Montes-clarenses que fizeram história I - Major Prates, o advogado dos pobres

Jornal O Norte
16/09/2005 às 11:17.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:51

Felippe Prates

Ao caminhar pelas ruas, avenidas e praças de nossa cidade, quantas vezes nos ocorre esta pergunta:

- Praça Dr. Carlos. Quem foi esse cidadão?

- Avenida Coronel Prates. Quem terá sido ele? Qual era o seu primeiro nome?

- Bairro Major Prates. Quem foi ele?

Ao iniciar esta nova série de crônicas evocando o passado, temos como objetivo resgatar a história de nossos conterrâneos ilustres que ajudaram a erguer Montes Claros. Eles tiveram ligados para sempre seus nomes nos logradouros da cidade, como prova de reconhecimento dos montes-clarenses e esses seus filhos. Iniciaremos pelo Major Prates – Antônio Prates Sobrinho – nosso avô. Fugiremos o mais possível do modelo redação de grupo escolar e o trabalho será realizado sob forma de crônicas – divulgando, inclusive, fatos pitorescos de suas vidas.

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- Januarinha, trouxe um doce para você. Igual a este eu garanto que nunca provou!

Era um picolé de limão, dos primeiros feitos em Montes Claros, por volta de 1924, quando o gelo chegou por aqui. O Major Prates, na hora do lanche, apareceu com essa novidade que ofereceu à sua esposa Januária Olegária Lafetá Prates – apelidada de Januarinha e Jaínha – experimentar. Era ela nascida em Coração de Jesus , filha do comendador Januária da Costa Lafetá e de Olegária Ferreira da Costa Lafetá. Vovó Jaínha agradeceu, providenciou um pires e guardou-o para comer na sobremesa, após o jantar – algumas horas depois. Só encontrou o pauzinho do picolé sobre uma limonada... Durante muito tempo esse fato foi alvo de caçoadas e brincadeiras.

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O Major Prates, cujo nome completo era Antônio Prates Sobrinho, apelidado de Nil pelos irmãos, oficial da Guarda Nacional, nasceu em Montes Claros em 25 de novembro de 1872, filho primogênito de José Rodrigues Prates – Dindinha Bizinha – que ficou famosa pela sua fortíssima personalidade. Era neto do Coronel Prates, o primeiro membro da família que recebeu o nome de José Rodrigues Prates, o abolicionista, advogado e professor da Escola Normal – que emprestou seu nome à conhecida Avenida Coronel Prates. Homem valente, personalidade marcante, que sempre desconheceu o medo foi o Coronel Prates herói da causa abolicionista – o que lhe valeu três atentados contra a sua vida. Corajoso, enfrentava qualquer situação de peito aberto e dele contava o Major Prates, tamanho era a o seu desassombro que toda vez que o avô saía à rua a família inteira ficava ajoelhada, em casa, aos pés de uma imagem de Nossa Senhora, a quem implorava que seu chefe retornasse vivo ao sobrado da Praça Dr. Chaves, onde morava, por ele construído em 1857.



O Major Prates, como era conhecido, concluído o curso Primário, matriculou-se na Escola Normal em Montes Claros, diplomando-se em 1889. Prosseguindo os estudos seguiu para Ouro Preto, onde estudou no Colégio Mineiro, interrompendo o curso por motivo de saúde. Regressando a Montes Claros, ocupou a cadeira de Geometria da Escola Normal. Foi promotor de justiça interino e exerceu vários outros cargos, como o de escrivão de órfãos, coletor municipal, delegado de polícia, por várias vezes, oficial de gabinete do presidente da câmara municipal, da qual foi secretário, elegendo-se vereador em diversas legislaturas. Foi o fundador e primeiro presidente da União operária montes-clarense e, por ocasião do recenseamento de 1920, desempenhou as funções de chefe do Norte de Minas Gerais. Foi diretor e redator-chefe do jornal Montes Claros.

Mas a advocacia foi o campo em que o Major Prates mais se destacou, em seus 53 anos de vida, exercendo-a, também, em São Francisco, Curvelo, Grão Mogol, Coração de Jesus – à época distrito de Montes Claros, Belo Horizonte e outras cidades. Dotado de vasta cultura jurídica e humanística, foi considerado o maior orador de seu tempo, tendo brilhado especialmente em vários júris, sendo comum deixar a sala dos tribunais carregado pelo povo. O Major Prates advogava de graça para as pessoas pobres, o que lhe granjeou enorme fama e grande prestígio. Montes Claros, com toda justiça, deu seu nome a um dos mais importantes e populosos bairros da cidade.

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Vovó Jaínha, que tinha verdadeira paixão pelo neto, de eterna e saudosa memória, possuía incontáveis qualidades e virtudes que sempre a tornaram muito querida não só em Montes Claros mas, também, em Coração de Jesus – sua terra natal – embora sua personalidade fosse por demais conservadora, quase puritana. Assim, implicava diariamente com o hábito de seu marido, o Major Prates, tomar uma dose de aperitivo antes do almoço e do jantar. Nada mais natural e até simpático, menos aos olhos de Vovó Jaínha, que via nisso um mau exemplo para os filhos, quase um pecado trazer um vício tão terrível para dentro de casa. E sucediam-se discussões, desentendimentos sem fim, até que o Major Prates, cansado de tudo aquilo, resolveu dar um jeito na situação. Procurou o Dr. João Alves, médico e seu fraternal amigo, explicou o que estava acontecendo e pediu-lhe:

- Ô João, passa uma receita para mim, com aquela sua letra que ninguém entende, capricha no ilegível, que eu vou fazer bom uso dela... Vai me resolver o problema.

E assim foi feito. Naquele tempo, não havia remédios prontos nas prateleiras das farmácias. Todos eles eram manipulados, ou seja, feitos a mão, preparados artesanalmente nas próprias farmácias que possuíam todos os ingredientes necessários à composição de medicamentos. O freguês encomendava o remédio e depois de pronto a receita do médico era pregada no vidro e estava o assunto resolvido. Pois o Major Prates arranjou um vidro de remédio dos grandes, encheu-o de pinga, pregou a receita ilegível do Dr. João Alves no dito cujo e chegou em casa pedindo:

- Olha, Januarinha, o Dr. João Alves me passou esse remédio aqui para umas dores de cabeça que eu venho sentindo. Um cálice antes do almoço e outro antes do jantar. Por favor, me lembra, hein/image/image.jpg?f=3x2&w=300&q=0.3"right">Fale conosco: felippeprates@ig.com.br e figure no livro Nós, os Prates – modéstia à parte... em fase de redação por este autor.

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