Projeto Cinema no Rio reúne milhares de pessoas à beira do Rio São Francisco

Jornal O Norte
16/09/2005 às 10:41.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:51

Vinícius N. Barreto

O cinema surgiu em 1895 como uma “invenção” dos irmãos Lumière, na França. Mais de 100 anos após a sua criação, a sétima arte ainda não é democratizada. Do dia 27 de agosto a cinco de setembro deste ano aconteceu a segunda edição do projeto “Cinema no Rio”, que promove exibições itinerantes de filmes em municípios às margens do rio São Francisco.

A proposta é levar o cinema às cidades ribeirinhas mostrando o que é a sétima arte. Cidades como Pirapora, São Francisco, Pedra de Maria da Cruz, Januária, Itacarambi, São João das Missões, Manga e Matias Cardoso foram contempladas com os curtas-metragens Curupira (animação) e Negócio Fechado. Além do documentário Secos e Molhados, a programação inclui produções recentes em longa-metragem:

* Eu Tu Eles, sucesso estrelado por Regina Case e dirigido por Andrucha Waddington;

* Narradores de Javé, divertida e premiada comédia de Eliana Caffé;

* Espelho d’Água – Uma Viagem no Rio São Francisco, filme de Marcos Vinícius César que mostra as belezas do rio numa abordagem ecológica e conscientizadora.

As sessões contam com aparelhos de DVD e de vídeo, computador e equipamento de som. A estrutura da tela inflável é de 9 x 7 metros e a área de projeção tem as dimensões de 8 x 3,80 m. O orçamento do projeto para este ano, captado via Lei Estadual de Incentivo à Cultura, foi no valor de R$ 120.000,00.

Em todas as cidades o público foi, em média, de 1000 pessoas. Como em algumas praças não havia mais lugar, a platéia não se intimidou e subiu até em árvores para não perder a sessão. “Os filmes são bons, faz parte da nossa cultura”, comenta Nilton Gonçalves, de Januária. Val Ribeiro, professor de filosofia e antropologia do Centro de Educação Integrado do vale do São Francisco, ficou muito entusiasmado, pois só via esse tipo de projeto na televisão. “Isso dá uma empolgação, porque as pessoas têm acesso a um espetáculo que não custa nada para elas. Hoje as pessoas estão com muita dificuldade de pagar R$ 10,00 ou R$ 15,00; os mais humildes já não têm como chegar, então, na praça, não há desculpa para não comparecer. E o bom é que quando eu estiver em sala de aula, vou poder conversar com os meus alunos sobre o filme”, diz o professor.

João Firmino da Cruz, 62 anos, não ia ao cinema há mais de 20 anos e, quando compareceu ao local da sessão, ficou muito emocionado com o que estava vendo. Segundo os responsáveis pelo projeto, os filmes escolhidos tinham uma relação com a população local e, por isso, “funcionam como espelhos para aquelas pessoas, era como se fossem as vidas delas ali, bem no meio da tela”. “Nunca tivemos cinema, foi muito bom e muito diferente, vi um pouco da minha vida no filme Espelho d’Água. Achei um absurdo o tamanho da tela, meus filhos vieram e adoraram” ressalta Maria Rita, de Itacarambi.

Algumas pessoas já tinham notícia do projeto nas cidades vizinhas. Foi o caso de Jéferson Nunes de Souza, 13 anos, que ao saber das exibições foi a Januária com a tia para poder ver os filmes. “Foi a minha primeira vez no cinema e gostei muito”, diz o garoto. Quando ele voltou para Itacarambi, os amigos de Jéferson duvidaram dele: “Eles não acreditavam em mim quando eu falava do cinema; me chamavam de mentiroso. Aí agora que vocês estão aqui, eles estão vendo que eu falei a verdade”, ressalta Jéferson.

Toda cidade tem sua história, emoção e empolgação do público. Cidades que nunca tiveram uma sala de cinema, ao final da sessão, “testemunharam” vários aplausos da platéia e um pedido de quero mais. “Cada edição que a gente faz, a gente vai aprendendo. Na próxima, também quero aumentar o percurso, fazer no mínimo de Pirapora à Barra, na Bahia. No ano que vem, quero ver a possibilidade de iniciar o projeto com o Benjamim Guimarães, chamando a atenção da mídia internacional para o rio São Francisco, e colocar o projeto, de alguma forma, ajudando a população ribeirinha sobre a questão da revitalização do rio”, declara o idealizador do projeto Inácio Neves.

(Obs: O acadêmico acompanhou a equipe do projeto em todo o percurso)

Este texto faz parte da página produzida pelos acadêmicos do curso de Jornalismo do CRECIH/Funorte - Editores: Ana Gabriela Ribeiro


e Elpidio Rocha - Coordenador do curso: Ailton Rocha Araújo - Coordenadora de produção: Tatiana Murta

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