetes do submundo. Estes são pobres oriundos dos bairros, tristes desempregados vítimas da política louca. Já organizam arrastões de bicicletas, ou de motos, para seus assaltos. Eles, os marginais, são vítimas da nossa insensatez seletiva, do nosso consumo voraz e descabido. Nós é quem somos o pai e a mãe da violência, que já mata inocentes na terra de Figueira.




O seu vizinho, que aos cinqüenta anos joga pelada nos fins-de-semana, teve condicionamento físico durante a vida de esportes, com o que manteve a sua performance. Não o imite, ou você será notícia de jornal, nos obituários, ou paciente prematuro nos leitos hospitalares conveniados.




Faça o que é relativo, de forma gradual, segundo a sua capacidade. Não imite tolos, eles são apenas figurinhas carimbadas que exibem o insuflado alter-ego-cambaleante. Quem necessita exibir o corpo são as profissionais da noite, que sobrevivem da fantasia erótica de todos nós, os másculos, os efêmeros, os compulsivos, os que só pensam naquilo por falta de outros pensares, ou as solteiras, que estão a fim de atrair algum marido imprevidente, tipo Ronaldinho Babão, aquele robô biológico tolo e que joga bola!




Exiba as suas idéias, a sua arte, exiba mesmo a sua utopia, estimule positivamente o seu próximo. Enfim, seja você mesmo!




Ah, não se importe com esta crônica. Não a tome pelo lado pessoal. Ela serve apenas para provocar o seu sorriso! É a minha contribuição para o humor coletivo, Acredita? Viva o Sr. Cooper, o otário do acostamento!




Em tempo: a parte erótica que consta nesta crônica se deve a um pedido pessoal do jornalista e escritor Leonardo Campos, que a sugeriu objetivando apimentá-la, sendo assim os créditos no pormenor, ou seja, da esbórnia erótica se deve exclusivamente a ele.

 

Cronista





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