Damião Alves
Olá, Ana. Lendo sua crônica de quarta-feira no Estado de Minas, lembrei-me de um fato quase parecido com o seu em algumas características. Eu nunca fui de criar bicho algum, não sei se por minha causa ou causa deles mesmo. Quando adolescente, cismei de criar um curiozinho de peito branco, por pura ilusão e curiosidade de ver meus amigos criarem tantos pássaros e descobrir que o curió tem um canto muito suave.
Pois bem, comprei um curiozinho, pus na gaiola que já havia guardado e por hora, quando podia, quando tinha folga, sentava ali pelo terreiro para ouvir o canto do curió. Com isso, o tempo foi passando e o curió cantava cada vez mais. Eu já ate pensava em ter mais uns dois bichinhos, manter uma orquestra de curiós, quem sabe. Certa noite de imenso calor estava ali rabiscando alguns poemas, quando ouvi um chiar esquisito, tipo um chocalho de cobra misturado a um coaxar de sapo. Nem liguei, pensei que fosse algum inseto em êxtase.
Porém, aquele coaxar me incomodava. Levantei-me e fui até o quintal verificar o que estava realmente acontecendo. Mal saí na varanda a olhar a gaiola, lá esta o motivo de tanta algazarra. Uma enorme e esverdeada rã dentro da gaiola, com suas verdes e grandes pernas secas agarradas ao arame e os braços dando um forte abraço no curió, que chiava os seus últimos momentos de vida.
Estava bem próximo, mas quis me aproximar mais ainda. Tentei em vão salvar aquele infeliz curiozinho. Lá se foi o meu esforço e também minha esperança. Tive essa mesma dúvida que você.
- E se essa rã assassina de curiós de repente começar a atacar a gente?
Fiquei ali parado, a rã pulou para o outro lado e sumiu dentro das ramas verdes dos maracujás. A mim só restou o curizinho morto, a gaiola suja e aquela incansável dúvida que me dói a cabeça de tanto pensar.
- Rã se alimenta de curió?
- Curió é comida de rã ou será que fui vítima de um presente doloroso e inesperado?
*P.S.: Ana, parabéns pelas crônicas. Gostaria que lesse também as minhas crônicas no site o norte.net.