A vida no palco prossegue

Mara Narciso - Médica e jornalista
Montes Claros
20/03/2018 às 06:11.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:56

“Minha vida era um palco iluminado, eu vivia vestido de dourado, palhaço das perdidas ilusões”. (Chão de Estrelas – Silvio Caldas e Orestes Barbosa)”.

“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios, por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos” (atribuído a Charles Chaplin)”.

Muitos disseram que a vida é um palco, inclusive Milena, a minha mãe. Fez essa analogia esclarecendo que a vida vem em atos teatrais. Em cada época, uma pessoa assume o centro do palco, é importante no momento, depois some. Comparação feliz. Melhor ainda é quando somos protagonistas e donos das rédeas da nossa vida, não comemos em mãos alheias e nem deixamos que as decisões importantes sejam tomadas por outros, à nossa revelia.

O tempo a tudo cura, até porque coloca em cena novos atores para substituir os que já saíram, e a memória afetiva daquela ruptura vai se tornando tênue, sendo possível o esquecimento. Ou quase. O tempo, esse ladrão de coisas e de pessoas, esse amigo que aplaca a dor, esse inimigo que nos rouba a juventude e a saúde e, por fim, a vida. Herói ou vilão? Sócio ou usurpador? Ele existe de fato ou é um artifício nosso, cujo conceito foi criado para compreendermos a existência? Para Fernanda Montenegro, “um mecanismo chamado tempo coloca tudo em seu devido lugar”. Mistérios para a nossa mente limitada decifrar.

Ou a vida seria “como uma onda no mar”, que não para, uma onda substituindo a outra, num vai e vem incessante, até quando se esgota a energia, e tudo se acaba? Não pode ser apenas isso, tem de ter algo mais, imagina o arrogante ser humano, que não aceita a sua total finitude. Sobre a vida depois da morte, circulava pelos corredores da Santa Casa a seguinte história. Vendo irmã Veerle aquecer água com o ebulidor, às 3 horas da manhã, e dando banho nas crianças da pediatria, todos os dias durante décadas, Konstantin Christoff falou: “Imagina, irmã Veerle, se não tiver céu, o que a senhora vai fazer”?

Os ciclos vão se substituindo como capítulos. A amizade se esvai, os interesses mudam, o encontro fora ocasionado pela circunstância, vem o vento ou o tempo e toca aquilo para longe. Pode-se dividir quase tudo com alguém, durante anos, e depois a pessoa se afasta, vira uma estranha, levando a vida a distância, sem nenhuma intercessão com sua existência.

Um desconhecido hoje, ainda que a desconfiança seja sentimento constante, poderá se tornar alguém próximo, amigo íntimo, confidente. Cuidado, a confidência pode parar na internet. Foi-se o tempo das pessoas puras. Há muita mentira. O que prepondera é o interesse momentâneo, algo que muitas vezes não fica claro. O ódio ganha espaço, foi colocado no centro do altar, mas amor e sinceridade persistem. Confiar virou sinônimo de ingenuidade, mesmo assim devemos ser sinceros e buscar a verdade, ainda que não saibamos mais o que ela é e nem onde está. Feito bruxa. Não acredito nela, mas que existe, existe.

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