Estamos matando o nosso futuro

Marco Antônio Barbosa - Especialista em segurança e diretor da CAME do Brasil
Hoje em Dia - Belo Horizonte
14/06/2018 às 06:40.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:35

Entra ano e sai ano a violência fica cada vez mais exposta nos noticiários. E uma parcela importante para o futuro do nosso país é a que mais sofre com esta situação: os jovens. Mais uma vez alarmante, o novo Atlas da Violência – divulgado neste mës pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública – mostra que o Brasil alcançou a marca histórica de 62.517 homicídios no ano de 2016. Deste número, 53,7% são jovens entre 15 a 19 anos.

No país, 33.590 adolescentes saíram de casa e não voltaram em 2016, sendo que 94,6% eram do sexo masculino. Entre os homens, o crime mata mais do que qualquer doença, batendo 56,5% das causas de óbito.

Os dados também mostram como as políticas de segurança e públicas (que criam oportunidades para este público) são falhas e ineficientes. Os números aumentaram 7,4% em relação ao ano anterior. Considerando a década de 2006-2016 o país sofreu um aumento de 23,3%.

Nada efetivo foi feito para trazer segurança para as nossas crianças e isso é um problema complexo que começa na falta de investimento em educação. Sem ensino, sem oportunidade. Com isso, o crime aparece como única solução, principalmente para a parcela mais pobre da população. Isso sem contar a falta de investimento em infraestruturas básicas como saúde, moradia e transporte. Essa conta chega a um resultado muito triste. Jogamos mais uma geração na mão do crime organizado que a usa como bem entende. Que a usa como soldados.

O estudo aponta outra questão que deve ser debatida: em alguns estados o problema é ainda maior que em outros. Enquanto houve redução nestas taxas em São Paulo, por exemplo, no Rio Grande do Norte cresceu 382,2% entre 2006 e 2016. Isto é reflexo da falta de uma visão geral da situação pelos governantes. Mostra como nossos políticos federais (deputados, senadores e presidente) não conseguem coordenar políticas integradas. 

O crime se espalha pelas periferias, seja em uma favela ou em estados mais pobres. As facções são as mesmas do Oiapoque ao Chuí e, na maioria das vezes, passam dessas fronteiras para outros países. Em contraponto, as ações de nossas polícias são cada vez mais locais. Um contraste mortal. Qualquer ação, como uma intervenção em um estado, não fará cócegas aos problemas. A questão deve ser tratada nacionalmente.

A situação é claramente preocupante, mas enquanto postergarmos as medidas de longo prazo, mais estes números baterão marcas históricas. É necessário investir nos nossos jovens hoje, para que se tornem adultos mais conscientes e ajudem a mudar o Brasil. 

Atualmente, a luta é ainda mais atrás. Não conseguimos deixá-los chegarem a fase adulta. O nosso futuro está morrendo na nossa frente. Como pensar em novos políticos, se não deixarmos nossos jovens crescerem?

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