A inveja nas organizações

Lucas Diegues, diretor executivo da WA Marketing & Consultoria
09/08/2017 às 20:32.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:00

Não é de hoje que o olhar do invejoso causa prejuízos. Na história bíblica, Adão e Eva, por terem inveja do que é belo, desafiaram as ordens de Deus, comeram do fruto proibido e foram expulsos do paraíso. Polícrates, na Grécia Antiga, o tirano da ilha de Samos, livrou-se dos irmãos para deter a fortuna do império somente para si e padeceu, anos depois, vítima do próprio deslumbre e ignorância.

E no ambiente corporativo, será que é diferente? Pesquisas desenvolvidas pelas pesquisadoras da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, Tanya Menon e Leigh Tompson afirmam que não. Para elas, o hábito de celebrar as vitórias cotidianas de um colaborador encobre, muitas vezes, outro lado soturno e patológico: “quero que esta pessoa se dê mal para que eu alcance os meus objetivos”.

Responsável por causar rupturas, queda na produtividade e insatisfação, este sentimento está mais preponderante, principalmente em épocas de recessão econômica. Por que será? De acordo com as especialistas, o invejoso está sempre focado na visão do outro e esquece que, dentro de si mesmo, existe um enorme quantum de energia criativa e transformadora.

Assim como Adão, Eva e Polícrates, é mais fácil cobiçar o que as outras pessoas possuem, uma vez que isso isenta o indivíduo da responsabilidade pelo próprio sucesso. Psicologicamente falando, a inveja cria a ilusão de que os culpados advêm do ambiente externo, logo, necessitam ser destruídos, rechaçados e eliminados. E quanto mais rápido, melhor!

Quanto menor o número de concorrentes, maior o delírio de poder, o que diminui a angústia de um possível fracasso. Com medo de perder o pouco que possui e, assim, cair no vazio da própria existência, o invejoso fecha os olhos para a realidade, construindo um universo em que ele está acima do bem e do mal, livre de qualquer responsabilidade.

Contudo, será que este movimento realmente funciona? Para Tanya e Leigh, quanto mais o indivíduo investe na inveja, menos chances ele possui de usufruir daquilo que possui de melhor. E, assim como alude o ditado popular “em terra de cego, quem tem olho é rei”, olhar para dentro de si mesmo é a única forma de despertar habilidades para uma carreira promissora.

Para isso, faz-se necessário recorrer a mudanças substanciais de pensamento. A primeira delas consiste em utilizar a inveja como catalisadora para o autoconhecimento. Em vez de concentrar esforços em tentar eliminar o outro, por que não recorrer às autorreflexões: “será que eu também possuo a qualidade que eu cobiço naquela pessoa?”, “em quais momentos eu já consegui agir com ela?” e “como posso desenvolvê-la em meu dia a dia?”.

Focar nos próprios objetivos também é primordial. Quanto mais empenhado o indivíduo está em desenvolver as suas atividades, ele minimiza a inveja, produzindo, assim, um ciclo intermitente de realizações e bem-estar. Ao invés de direcionar atenção para o meio externo, administrar pensamentos, direcionando-os para si, modifica a estrutura psíquica, criando caminhos neurais repletos de significado e propósito.

E por que não substituir a inveja por emoções construtivas? Agradecer com frequência, ajudar a sanar as dificuldades do colega de trabalho e desenvolver subordinados permitirá que elos afetivos sejam criados, solapando a destrutividade causada pela inveja corporativa.

Analisar o macroambiente, em detrimento da visão limitada dos fatos isolados, também conduz o indivíduo rumo a uma melhor percepção da realidade. Na existência de situações desagradáveis, lembrar-se das conquistas e dos benefícios adquiridos ao longo da trajetória profissional é o caminho ideal para estabilizar emoções belicosas, reacendendo a chama da motivação e da performance. Afinal, para quem quer enxergar, a vida será sempre mais bonita.

Segundo pesquisa, o invejoso está sempre focado na visão do outro e esquece que, dentro de si mesmo, existe um enorme quantum de energia criativa e transformadora
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