Vinte motoristas multados ao dia por falar ao celular

Prática lidera o ranking de infrações em Montes Claros e expõe condutores, passageiros e pedestres a riscos de acidentes provocados em frações de segundos

Raul Mariano
Hoje em Dia - Belo Horizonte
20/09/2018 às 06:39.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:33
 (LEO QUEIROZ)

(LEO QUEIROZ)

Dois segundos podem passar num piscar de olhos, mas é tempo suficiente para que a distração no trânsito acabe em morte. Não por acaso, o uso do celular ao volante já é a terceira maior causa de acidentes automobilísticos no país, perdendo apenas para o abuso de velocidade e o consumo de álcool antes de assumir a direção, segundo a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet).

Em Montes Claros, os números comprovam que a prática irresponsável se tornou comum. Dados da MCTrans revelam que, em média, de janeiro a julho deste ano, 20 multas foram aplicadas todos os dias a motoristas que insistem em dirigir falando ao telefone ou manuseando o aparelho.

E não é difícil encontrar condutores dividindo a atenção com os smartphones, apesar de ser considerada falta gravíssima e acarretar multa de R$ 293,47, com perda de sete pontos na carteira de habilitação.

Um alerta nesta Semana Nacional do Trânsito, cujo tema “Nós somos o trânsito” tem a proposta de envolver toda a sociedade na reflexão sobre uma nova forma de encarar a mobilidade, chamando todos os envolvidos a optarem por um trânsito mais seguro.

Para especialistas, se o avanço da tecnologia trouxe facilidades, os riscos também vieram a reboque. O cirurgião Dirceu Rodrigues Alves, diretor do Departamento de Medicina do Tráfego da Abramet, afirma que o uso do celular representa mais de 90% dos acidentes causados por desatenção.

“Uma direção segura depende essencialmente das funções cognitiva, motora e perceptiva. Ou seja, necessita de atenção, capacidade de resposta e os sentidos como tato, visão e audição. Com o telefone na mão isso é impossível”.

AUTOMÁTICO
Dirceu Alves ainda destaca que, mesmo mantendo os olhos fixos no fluxo de automóveis, a pessoa que usa o aparelho não consegue manter 100% da atenção ao volante. “Ela passa a ter uma visão tubular e perde a referência do que se passa nas laterais do veículo. É como se estivesse no piloto automático”, ressalta.

Em muitos casos, diz o médico, o motorista não consegue nem mesmo se lembrar dos locais por onde dirigiu enquanto falava ao telefone. “Isso acontece porque o lobo frontal (parte do cérebro que gerencia as tomadas de decisões) só recebeu o que era mais importante naquele momento, ou seja, as informações ouvidas na ligação”.

A redução dos níveis de atenção acontece até mesmo com a simples mudança de estação no rádio do carro e, dependendo da velocidade, os estragos podem ser irreparáveis. Quem explica é o médico e membro da Associação Mineira de Medicina de Tráfego (Ammetra), Fábio Nascimento.

“A 60 km/h, o condutor que tira o foco do trânsito por dois segundos desloca 33 metros às cegas. Se ele se distrai no celular por oito segundos, que é o tempo médio para se ler uma mensagem na tela do smartphone, ele anda 133 metros”, calcula.


Flagrantes também em rodovias
Rotina nas áreas urbanas, cenas de motoristas usando celular ao volante se repetem nas estradas que cortam Minas Gerais. Levantamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) aponta que 3.635 pessoas foram multadas por esse motivo nas rodovias federais do Estado em 2017 – média de dez ocorrências por dia.

A corporação ressalta, no entanto, que em caso de acidente é praticamente impossível identificar se o condutor utilizava o telefone no momento da colisão. “Geralmente, ele não deixa pistas, a não ser que ocupantes dos outros veículos informem. E o próprio condutor nunca fala que estava no celular no momento do acidente”, explica o policial rodoviário Fábio Jardim.
 
SUBNOTIFICAÇÃO
Para o vice-presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME) e membro da Comissão de Transportes da entidade, Luiz Portela, os números podem estar abaixo da realidade, devido às dificuldades de se identificar os infratores.

Para ele, é difícil solucionar a questão no curto prazo, já que o problema passa por mudanças de comportamento dos motoristas e até mesmo mais evoluções tecnológi-cas. “Hoje, os veículos mais novos já vêm com o mecanismo de bluetooth (rede sem fio), que auxilia o uso do telefone para ligações. Como impedir essa tendência mundial?”, questiona.

Luiz Portela acredita que o ideal seria a tecnologia evoluir a ponto de permitir o uso do aparelho apenas com comandos de voz, bloqueando as outras funções que possam distrair os motoristas, como o envio de mensagens de texto.


 

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