Greve dos caminhoneiros

Antônio Álvares da Silva - Professor universitário
Hoje em Dia - Belo Horizonte
29/05/2018 às 20:51.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:20

A greve é um fenômeno típico das sociedades industrializas e generalizou-se a partir de meados do século passado para todas as nações do mundo ocidental. Antigamente, as paralisações se realizam em setores predominantemente privados e suas consequências eram restritas. Hoje, a sociedade está intrinsecamente conectada. Lembre-se do primeiro volume da obra clássica de obra de Manuel Castells, sociedade em rede. Romperam-se as barreiras da comunicação. Internet, rádio, televisão, telefone, tudo isto são meios de aproximação das pessoas, superando os empecilhos do espaço e da distância. O homem se tornou senhor do universo. Está, ao mesmo tempo em todo lugar.

Do ponto de vista da produção de bens e serviços, as empresas e os trabalhadores também estão em rede. O volume de criação e a intensidade da produção fizeram com que o mundo, rompendo obstáculos se tornasse único. Por isso, não há mais conflitos maiores ou menores. 

A greve dos caminhoneiros explodiu dentro desta realidade. Em princípio há sindicatos dos dois lados, mas o produto – combustível e gás – tem preço tarifado, por isto atrai o governo que entra na disputa e atua como representante da sociedade. Como o aumento do combustível interessa também a muitas empresas (distribuidoras, revendedoras etc) e ainda a transportadores autônomos, estes também entraram em “greve”, unindo-se aos trabalhadores, porque o aumento lhes é vantajoso. Como o locaute é proibido pela legislação brasileira, há a violação da lei de greve.

Estamos diante de um fato inédito. Empresários, empregados, autônomos se uniram contra o governo, fazendo reivindicações econômicas, umas razoáveis, outras muito onerosas, que envolvem rebaixamento de tarifas, isenção de cobrança de pedágio, horário de trabalho e outras várias, que se misturam com o trabalho e a economia.

Como o combustível é o sangue que movimenta a economia, a sociedade literalmente parou. Carros, aulas, universidades, comércio, hospitais, indústria pararam ou caminham neste sentido. Como evitar esta situação, se a violência e o radicalismo tomaram conta das pessoas? A força, separada do direito, é sinônimo de arbítrio. Quem vai controlá-la se a greve continuar? A violência oprime o direito e o que deveria estar sendo discutida em mesa de negociação transferiu-se para o bloqueio das estradas, obrigando a intervenção da força pública para conter a violência.

A sociedade já sabe que nestas horas ela é a que mais sofre: hospitais, escolas, trabalho, tudo isto sai dos eixos para cair na desordem. Qual a lição de tudo isso que estamos vendo? Dos fatos tiramos fundamental lição para nossa democracia: o diálogo social e a permanente negociação entre empregados, empregadores e governo devem ser uma constante nas relações trabalhistas e econômicas. Os caminhoneiros mostram que as paralisações são uma potente força e os empregados podem utilizá-la quando houver irredutibilidade. E o Estado deve atuar como regulador (não como interventor) da relação de trabalho, mantendo a ordem, promovendo o progresso e a produção para que haja sempre harmonia entre quem trabalha e empreende. 

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