Desarmamento: um assunto que divide opiniões

Jornal O Norte
09/09/2005 às 09:01.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:51



Alunos do curso de jornalismo se manifestam contra ou a favor da compra de armas de fogo  pelo cidadão comum

No dia 23 de outubro será realizado o referendo popular sobre o desarmamento no país. Alguns segmentos da população já estão se manifestando, como ocorreu na reunião de 30 de agosto na Câmara Municipal de Montes Claros. A vice-presidente da casa, vereadora Fátima Pereira, defendeu o não desarmamento do cidadão comum alegando que este tem direito a se defender e não é ele que fará mal à sociedade. Afirmou, ainda, que ficará mais fácil para os bandidos se os eleitores votarem a favor do desarmamento, pois os criminosos “estarão livres para agirem sabendo que a população não estará armada”.

Já o advogado e professor de Direito Público da USP, Dalmo Dallari, diz que todos os argumentos usados pelos meios de comunicação e no Congresso Nacional em favor da liberdade na venda e compra de armas procuram esconder o verdadeiro e real objetivo, “que é o comércio de armas, altamente lucrativo e causa das maiores tragédias sociais e individuais da humanidade”.

E você, o que pensa a respeito?

É uma questão polêmica que exige reflexão. As pessoas estão indecisas e pensam nos prós e contras da situação. Alguns alunos do 2º e 3º períodos do curso de Jornalismo do CRECIH/Funorte aproveitaram as discussões em torno do assunto e apresentam seus comentários a seguir. Os textos foram elaborados sob a coordenação da professora Patrícia Braga.



 

 



PÓLVORA


Andréia Jannine dos Santos Silva

Os famosos filmes de “bang-bang” parecem ter passado da ficção à realidade. É esse o cenário visto no Brasil atual; diariamente presenciamos homicídios e chacinas provocados pela inadequada utilização de armas, muitas vezes ilegais.

A segurança parece ter desaparecido.  A situação fugiu ao nosso controle, não é mais possível ter tranqüilidade em meio a tamanha violência e criminalidade. Buscando a autodefesa, procuramos “portar” um instrumento que dizem nos proteger, já que a segurança pública, na precariedade em que se encontra, acaba não sendo digna da confiança da população.

Cada vez mais a comercialização de armas aumenta e, com ela, os crimes banais, sem causas convincentes, que tendem a influenciar crianças e jovens a perpetuarem uma situação vista em seu cotidiano. Hoje, tornou-se constante e corriqueiro as crianças trocarem uma “arma de plástico” por uma “de verdade” que encontram nos guardados do pai – e fazer uso da mesma para uma “diversão” chamada roleta-russa.

A campanha pelo desarmamento está ganhando mais adeptos. Dizem que as pessoas de bem são as únicas participantes, mas vale ressaltar que esses indivíduos já deram a contribuição para barrar essa escala de massacre que parecia contínua. É importante começar por baixo para alcançar um objetivo e, nesse caso, foi o que aconteceu: aos cidadãos honestos cabe o incentivo e a cobrança aos governantes para a melhoria da segurança e, o mais importante, a valorização do individuo, oferecendo-lhe uma vida mais digna, da qual as cenas de tiroteio não farão parte.

Cabe a você, leitor, a decisão: ou ajuda a dar o primeiro passo rumo ao total desarmamento ou contribui para a decadência de um país que um dia sonhou com a harmonia e acabou, em meio ao caos, cheirando à pólvora.

REFERENDO


Breno Rafael Freitas

O desarmamento é uma questão polêmica, e por esse motivo, o governo não quer se responsabilizar, deixando ao povo a decisão final e, por conseqüência, o mérito ou desgraça do destino dessa problemática social do cotidiano brasileiro.

A verdade é que o sistema de segurança no Brasil não tem condições de zelar pela vida do cidadão. Esse, ameaçado, encontra na arma de fogo um instrumento fundamental para a sua defesa contra a criminalidade em seu meio. Sabemos que esse não é um método eficaz para alcançar o bem-estar social, tampouco para reduzir os índices de violência exorbitantes do nosso país, porém o direito à legítima defesa é natural e inerente ao ser humano.

O quadro de violência provocado pelo uso de armas de fogo vai muito além do fato de se ter uma arma em casa, mas excede-se no contrabando de armas ilegais - que entram facilmente pelas nossas fronteiras e facilitam os crimes mais hediondos sustentados, na maioria das vezes, pelo tráfico.

Essa triste realidade deve ser encarada de forma diferente, com extensiva repressão à criminalidade, com o apoio de leis que favoreçam a sociedade de bem e punam verdadeiramente a marginalidade. Para isso, o governo deve se posicionar com liderança ofensiva frente aos cidadãos, pois o que estamos assistindo é a covardia dos nossos governantes, que usam o Referendo para se esconderem atrás da sociedade.

Se a última palavra será do povo, votemos, então, pela proibição da venda de armas, fazendo dessa experiência o primeiro passo em busca da paz.

O VOTO PELA VIDA


Raphael Bicalho

“Homem chega em casa bêbado e mata esposa com uma arma calibre 38”.

“Discussão em um campo de futebol termina em assassinato”.

“Briga em bar acaba em tiroteio”.

“Aluna mata professora com a arma do pai”.

“Roleta-russa com pistola caseira faz ‘brincadeira’ virar tragédia”.

Notícias como essas são comuns na imprensa e ilustram um número triste da realidade brasileira: crimes desnecessários cometidos por pessoas que, por guardarem uma arma em casa, têm a falsa sensação de segurança.

Há quem afirme que é direito do cidadão comum portar uma arma por legítima defesa. O que acontece, porém, é que esta mesma arma pode destruir vidas por motivos banais. Outras pessoas acreditam que são os bandidos que devem ser desarmados, não as pessoas de bem. Este é, na verdade, um discurso fácil, vazio e que cai no lugar comum, pois como é possível desarmar apenas os bandidos? Como classificar quem é ou não bandido? Será que ter uma arma em casa é uma questão de segurança?

O assunto deve ser analisado com muito cuidado pelos brasileiros no dia 23 de outubro. O correto é votar, sim, pela proibição da compra de armas de fogo. Pense/image/image.jpg?f=3x2&w=300&q=0.3"center">. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .



A COMPRA DE ARMAS PELO CIDADÃO COMUM DEVE SER PROIBIDA?


Cristina Ruas

Enquanto houver deficiência no setor de segurança por parte do governo é inconcebível que seja retirada do cidadão de bem uma arma que serve apenas para sua defesa.

A arma de fogo, instrumento inventado em 1425 para a guerra, foi causa da morte de muitas pessoas inocentes. Porém, quem “faz” estas vítimas são bandidos e não a maioria da população. Sem dúvida, uma arma nas mãos de uma pessoa que não sabe manuseá-la é algo extremamente perigoso, mas, por outro lado, é a última alternativa para quem busca um mínimo de segurança.

Portanto, minha opinião é que desarmar o cidadão não é a solução.

DESARMAR OU NÃO?


Cássia Rodrigues

Na problemática sobre a aquisição de armas pelo cidadão, subentende-se que existe uma necessidade urgente: a de segurança. Nesse momento, em que o Estado não cumpre com a sua obrigação de garantir a segurança pública, aparece um único caminho: o do direito natural e inalienável que o ser humano tem de lutar em legítima defesa, independentemente do objeto usado para essa defesa. O desarmamento a se impor atingirá apenas o cidadão idôneo, pois os criminosos jamais vão se desfazer dos instrumentos que viabilizam sua “profissão”.

Conclui-se, então, que proibir a venda de armas não coibirá nem diminuirá o índice de violência no país. Talvez, se o governo monopolizasse o comércio de armas, revertendo a renda em investimentos na segurança, poderia, mais tarde, tomar medidas restritivas quanto a aquisição de armas pelo cidadão comum. Mas, com certeza, este não é o momento.

NÃO PROIBIR A VENDA


Ticyana Santos Fonseca

De que adianta desarmar um cidadão de bem, se o bandido vai continuar armado? A lei se tornará válida para aquele que possui porte de arma, mas não para o que compra arma no mercado ilegal.

O direito à legítima defesa, garantido no código penal, vai ser infringido com essa proibição. O cidadão de bem, que compra uma arma, faz isso porque a polícia não tem preparo para defendê-lo e a sua família.

O número de mortes provocadas pelas “mãos dos bandidos” (que não precisam de porte para adquirir uma arma) é muito maior do que o provocado pelas pessoas que possuem porte legal. Isso significa que as mortes vão continuar acontecendo.

Assim, penso que a compra de armas não deve ser proibida, pois estaríamos “tirando” o direito à autodefesa de um cidadão de bem para deixar armado o “cidadão do mal” – que pode invadir a nossa casa, tirar as nossas vidas e não levar “nada em troca”.




Este texto faz parte da página produzida pelos acadêmicos do curso de Jornalismo do CRECIH/Funorte - Editores: Ana Gabriela Ribeiro


e Elpidio Rocha - Coordenador do curso: Ailton Rocha Araújo - Coordenadora de produção: Tatiana Murta

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