Economia no lar

Mara Narciso, médica/jornalista
19/06/2017 às 23:59.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:09

O discurso e a prática podem divergir, mas combinam quando se trata de avaliar a economia doméstica. O dinheiro do seu trabalho é nosso, mas o dinheiro do meu trabalho é o “meu dinheiro”, ela diz.

A sociedade patriarcal manda no Brasil em 2017, ainda que mais da metade dos lares sejam comandados por mulheres, e a porcentagem feminina na política tenha subido de cinco para 10%. Precisa crescer mais para que os interesses femininos sejam defendidos e não tratados com deboche por Gentilis e Bolsonaros.

O sexo frágil já viveu piores dias, está melhor agora, mas ainda há mulheres que vivem de ser lindas.

Detalhe: só quem é feia reclama disso.

Qualquer relacionamento é uma troca, mas o homem ganha o maior quinhão. Continua de pé o binômio jovem, inculta, pobre e bela versus velho, intelectual, remediado e feio.

Tentem inverter a equação e compreendam a rejeição.

Abaixo a diferença de mais de dez anos!

E podem dizer que é preconceito. Sim, é, ainda assim é ridículo.

O trabalho do lar é da mulher, e pronto. Usar o fogão e cuidar de menino é função feminina.

Quando perguntada sobre as atividades masculinas na casa, a mulher defende o marido dizendo “ele me ajuda”.

O homem comprometido com o bom andamento do lar, aquele aderente a uma parceria equilibrada, assume vários papéis, pois sabe que, em relação à mulher, o homem tem 60% a mais de força nos braços.

Lavar panela, tapete, parede, roupas e o chão são atividades próprias para o sexo forte. “Serviço de casa nunca acaba”, lamentam as escravas domésticas. Mesmo quando os maridos fazem metade das tarefas, a parte feminina do casamento reafirma o auxílio recebido.

Nas questões financeiras, quando ambos trabalham fora, independente do tempo ausente e do montante que trazem, a mulher se julgará coadjuvante, pois o protagonismo cabe ao homem.

Mesmo quando ela ganha mais do que ele, dirá humilde: eu ajudo a ele. Esta frase deveria estar superada, mas persiste um compreensível complexo de inferioridade.

As décadas avançaram, desde a mini-saia e a pílula anticoncepcional, mas a sociedade mantém um papel secundário para o sexo feminino.

Há quem queira a esposa em casa criando os filhos. Que a prioridade seja a prole bem olhada, e é até possível encontrar a felicidade dentro do lar, mas a maioria precisa mais do que isso. Um companheiro cuidando da metade do serviço doméstico fará a diferença.

Buscar o equilíbrio da instituição casamento, tantas vezes dita falida, é uma arte semelhante ao equilibrismo numa slackline a 150 m de altura.

Ainda que a divisão de tarefas e ganhos seja adequada, a mulher se mantém num papel menor: homem é fortuna, mulher é prejuízo.

Está implícito no inconsciente coletivo.

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