Antônio Augusto Souto
Seguia eu por uma rodovia do oeste, quando, inesperada e imprudentemente, velha caminhonete Chevrolet saiu de estradinha poeirenta e invadiu a pista. Tive que usar o freio, com vigor, para não bater na sua traseira, uma vez que a sinalização horizontal não permitia ultrapassagem.
Três rapazes que estavam na pequena carroceria, segurando geladeira usada, fizeram enorme algazarra, com a clara intenção de provocar-me. Não dei atenção.
Logo que a ultrapassagem ficou possível, saí, para fazê-la. O motorista da caminhonete, no entanto e querendo brincar comigo, resolveu acelerar. Diminuí a velocidade e voltei ao meu lugar, à espera de momento mais propício. Os rapazes da carroceria repetiram a algazarra, inclusive fazendo aquele gesto idiota de “passar por cima”. Não me abalei.
Motorista há mais de quarenta anos, sei que guiar automóvel não é brincadeira de criança (já vi tanto acidente provocado por imprudência!). Continuei atrás deles, que seguiam, lentamente, buzinando e rindo, provocativos.
Em momento e lugar apropriados, fiz a ultrapassagem, com certa dificuldade, porque eles, novamente, aceleraram.
Pouco tempo depois, os malucos, em alta velocidade e em curva perigosa, passaram por mim, fazendo festa, e sumiram.
Não demorou muito e vi poeira levantada, à frente. Diminuí a velocidade, por precaução. Logo, apareceu a geladeira, esparramada no asfalto. Um dos três rapazes brincalhões estava perto dela, caído; a caminhonete estava de rodas para cima, em vala, além do acostamento.
A leitora acha que parei, para prestar o socorro que a lei e o espírito humanitário prescrevem?
Pois não parei, minha querida.
E não foi por uma espécie de vingança, que meu tempo disso já passou: logo atrás de mim, vinha ambulância da prefeitura de Lagoa da Prata; estavam comigo, além de minha mulher, duas crianças, as netas. Por outro lado, nada entendo de primeiros socorros.
Confesso, no entanto, que tive vontade de parar e socorrer aqueles infelizes brincalhões.