A imortalidade das letras

Mara Narciso - Médica e jornalista
Montes Claros
10/07/2018 às 08:40.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:19

Montes Claros teve dois escritores imortais da Academia Brasileira de Letras, Cyro dos Anjos e Darcy Ribeiro, e tem um imortal da Academia Mineira de Letras, Manoel Hygino, sendo que João Vale Maurício e Waldemar Versiane também participaram dela. A imortalidade das academias de letras se dá pelas cadeiras, patronos e sucessores, e possui 40 vagas, como a Academia Francesa. Os patronos são escritores de reconhecido valor literário, escolhidos pelos fundadores para nomear as cadeiras. Após a ocupação, o sócio faz um elogio ao seu patrono. Quando o acadêmico é substituído, o novo ocupante fala a biografia do patrono e do sócio anterior, e assim sucessivamente. Não ser esquecido é a imortalidade que a academia garante.

A vacância da cadeira se dá por morte com subsequente indicação de outro nome ou a solicitação de um escritor, cuja produção literária é avaliada e seguida por uma votação.

Há em Montes Claros quatro academias de letras: Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, com 100 sócios; Academia Montes-clarense de Letras; Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas; e Academia Feminina de Letras de Montes Claros; cada uma das três últimas com 40 cadeiras.

A Academia Feminina de Letras de Montes Claros foi fundada há oito anos e tem como sócias mulheres de várias profissões e habilidades literárias: romancistas, cronistas, contistas, poetas, trovadoras e memorialistas. A agremiação incentiva a produção literária e publica antologias com temática variada. A nossa academia só tem mulheres, mas a intenção não é segregar, e sim ampliar o espaço literário para o gênero feminino.

Eponina Pimenta é minha patrona na cadeira dez. Fiz o elogio a essa mulher forte, nascida em Capelinha - Diamantina em 1895, em uma família de cultura elevada, sobrinha do primeiro bispo de Montes Claros, Dom João Antônio Pimenta, filha de médico, irmã de engenheiro civil e de dentista, que se formou normalista em 1913. Apesar de não ter se casado, foi mãe pela via da adoção de um sobrinho, ao qual deu primorosa educação. A professora era culta, dedicou-se ao ensino da Matemática e à religião católica. Morava em frente e zelava pela antiga igreja do Rosário. Chegou a morar no Palácio Episcopal com o filho Félix Pimenta de Carvalho. Foi evangelizadora no Bairro Santos Reis, cuidava da mãe enferma, falava francês, tocava piano e escreveu um romance, “Amar e Sofrer”, com o pseudônimo de Jerusia Morone. Esse detalhe da autoria faz dessa obra algo precioso, pois traz confissões com a liberdade do anonimato. Considerada uma professora severa e enérgica, como escritora Eponina se revela mais leve e poética, em harmo
nia com a cidade e seus costumes, o filho e a religião, além de mostrar dedicação aos pobres. 

Falecida há 40 anos, a professora merecia mais, por isso fui para além dos dados biográficos e seus números frios, trazendo Eponina de volta, em corpo e alma, com seus pensamentos e ideais. Para uma plateia de 17 confreiras e a família da homenageada, foi um prazer biografar, conhecer e mostrar que a imortalidade é possível por meio das lembranças dos que conviveram com ela, evitando a máxima de que “a memória seja uma velha louca, que guarda trapos e joga comida fora”.

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