O valor das mochilas!

Artur Leite, jornalista
17/06/2017 às 00:16.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:07

Quando criança e depois pré-adolescente, aluno da Escola Carlos Versiani, chamado de Cavalo Velho, pelos alunos do pomposo Grupo Gonçalves Chaves, eu tinha dois sonhos: o primeiro era tirar aquela fotografia ao lado do Globo Terrestre e tendo ao fundo a Bandeira do Brasil. Viajantes vinham à cidade todos os anos, fotografavam os alunos e entregavam o material 6 meses depois. Por incrível que pareça, eu não recebia a minha, que às vezes queimavam ou então ficavam para trás, provocando em mim uma frustração enorme. O outro era ganhar de presente uma mochila da Company que era sinal de status e também prova de que eu era um bom aluno e que fora premiado pelos meus pais. Anos mais tarde, em pleno século da tecnologia, eis que as mochilas mudaram completamente de função, ou seja, são usadas por homens públicos para levar o dinheiro do povo em cenas de corrupção que não aparecem nem em filme de James Bond. Lendo matéria do companheiro Vicente Nunes, Correio Braziliense, deparo com trechos da delação ainda não oficial de Antonio Palocci que entrega de vez o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega. Vale a pena ler sobre o Mantega, aquele com cara de religioso e também sobre quanto cabe em uma mochila:

“O ex-ministro Antonio Palocci centrou fogo no seu sucessor na Fazenda. Acusa Mantega de repassar informações privilegiadas ao mercado financeiro sobre operações de juros e mudanças de câmbio. Segundo Palocci, o esquema funcionava desde 2003, quando Mantega estava à frente do Ministério do Planejamento, e continuou, em 2004, quando ele assumiu a presidência do Banco Nacional do Desenvolvimento. Palocci falou que Mantega teria levado vantagens nos programas de desoneração de impostos na indústria automobilística. A delação já conta com 16 anexos e cole Palocci pode ganhar o direito à prisão domiciliar. Nas alegações finais apresentadas a Sérgio Moro, a defesa de Palocci também atribui a Mantega a responsabilidade por autorizar pagamentos ilegais da Odebrecht na conta do marqueteiro João Santana na Suíça. Os advogados destacam trechos do depoimento de Marcelo Odebrecht que atribuíram a Mantega a responsabilidade por gerir pagamentos endereçados ao PT a partir de 2011. Os valores constantes da planilha ‘italiano’ não eram destinados ao acusado, mas sim ao partido, de forma que, após Palocci deixar o governo, o montante passou a ser gerido por uma terceira pessoa”, disse, em referência indireta a Mantega, e destacando depoimento de Marcelo. Neste processo também são acusados Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci, o empreiteiro Marcelo Odebrecht e outros 12 investigados por corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro. A Lava Jato afirma que Palocci tinha uma “conta-corrente” de propinas com a Odebrecht. Nas alegações, a defesa de Palocci também faz referência a um “ex-deputado flagrado com mochila de R$ 500 mil” para confrontar uma declaração do executivo Fernando Migliaccio, um dos delatores da Odebrecht na Lava Jato. Migliaccio afirmou que Kontic, ex-assessor de Palocci, pegava em espécie, “nunca menos do que um milhão”, com o próprio delator, “botava na mochila e ia embora”.

Segundo o executivo, “dependendo das notas, cabe até uns R$ 2 milhões, R$ 3 milhões numa mochila”. Note-se: no episódio envolvendo o deputado, havia uma mala contendo R$ 500 mil”, narra a defesa no documento.

“Ora, como se sabe agora, R$ 500 mil ocupam o volume de uma mala média. Mas, de acordo com o delator, Kontic fazia caber em uma mochila nunca menos do que o dobro do valor contido em uma mala média”.

UMA COISA.


 

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