Chegam para a troca de turnos, em Plêiades, vestidos com a cor dos lírios do pântano e do manto dos anjos. São os guardiões do dia e da noite hospitalar. Vêm exercer a nobre função da enfermagem.
Missionários que patrulham o tratamento de internos, buscando a redenção das nossas dores e a nossa cura. Detectam os primeiros sinais da nossa recuperação. Foram treinados arduamente aprendendo com a dor e os males alheios.
A enfermagem é uma doutrina de compaixão!
Acompanham a noite insone dos ansiosos, dos apáticos, dos racionais, dos ansiosos, dos desacelerados, dos brutos.
e dentre os olhares
não precisam deter-se nos objetos
que já estão cabalmente na memória.
Conheço os costumes e as almas
e esse dialeto de alusões
(Borges)
São conhecedores de nossas almas e de nossos ais! E agora aplicam as lições em suas missões de sacrifício! Nos patrulham no silêncio das madrugadas, indo e vindo por corredores insólitos, ouvindo gritos de angústia, incertezas, reclamações nem sempre justas.
Suas percepções estão sincronizadas com as nossas, no leito de dor. Passarão as informações para o papel de onde abnegados médicos extrairão as decisões
Estimular a confidência
lhe trazer confiança
assistir certos atos
anotar os detalhes
medicar com rigor'
Onze e quinze (Adilson Cardoso)
Na penumbra do quarto, vejo o brilho dos olhos de Sabrina a observar as minhas reações aos medicamentos, a dirigir palavras de conforto... consolo. São muitos e tantos os anjos da noite, que seria difícil enumerá-los.
Pastores e pastoras da jornada médico-hospitalar, aprendendo com o nosso sofrimento, alegrando-se com a nossa recuperação. E, em cada turno de trabalho, uma nova experiência, um novo aprendizado, uma nova aventura.
Aguardo com tranqüilidade as decisões dos mestres preceptores do amigo do peito Noasses Diamantino, do polivalente Geraldo Sérgio, e tantos outros discípulos de Hipócrates. Da geração primeiríssima de residentes médicos, campeões de qualidade no atendimento.
Assim como o pessoal burocrático, atendentes da magnífica cozinha, acadêmicos, pessoal de limpeza, manutenção, portaria, auxiliares, e o estafe que, como um só corpo, forma o grande Hospital Universitário Clemente de Faria.
Aprendendo a doar de si mesmos, mesmo com o pouco que dispõem de estrutura física e equipamentos. Lidam com limites, buscando superá-los. Por aqui se diz:
- Faz-se o possível e o impossível!
Correm para salvar vidas de outros, mandados a este mundo de meu Deus em missão, premidos pelo espaço exíguo, mas dispostos a cumprir a sina dos Anjos da noite, componentes da Irmandade Branca do Hospital Universitário Clemente Faria.
Leito 12 - Quarto 2 Clínica
Agradece-lhes o campeão de Fá.