Mais mulheres na política

27/06/2017 às 00:17.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:17

O dia 24 de fevereiro de 1932 foi um marco na história da mulher brasileira. Durante o governo de Getúlio Vargas, o voto feminino no Brasil foi assegurado, após intensa campanha nacional por esse direito. Passados 85 anos dessa importante conquista, a representação política das mulheres ainda é muito baixa, não chegando a 10% das vagas do Congresso Nacional. São 45 deputadas e 13 senadoras, num universo de 594 cadeiras. Apenas como comparação, em Ruanda, na África, esse percentual ultrapassa 56%. Neste quesito, o Brasil está atrás de todos os principais países da América do Sul. Mas essa não foi uma vitória simples. As mulheres conquistavam, depois de muitos anos de reivindicações e discussões, o direito de votar e serem eleitas para cargos no executivo e legislativo. Diante do cenário de grandes transformações que foi o século XX, as ativistas que se mobilizaram pelo direito feminino à participação na política ficaram conhecidas como sufragistas. Eram mulheres que não se conformavam com o preconceito e a discriminação, e reivindicavam a igualdade de direitos ao sufrágio (voto). Em 1934, as restrições ao voto feminino foram eliminadas do Código Eleitoral, embora a obrigatoriedade do voto fosse um dever masculino. Em 1946, a obrigatoriedade do voto foi estendida às mulheres. Nas eleições de 1933, a médica, escritora e pedagoga Carlota Pereira de Queirós foi eleita, tornando-se a primeira mulher deputada federal brasileira.

Realmente precisamos fazer uma reflexão mais acurada da situação para identificarmos porque a participação da mulher ainda é pequena. No entanto, há alguns avanços que denotam mudanças interessantes e positivas, além de um visível crescimento da conquista do espaço da mulher em diversas profissões. A eleição de uma mulher no mais alto escalão da República; a criação da Procuradoria da Mulher da Câmara dos Deputados; a lei Maria da Penha; a eleição da primeira mulher para compor a Mesa da Câmara dos Deputados; são bons exemplos dessa ascensão. Eu mesma tive que quebrar paradigmas, enfrentar e superar inúmeros desafios quando decidi entrar na disputa eleitoral. Mas, resisti e, finalmente, consegui. Se alguém chegou lá é porque é possível. O cientista político Paulo Kramer detectou que os partidos políticos têm dificuldade para cumprir a cota destinada às mulheres porque faltam interessadas. Ele acredita que a origem do problema está na falta de confiança da própria mulher na política como forma de contribuir para o desenvolvimento do País.

Em 1997, estabeleceu-se no Brasil a lei de cotas que obriga os partidos a reservarem 30% das vagas na chapa de candidatos para mulheres, mas a lei não obriga, no entanto, o preenchimento dessas vagas. Estou convencido de que as cotas por si só não resolvem o problema, pois se fossem eficazes, pelo menos um terço do Congresso seria constituído por mulheres.

Parece que há enorme contrassenso quanto à aceitação da mulher na política. Somos a maioria da população e não conseguimos a mesma representatividade nas instâncias políticas. Nós, mulheres, então, deveríamos votar em mulheres, o que claramente não ocorre.

Para se ter ideia, o próprio Comitê das Nações Unidas para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher cobrou do Brasil a baixa representação política das mulheres. Uma democracia forte e verdadeira só pode acontecer com participação mais plural e heterogênea.

Não há saída: o Brasil precisa da sensibilidade e da competência da mulher na política.

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