“Com Darcy e Israel”

Manoel Hygino - Membro da Academia Mineira de Letras
Hoje em Dia - Belo Horizonte
06/07/2018 às 07:37.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:14

Darcy Ribeiro passa a ser nome do anexo do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, em que se encontra o BDMG Cultural e sua galeria de arte. Na Rua Bernardo Guimarães, 1.600 (para quem ainda não sabe), junto ao edifício-sede da instituição, batizado como Governador Israel Pinheiro, em Belo Horizonte.

Pontos de contato: Darcy é meu conterrâneo de Montes Claros, nascido em 1922; convivi com Israel, filho do também ex-presidente de Minas João Pinheiro da Silva, no o período em que estive à frente da Assessoria de Imprensa do governo de Minas. Agora os encontros, nos edifícios do Banco, que recebem o nome dos dois ilustres mineiros.

Sequer conheci Darcy, cada um tomou seu rumo na vida, mas mantive respeito por seu trabalho nos vários campos a que se dedicou e às obras que construiu, entre as quais a Universidade de Brasília, os Cieps, no Rio de Janeiro, ali também o Museu do Índio, o Parque Indígena do Xingu, a Universidade Estadual do Norte Fluminense, sem falar no Memorial da América Latina, em São Paulo. E houve a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, elaborada quando senador. 

Foi uma figura singular na história brasileira, um brasileiro sinceramente apaixonado por seu país e confiante no futuro. A despeito de seus sofrimentos durante a ditadura militar, não desanimou, sempre pensando fazer do Brasil a mais bela nação do mundo. Faleceu, sem ver realizada a totalidade de seu sonho, mas convicto de que, algum dia, ele se realizaria. Como observou Eric Nepomuceno, conhecia e amava o Brasil. Conversava com todos, dos gabinetes de Brasília às tribos do Xingu, aprendendo sempre. Quando ia a nossa cidade natal, noite descendo, tomava direção dos transmissores da rádio de Paulo Narciso, assentando-se debaixo de uma grande árvore, presente às vezes o jornalista Fialho Pacheco, para contemplarem as luzes noturnas da cidade a ocidente. 

Sem conseguir concretizar todos os seus projetos, porque inúmeros, talvez irrealizáveis, não se inclinou à adversidade e às perseguições. Deixou romances como “Maíra” e “Migo”, escritos valiosos como “O Processo Civilizatório” , “As Américas e a Civilização” e “Teoria do Brasil”, somando 96 edições em diversas línguas. Ao dar o nome do Prof. Darcy Ribeiro ao prédio anexo ao BDMG, rende-se, assim, homenagem aos vários Darcy, cujo centenário ocorrerá daqui a quatro anos. Àquele mesmo Darcy, que me enviara, no princípio de sua missão ao lado e com nosso indígenas, o volume “Kadiweu: ensaios etnológicos sobre o saber, o azar e a beleza”, que trata de mitologia, xamanismo e arte. Nele, relatava e comentava a experiência, ao lado daquele grupo silvícola, remanescente dos “mbaxaá-guaikuru”, da fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai. Alguém saberá ou se lembrará?

Ficaram conhecidos como “os índios cavaleiros”, devido à sua grande habilidade em montaria, à sua grande criação de equinos e ao porte alto e forte. Em razão de serem guerreiros, as índias cadiuéus só costumavam ter filhos de seis em seis anos, pois como não poderiam carregar mais de um filho em cima do cavalo, optavam por só ter outro filho quando o primeiro já possuísse a capacidade de montar sozinho. Foram aliados do Brasil na Guerra do Paraguai, motivo pelo qual tiveram a posse de suas terras reconhecidas pelo governo brasileiro, ao final do conflito. 

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