Psiquiatra fala da inclusão de alunos autistas e hiperativos

Jornal O Norte
12/09/2005 às 09:59.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:51

Durante palestra proferida pelo psiquiatra José Ferreira Belisário Filho, no II Curso de formação de gestores e educadores para o Programa educação inclusiva: Direito à diversidade, o professor de Terapia cognitiva da UFMG - Universidade federal de Minas Gerais defendeu a presença nas salas de aula comuns de meninos e meninas portadores de autismo e de transtornos hiperativos.

O evento começou no dia 29 de agosto e terminou a semana passada. Foi no auditório da Sociedade Rural, no Parque de Exposições João Alencar Athayde.

O psiquiatra afirmou que não existe no mundo remédio que faça tão bem a uma criança quanto essa oportunidade de interação, garantindo que, nas escolas onde tenho pacientes, os efeitos da inclusão são até melhores para as demais crianças do que propriamente para as que estão sendo incluídas.

- Todo mundo se beneficia de alguma forma. Quando aquelas crianças são colocadas numa escola especial, há o agravamento da situação justamente pela falta de integração social – disse o médico.

AUTISTAS X HIPERATIVAS

O psiquiatra explicou que as crianças autistas basicamente não conseguem construir relações sociais, seja no lar ou fora dele. São alienadas, autoras de movimentos esquisitos, gostam de brinquedos esquisitos, como ventilador ou roda de carro, por exemplo, além de, muitas vezes, apresentarem um atraso no desenvolvimento, esclareceu ao revelar que podem começar a falar e a andar um pouco mais tarde.

Já as crianças hiperativas, conforme José Belisário Filho, não conseguem prestar atenção nas coisas chatas e rotineiras ou controlar o movimento: freqüentemente levantam da cadeira e saem do local onde estão, são agitadas e, não raro, impulsivas. - Por terem o pavio curto, costumam causar problemas nas escolas que, normalmente, as expulsam do convívio com os colegas, atitudes desse tipo pioram o quadro dos garotos e garotas hiperativos. As crianças autistas e hiperativas devem freqüentar o ambiente escolar normal, desde que se adeqüe o ambiente às necessidades delas - afirmou.

EVENTO

O evento é uma realização conjunta da secretaria municipal de Educação da prefeitura de Montes Claros e da secretaria de educação especial do Ministério da Educação.

Participaram cerca de 250 diretores, vice-diretores e supervisores oriundos das redes estadual e municipais de Moc e dos 20 municípios norte-mineiros de sua área de abrangência.

Montes Claros é um dos 144 municípios-pólo escolhidos pelo Mec para disseminar as ações do programa federal. A palestra do psiquiatra José Belisário foi a nona das 13 palestras previstas para o curso de formação.

Dois exemplos do que a inclusão pode significar estão dentro da própria secretaria municipal de Educação. O professor de Filosofia Sivaldo Ribeiro dos Santos, 36 anos, é deficiente visual e atualmente coordena a Seção de educação inclusiva.

- A maior dificuldade que enfrentei até ingressar na universidade foi a falta de preparo dos professores para lidar com pessoas com necessidades educacionais especiais. Lutei, lutei e lutei, pois somos um projeto do infinito que precisa ser transformado em poema. Basta à pessoa querer para que alcance a meta almejada – diz Sivaldo.

A supervisora educacional Priscila Kelen Carvalho, 25 anos, deficiente cadeirante graduada em Pedagogia, também dá uma lição de vida.

- Não acho que tive grandes dificuldades porque sempre pulei os obstáculos, depois de uma experiência em escolas especiais, a partir dos cinco anos passei a freqüentar o ensino regular. A pior barreira que enfrentei foi a falta de adaptação dos locais públicos, inclusive das escolas, para receber uma cadeirante como eu - afirma. Priscila Kelen estudou quatro anos numa mesma sala de aula porque as que correspondiam à série em que deveria estar situavam-se em andares superiores.

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