Mesmo em uma era dominada por tecnologias, soltar papagaios (ou pipas) ainda está entre as atividades mais lúdicas e prazerosas da infância. Ironicamente, porém, esse hábito, sobretudo na área urbana, tem se tornado um dos mais perigosos em razão do uso indiscriminado do cerol e das chamadas linhas chilenas, que transformam brinquedos em armas letais.
Passadas nos fios que conduzem as estruturas, misturas de cola, vidro e outros materiais servem para cortar as linhas de outros papagaios. Trata-se de uma competição aérea que gera bons momentos de divertimento a quem a disputa. Mas também causa mortes, ferimentos e sérios danos a veículos e à rede elétrica.
Neste ano, oito pessoas já foram vítimas desses artefatos em Montes Claros. E esse número tende a subir, já que o período propício à brincadeira está apenas começando.
A Cemig estima que 200 mil consumidores mineiros ficaram sem energia ao longo de 2018 por acidentes na rede causados por fios de papagaio. Somente na região Norte, nos quatro primeiros meses do ano, foram 101 desligamentos, prejudicando 35.957 clientes.
Enquanto vítimas e prejuízos se multiplicam, o poder público concentra-se em campanhas educativas, como a “Cerol mata”, que se repetirá este ano. Autoridades lembram que há uma lei no Estado para coibir a prática, com multa de R$ 1,5 mil e possível prisão do infrator. Mas as estatísticas de acidentes teimam em crescer. Ideal seria que a população compreendesse que pipas devem ser brincadeira saudável, não sinônimo de tragédias. Ou, talvez, fazer como no Oriente, onde quem tem problemas empina papagaios e corta as linhas, para que se percam no céu e levem consigo as aflições.