Retratos da cidade

Projeto “Moradores” conta histórias de cidadãos que são patrimônios locais

Manoel Freitas
Montes Claros
02/08/2018 às 07:53.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:43
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

O cotidiano da cidade recontado pela memória afetiva de quem construiu aqui a vida, criou filhos, laços, carreira e momentos que ficarão para sempre. O projeto “Moradores” registrou histórias, depoimentos e retratos de vários habitantes de Montes Claros, anônimos e mestres do saber. O material gerou também um documentário curta-metragem e um varal fotográfico.

Os painéis com 12 retratos gigantes estão expostos na Praça da Matriz até 8 de agosto. São pessoas chamadas a se reconhecerem como patrimônio cultural da cidade e a contar sua história de afetividade com o município.

O projeto, que une fotografia, audiovisual, literatura e contação de histórias, foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como uma ação de sucesso em educação patrimonial.

Entre as muitas histórias sobre Montes Claros, relatos sobre os tempos dos tropeiros, as lendas das veredas, catopês e as Festas de Agosto, a construção e reparo de casarões e igrejas, a tradição da culinária nortista e a alma e filosofia catromana.

Uma das personagens do projeto, a escritora Amelina Chaves, de 87 anos, membro da Academia Montes-clarense de Letras, começou contando, com um largo sorriso, aquela julga ser sua maior história: o convívio com 15 filhos e, “na última contagem, 36 netos”.

Com 25 livros publicados, dois a serem lançados ainda esse ano, Amelina diz que “Moradores” é importante “porque a voz do povo é a voz de Deus”. Segundo ela, todo tempo é tempo para ouvir as histórias das pessoas, suas vivências. 

“Foi emocionante ver minha foto em grande formato. A gente que escreve, que gosta de convivência, conta muito um retrato em praça pública. Mas o retrato me deixou mais velha (risos). Mas penso ser essa a intenção do projeto, nos revelar com fidelidade”, relata a escritora, revelando que sua narrativa enfatizou ainda o convívio de 38 anos com o marido Almir Rodrigues Chaves. “Ferroviário, militar, um homem dedicado à família, aos filhos e netos que encheram nossa casa de tudo: cultura, estudo, amor, fartura, entrega”, fala emocionada Amelina, para quem “filhos e netos são prêmios que Deus nos dá”.

Um dos autores do projeto, o fotógrafo Bruno Magalhães, de 41 anos, explica que o trabalho começou há seis anos no Festival de Fotografia de Tiradentes. “A gente tinha uma crítica em relação ao fato de as pessoas participarem pouco do festival. Então tivemos a ideia de fazer esse movimento de valorização das pessoas como patrimônio, sobretudo porque Tiradentes é uma cidade histórica”, diz Bruno.

Ele lembra que daí surgiu o nome, a Humanidade do Patrimônio Histórico, fazendo uma analogia ao patrimônio da humanidade e a humanidade do patrimônio. 

Bruno Magalhães conta que o projeto ouviu, em seis anos, mais de 3 mil pessoas “que são o verdadeiro patrimônio das cidades”.

Em Montes Claros foram ouvidas 200 pessoas. “Foi incrível saber sobre os gerais, a história de cada um, do mestre Zanza à escritora Amelina Chaves, dois personagens importantes na história”.

O fotógrafo lembrou que “tudo começou em Montes Claros com uma tenda branca montada em praça pública, uma câmera apontada e um convite. Nesse instante, mais do que o ato de se deixar fotografar, o morador foi chamado a se reconhecer como patrimônio cultural de sua cidade e a contar sua história de afetividade com o território”.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por